𝙴𝚕𝚎𝚟𝚎𝚗

3.4K 451 287
                                    

Jungkook

Dias após o jantar à luz das velas — chegava a parecer até um jantar romântico — devido à falta de energia, voltei a sugerir a Taehyung que fosse ao 316 buscar alguns de seus pertences já que ele, praticamente, começava a morar em meu apartamento. Sinceramente, eu nem estava me dando conta; no início, era apenas para ele ficar em meu apartamento por alguns dias, para recuperar de todo o susto da última agressão, mas acabei por me habituar à sua companhia e, agora, não pretendia abrir mão dela. Não é como se eu realmente me importasse. Tinha que admitir, o sofá não era muito confortável, mas ter ciência de que logo ele melhoraria me deixava relaxado. Além do mais, eu acabava por passar as noites junto de si, acariciando suas madeixas enquanto escutava um suspiro baixo escapar pelos seus belos e doces lábios, indicando que o mesmo estava extremamente cansado.

Quando o homem aceitou visitar sua antiga moradia — o que me espantou, afinal, eu estava esperando que o mesmo recusasse minha proposta —, acabei por o acompanhar e percebi que, assim que entramos no 316, seu corpo ficou rígido e em alerta enquanto observava todos os cantos possíveis. Todo ele tremia, o medo o consumia, como se um monstro terrível fosse surgiu em algum sítio daquele apartamento a qualquer momento. Não o julgava, afinal, sabe-se lá quais foram as horríveis coisas que tinham se passado com o de cabelos negros atrás dessas paredes e por quanto tempo duraram. Mas o que mais me custou foi ver lágrimas se formarem no canto dos seus olhos bonitos, e acho que essa foi a máxima para eu decidir ir atrás de uma terapeuta.

Sim, eu compreendo que Taehyung pode se sentir assustado em se abrir com uma pessoa completamente estranha e entendo as razões para esse seu medo. Mas eu não aguentava mais o ver assim, todos os dias ele sofria com as lembranças dolorosas do tempo que passou naquele apartamento, e também não me agrada o conceito de manter essa ideia sua de ser inseguro e dependente o tempo inteiro. Eu parecia estar cuidando de uma criança — sendo que ele era mais velho — e não estou reclamando, sei que se deve por causa do trauma, mas ele precisa de ajuda para melhorar. E, querendo ou não, ele teria de ter ajuda profissional, já que não sou um médico ou algo do tipo e sei que Taehyung estava tanto com problemas físicos como psicológicos.

Demorei algum tempo — algum é exagerar, eu demorei dias — até achar uma boa clínica e uma terapeuta com boas indicações, já que nenhum de meus amigos necessitou de qualquer tipo de cuidados psicológicos e, como é lógico, isso não se trata de, simplesmente, fazer uma consulta. Quer dizer, Hoseok havia ido a uma terapia de casal, a pedido de Wheein, e ambos acabaram discutindo com a moça. Todavia, no fim, quem recebeu a terapia foi a própria médica, e seria uma história engraçada, mas, penso que agora não é momento.

Estava tão desesperado por uma solução rápida que até mesmo cogitei em ir perguntar para meus pais visto que, quando era mais jovem, eles resolveram me levar a um terapeuta para tratar de algo relacionado ao estresse elevado. No entanto, desisti assim que lembrei que talvez o médico já estivesse numa idade mais avançada e eu gostaria que fosse uma pessoa jovem, para além de que teria de ser uma mulher, para que Taehyung se sentisse verdadeiramente acolhido e não intimidado.

Ainda com as buscas de uma boa clínica, meu trabalho e cuidar de Taehyung, pelo qual eu me declarei responsável — já que nunca o vi falar de seus progenitores —, percebi que ainda existia um emaranhado de fios esquisitos, todos eles se enrolando e desenrolando dentro da minha cabeça, que eu não conseguia distinguir claramente, e que tinham apenas uma denominação: sentimentos. Após aquele beijo, por mais simples e inocente que fosse, eu ainda tinha as minhas dúvidas sobre o que realmente quero sobre Taehyung. O que eu quero dizer é que eu, realmente, sinto a necessidade de protegê-lo e respeitá-lo, mas há algo mais. Eu necessito de mais e gostaria de ir além.

Apartamento 316Onde as histórias ganham vida. Descobre agora