Capítulo 12 - A Casa da Família Aomi

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A família Aomi há muito não é uma tradicional família. Não que antes não fora. Depois da morte do avô da família e a floricultura "Flores Que Amamos" passou aos comandos do senhor Antonio, o mesmo viu a família ir se desmantelando aos poucos. Claro que ele culpava o trabalho por isso.

- Vivo trabalho 24 horas por dia – ele gritava. – Não tenho tempo pra família mesmo e vocês não conseguem se organizar?

Hoje, na casa da família, moravam apenas o pai Antonio, Juca e sua avó Edileuza. O senhor Antonio não teve mais filhos, apenas Juca. A mãe de Juca fora embora de casa e passou a morar com o pai dela em outro país. O motivo de deixar a família era algo que nem Juca nem o senhor Antonio queriam falar. Ambos não tocavam no assunto nem por tortura. Fingiam que nada aconteceu e fizeram todos os esforços para que, qualquer memória da mãe fosse apagada da casa. Não tinha um retrato dela, se a mãe tinha levado pra casa alguma decoração, hoje ela não mais existia. Qualquer vestígio de lembrança da mãe fora apagado e destruído sem remorso algum. Agora, o senhor Antonio e Juca vivem como se a mãe nunca existira e não mantém mais contato com ela.

Mas, depois da tempestade vem a calmaria e a família Aomi, depois da morte do avô e da ida da mãe, passaram a ter momentos mais sossegados. Não havia mais grandes desentendimentos entre os três que ficaram. O Juca porque era calado e não se importava mais com as trocas de farpas e indiretas do pai, e avó porque ainda conseguia manter o respeito por ser a mais velha.

Às vezes, ficavam o pai e a avó discutindo algo e Juca apenas ouvindo.

- A senhora não sabe de nada – tentava manter a calma o senhor Antonio, não queria gritar com a mãe dele.

- Se tem uma coisa que eu sei é das coisas, seu mal criado – retrucava a avó, com o mais alto tom de voz que conseguia fazer.

- Eu passo o dia todo naquela floricultura e chego aqui pra ficar ouvindo besteira?

- Besteira eu deveria ter falando no seu ouvindo quando ainda era moço. Agora ta aí esse velho burro e mal criado. Onde já se viu gritar com a própria mãe.

- Mas eu não estou gritando com a senhora.

- Está agora.

E ambos ficavam em silêncio, mas por breves minutos.

- No dia que eu morrer, vai sentir minha falta – começava a falar a avó.

Mas eram discussões passageiras, sem importância ou violência. Juca nunca se intrometia nisso.

O senhor Antonio saía de casa muito cedo, antes das 6 horas da manhã, para preparar a floricultura e receber encomendas de fornecedores. Juca saía mais tarde e entrava às 9 horas na loja. Mas ambos voltavam juntos para casa. Sempre na hora da janta. Uma moça ia fazer as tarefas domestica na casa, uma vez que a avó estava com a mobilidade reduzida e vivia em uma cadeira de rodas. A moça também ajudava a preparar as refeições, mas claro, sob comando da avó que, mesmo limitada a uma cadeira de rodas insistia em cozinhar.

A casa dos Aomi era toda feita de tijolinhos. Os moveis eram todos de madeira. Na parte de baixo ficava a sala de estar, a cozinha e um quintal não muito grande, mas que tinha uma pequena horta da vovó, além de um quarto improvisado para a avó, já que não conseguia mais subir escadas. No andar de cima ficava o quarto de Juca com um banheiro e um escritório nunca usado, antes, ali, era o quarto da vovó, que, quando se mudou para o térreo o senhor Antonio inventou de fazer um escritório no lugar do quarto, apenas para inflar seu ego, mas nunca chegou a usar de fato o local. No terceiro andar ficava o quarto do casal Aomi, que agora era apenas do senhor Antonio. Um grande e espaçoso quarto, com uma varanda completa. Mesmo sendo donos da maior loja da cidade, os Aomi não moravam na maior e mais cara casa, muito pelo contrario, era uma das casas mais modesta da cidade.

As jantas na casa eram quase sempre silenciosas, quando muito apenas com o senhor Antonio a reclamar que o movimento na loja foi ruim, ou que alguma vendedora havia quebrado algum vaso ou até mesmo da falta de simpatia de Juca durante todo o dia. Vez ou outra ele também se gabava dos lucros que obteve no dia ou alguma vantagem com algum fornecedor. Mas Juca raramente falava algo na mesa. Sentia que não tinha nada o que falar com o pai ou com a avó.

- Esse menino devia ter nascido mudo – falava a avó, irritada com o silencio do neto.

Mas Juca aprendera a não ser atingido pelas provocações que vinha da família. Assim que acabava de jantar, corria para seu quarto, ao menos lá podia ter a certeza que seu silencio não incomodaria ninguém, que podia ficar em silencio consigo mesmo. Ele não odiava a família, ao contrário, tinha um carinho e admiração grande pelo pai, tudo que aprendeu foi por causa dele, enquanto a avó, a amava também, sentia, às vezes, um pouco de falta de um carinho de avó maior, aqueles que mimam o netinho e dá toda atenção, mas ele sabia que, uma parcela de culpa pela falta de carinho por parte da avó para com ele, vinha dele também, começara a se afastar das caricias da avó ainda criança e depois de jovem nunca mais conseguiu trocar um abraço sequer com ela.

Um dia, estava à tarde em casa. Naquele dia fora levar a avó no médico e ficou em casa o restante do dia. O pai não se preocupava quando Juca fazia isso. Juca sabia das suas responsabilidades com a floricultura, mas o pai o deixava viver.

Naquele dia, estava em seu quarto, a avó descansava em seu quarto depois de uma longa consulta no consultório medico. Juca notou uma movimentação atípica na rua. Afastou, discretamente a cortinha da sua janela e espiou lá fora o que poderia estar acontecendo. Apenas uma parte do seu rosto estava a amostra. Viu uma moça pequena, de cabelos curtos chegando na casa que era da senhora Lurdes, que morrera recentemente. Juca ficou olhando para a jovem recém-chegada. Não desgrudou um segundo o olhar dela. Até que foi descoberto; a jovem o vira espionando pela janela do quarto. Ele imediatamente fechou a cortina. Ali, no escuro do quarto, Juca sentou-se no chão. O a respiração estava ofegante e o coração batendo acelerado.

Devia ser a nova vizinha. Naquela casa sempre morou a senhora Lurdes, desde que era criança lembrava da senhora Lurdes que dava doces a todas crianças da rua. Agora, com sua morte, provável que aquela moça vá morar lá.

Juca sentiu o coração bater ainda mais forte. A única coisa que sentia era vontade de ver e espiar a moça um segundo a mais, apenas um segundinho era o que precisava para ficar mais feliz. Ele olhou a cortinha na janela, não teve forças para afastá-la novamente para poder tentar espiar um momento mais a moça de cabelos curtos, a sua nova vizinha.




Todas as Paixões de Juca AomiWhere stories live. Discover now