Capítulo 22 - As Rosas Vermelhas

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Teles Silva poderia ser a cidade onde Julia Sá iria fazer sua carreira. recém-formada em medicina veterinária, a jovem alta e morena chegou à cidade apenas com seu diploma e um porquinho-da-índia. Ali, na cidade, logo arrumou um espacinho para poder abrir seu consultório. E o lugar não poderia ter sido melhor: era no comercio circular.

Logo conseguira uma agenda boa de clientes, afinal, era a única veterinária na cidade e os moradores de Teles Silva, assim como gostam de flores, gostam de animais e prezam pela saúde de seus bichinhos de estimação.

Todo dia, alguém ia com um cachorrinho, ou um gatinho, ou algum pequeno pássaro para que a doutora Julia examinasse. Mas bichos um pouco mais excêntricos também apareciam: um jovem já apareceu com uma águia no consultório da doutora Sá.

— Você tem permissão e licença para criar uma águia? – a doutora perguntava para o jovem que estava aflito com a ave doente, que logo respondia que tinha todos os documentos necessários para a criação do animal.

Foi lá também um criador de cobra, uma criadora de um pato, outra que criava um grande porco rosado.

Mas, um dia, chegou uma menininha no consultório da doutora Julia. Trazia em suas mãos um animalzinho: uma ave.

— Doutora – a criança falou, — a senhora podia curar meu bichinho. Ele ta muito triste, não come, fica o dia todo quietinho.

A doutora Julia se aproximou dela e respondeu:

— Claro que cuido do seu bichinho. O que você tem aí?

— Um Twitter.

— Um Twitter? – a doutora falou confusa.

— Sim, olha.

A criança levou as mãos para mais perto da doutora e a abriu, mostrando o que trazia: era um pequeno pássaro azulado. Na hora a doutora já reconhecera que era um pássaro da especial salia.

— Ora – Julia falou, pegando a pequena ave, — vamos curar seu Twitter então.

De todos esses casos, Julia trabalhava feliz, a cidade a acolheu com carinho, entusiasmo. Ela era respeitada, querida. E, claro, conheceu Juca Aomi. Não poderia ser diferente disso.

Um dia, Juca ganhou um cachorrinho de seu pai, logo depois que a mão Aomi saiu de casa. Era a solução que o pai Aomi viu de fazer com que o jovem Juca não ficasse tão mal, precisava de uma companhia e o deu um cachorro todo pretinho, com pelos baixos, focinho longo, uma raça mediana.

— Dê um nome a ele, Juca – falou a avó sorrindo feliz vendo o filhote na noite em que o filhote chegou com o pai.

Juca pensou um pouco e logo em seguida falou:

— Quero que ele se chame João Gilberto.

O motivo da escolha do nome não foi questionado, logo todos estavam a chamar o cachorrinho de João Gilberto.

Mas João Gilberto estava com vermes, a barriga enorme, vomitando, com diarréia. Juca teve que levar pra doutora Julia consultar o bichinho. E Juca foi até o consultório da doutora Sá com o filhote na mão, ouviu um sininho badalar assim que abriu a porta e uma jovem morena e alta aparecer na parte da recepção. De todas as rosas vermelhas que Juca já vira na floricultura, era possível ver na moça que se aproximava dele, como uma chuva das suas pétalas vermelhas, ela, a doutora Sá, era a representação delas, das rosas vermelhas.

Juca entregou o filhotinho doente para ela examinar e logo sabia que o bichinho estava em boas mãos. Sabia que o João Gilberto podia sentir isso também, se é que ele não sentia os cheiros todos das rosas. Quase uma hora depois, Julia volta com o filhote.

— Ele vai ficar bem – ela falou. – É coisa de filhote. Fiz essa receita de remédios que você vai ter que comprar pra ele se recuperar logo.

Juca pegou o filhote e só conseguiu balançar a cabeça positivamente. Não conseguiu falar nada. Ficou ali parado com João Gilberto nos braços.

— Posso te ajudar em mais alguma coisa? – Julia perguntou sorrindo.

— Ah... – Juca falou, gaguejando. E balançou a cabeça negativamente. – Obrigado! Fico feliz que o cachorrinho vai ficar bem.

— Qualquer coisa, volte. Espero que esse bebezinho fique bem logo.

Juca saiu do consultório. Estava feliz por João Gilberto. Comprou os medicamentos receitados. Mas não conseguia tirar a imagem de Julia da cabeça. Lembrou de tudo o que já havia passado com aqueles momentos. Não fazia muito tempo desde que sentiu—se assim, mas não tinha medo da mesma sensação, se senti—la de novo, mesmo sabendo de possíveis consequencias ruins, como a mais recente. Tentou tirar da mente esse momento negativo e focar em um que possa ver bom. E pensou que com a doutora Julia poderia ser bom sentir aquilo.

Juca sentia—se satisfeito apenas com o sentimento alimentando, não precisava viver o que dele pode ter. por isso, quase todos seus amores era assim, apenas sentimental, quase nunca real, quase nunca com toque, com momentos, e, se momentos tivesse, eram em seus pensamentos, no que sentia, no embrulhar do estômago cada vez que lembrava do que sentia. Era isso que o alimentava. Acostumou-se assim. Por isso a necessidade de um amor e um relacionamento real não lhe era motivo de falta. Talvez tenha tentado duas ou três vezes, se uma foi boa, tudo bem, mas sabia que uma dessas experiências foi péssima e queria esquecer tudo o que passou com ela, mesmo sendo tão recente.

As rosas vermelhas, ele pensou, sim as rosas vermelhas.

De imediato ele soube que aquelas flores eram as que melhor representavam a veterinária Julia Sá. Iria fazer das rosas vermelhas sua melhor homenagem na floricultura.


Todas as Paixões de Juca AomiWhere stories live. Discover now