Capítulo 15 - Quando Morrem as Flores

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Juca não sabe ao certo como chegou em casa ou se seu pai ou sua avó falaram alguma coisa, acontece que ele foi direto pro quarto e ali ficou trancado. Naquele dia, não saiu nem para jantar.

Ir embora? Ela vai embora. Juca estava arrasado, era tudo o que ele queria saber naquele dia era que a vendedora dos doces ia embora da cidade. Ela era tão bela, tão meiga, Juca ficava pensando. Desde que a vira nutria por ela sentimentos esses já conhecidos por ele, e ele gostava de ficar apreciando sua beleza na barraquinha de doces nos finais de semana. E agora? E agora que ela vai pra outra cidade e eu não vou mais poder vê—la?

Aqueles momentos mal tratavam tanto Juca, ele sofria em silêncio, sozinho. Se sentia dilacerado. Nunca se sentira bobo por sofrer por algo que não se concretizava, mas sofria.

No dia seguinte, domingo, seu pai bate a porta de seu quarto.

— Está vivo, moleque? – ele falava alto. – Vamos sua avó está esperando pra almoçar.

Mesmo sem nenhum apetite, Juca desceu para e sentou—se a mesa para almoçar com a família.

— E essa carinha – falou a avó. – O que houve, Juquinha?

Juca apenas balançou a cabeça negativamente. Não estava com apetite nem com vontade de conversar com ninguém de casa.

— Isso aí é falta de uma namorada pra passar o final de semana – o pai falava.

Juca o encarou sério. O pai não tinha nenhuma empatia com nenhum sentimento de ninguém. Juca nunca contou do que sentia ou das vontade para nenhum dos dois ali, e não sentia essa vontade nem sentia a falta disso para com seu pai e com sua avó. Ele mexeu um pouco mais na comida do prato, se deu duas garfadas na refeição foi muito. Logo se levantou da mesa e voltou para o quarto, que deixou todo o dia com as cortinas fechadas.

No dia seguinte, chegara mais cedo na floricultura. Seu pai ainda nem tinha aberto a loja, mas ele não estranhou, afinal, o filho Juca, às vezes, costumava chegar mais cedo para preparar os arranjos ou fazer alguma outra tarefa antes da loja abrir.

Juca nada disse, sequer deu bom dia ao pai que já estava arrastando botes gigantescos de plantas.

— Bom dia pra você também – falou o pai, que não se importava com a falta de cordialidade do filho, ele era assim mesmo, já aceitara o pai, às vezes passava dias sem ao menos soltar um sorrisinho. – Moleque estranho.

Juca entrou no deposito de materiais e reservas de flores. Era ali que ficava o estoque das plantas, era ali que se preparavam os buquês, os vasos. Lá, ele olhou tudo em volta, era um pouco bagunçado tudo ali, tinha terra em toda parte, além de folhas, pedaços de plantas e flores murchas. Juca foi à prateleira de buquês e vasos prontos.

Aproximou-se de uns arranjos com flores amarelas: eram buquês de frésias amarelas. Juca pegou um buquê na mão, olhou com cuidado. Há algumas semanas ele havia criado aquela combinação de frésias com alguns ramos e folhas. A loja começara a vender e vendeu bem. Era mais uma criação de sucesso de Juca.

Mas ele olhou o buquê em sua mão e o jogou com violência no chão. Depois pisou e esmagou cada flor amarelada do buquê. Pegou outro ramalhete de frésias e fez o mesmo, jogou no chão e amassou com o pé. E fez isso com mais outros seis buquês.

Depois foi para frente da loja. Na janela que fazia vitrine havia três buquês de frésias amarelas. Juca correu para a vitrine, pegou os ramalhetes e os destruiu com as mãos.

— O que é isso, menino – o senhor Antônio correu para junto dele gritando. – Ficou louco, foi? Está destruindo as florzinhas.

Mas Juca não deu atenção ao pai. Não queria mais ver aquela combinação de frésias na sua frente nem na floricultura. Tê-las por perto é se mal tratar e isso não queria.

— Me fala – o pai retornou a falar segurando o ombro do filho. – O que você está fazendo?

Mas junca ficou novamente calado, respirando rápido e forte. Virou o rosto para não poder encarar o pai, mas ficou ali vendo as flores frésias destruídas no chão.

— Juca – o pai falou, demonstrando leve irritação, — há algumas semanas você criou esse buquê e, desde então, está vendendo muito bem.

— Eu não quero mais que esse buquê seja vendido – Juca, enfim, falou, mas ainda sem conseguir olhar diretamente no olho do pai.

— Tudo bem – falou o senhor Antonio, soltando o ombro do filho. – Só não precisava destruir as plantinhas assim. Podíamos desfazer os ramalhetes e usar as flores em outra coisa.

Juca sabia que essa seria a solução mais racional. Mas destruir aquelas combinações era algo que o faria bem.

O senhor Antonio saiu, não queria ficar irritado logo no primeiro horário do dia com as loucuras do filho. Foi fazer coisas mais importantes.

Juca ficou por um tempo vendo, novamente, as flores destruídas no chão. Há algumas semanas, quando criou aquela combinação, batizou o buquê de "Evelyn".

Sim, "Evelyn", para homenagear a vendedora de doces. Para Juca, aquelas frésias amarelas eram como a vendedora. E ele criou o buquê. Mas Evelyn, a vendedora, iria embora da cidade. Iria abandoná—lo, mesmo sem nunca tê—lo. Não faria sentido ter as flores sendo vendidas. Aquilo faria com que ele ficasse sempre se lembrando da vendedora, e isso não queria. Seria melhor se livrar de tudo aquilo.

*****

Mais tarde, quando a floricultura já estava aberta, Juca não deu uma palavra. Seu pai não o queria questionar sobre mais cedo, achava melhor o filho ficar tranqüilo. Mas, quando já se passava de meio dia, Juca viu Evelyn entrar na loja.

— Olá – disse a vendedora sorrindo em direção a Juca. – Como prometido, vim me despedir de você.

Juca a encarou sério, apenas balançou positivamente a cabeça.

— Vou levar algumas flores – Evelyn falou. – O que você me indica?

Juca poderia indicar o buquê com as frésias amarelas, que levava o nome dela, mas Evelyn nunca chegou a saber que aquilo existiu... e agora não existe mais.

— Girassóis – Juca respondeu ainda bem sério – Leve girassóis.

Evely sorriu, feliz com a indicação. Pegou as flores, deu um beijo no rosto de Juca e foi embora. Daquele dia em diante, Juca não mais a viu, nem mesmo nos finais de semana na sua barraquinha vendendo doces.


Todas as Paixões de Juca AomiWhere stories live. Discover now