Capítulo 49 - Todas as Paixões...

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Alguns dias depois, já com a família em harmonia tranquila, bem conversados, Juca chegou à floricultura "Flores Que Amo". Assim que abriu a porta, ficou paralisado ali mesmo, na entrada. Arregalou os olhos e olhava para todos os cantos.

Para todos os lados que Juca olhava estavam rodeados de uma única espécie de flores: as agapantos.

Estavam nas vitrines principais, nos vasos pequenos e nos grandes, nos buquês, nas combinações de cestas. Era um paraíso azulado pelas flores.

Juca ficou boquiaberto. Balançou e coçou a cabeça, tentando buscar nas memórias recentes se ele havia pensando em agapantos. Mas, sabia ele, não tinha. Então, como o porquê elas foram parar em toda a loja?

Era claro que Juca estava confuso, para ele, aquilo era uma regra única: para cada paixão, uma espécie de flor. Foi o que fez por toda a vida. Sentindo-se um bobo, espremeu as memórias achando que tinha esquecido alguma paixão recente, mas logo ele tirava essas idéias sem lógica da cabeça. Ora, nunca esqueceria uma paixão, caso isso acontecesse, deveria preocupar-se.

Ele correu para o balcão, onde estava seu pai.

— Foi o senhor quem fez isso? na loja? – ele perguntou ofegante.

— Mas é claro – o pai respondeu, sem parar de fazer o trabalho que estava a fazendo. – Quem mais poderia?

— Por que? Para quem? É pela mamãe?

— Sua mãe tem cara de agapantos? Acho que não, Juca.

Juca ficou em silêncio, esperando o pai continuar, estava visivelmente impaciente.

— Tudo bem – o senhor Antônio falou. – Foi um pedido. Eu gostei da idéia e fiz.

— Pedido? Pai, fala logo, que coisa. Vai ficar falando por capítulos.

— Me respeita, menino. E procura trabalhar essa sua ansiedade.

Vendo que, Juca não sairia da sua frente e ficaria ali em silêncio até ele falar, o senhor Antônio disse:

— Foi a Ana, ok? Um pedido dela. Ela veio falar comigo uns dias atrás, me propôs de eu decorar a loja com agapantos. Eu gostei da idéia, e fiz. Como você sempre faz, achei que poderia tentar. Ficou bom não ficou?

— Ana!? – Juca falou alto, nem deu atenção para a pergunta do pai sobre o seu trabalho ter ficado bom.

Mas o senhor Antônio apenas levantou uma das sobrancelhas debochado e saiu.

*****

Algumas horas depois, o senhor Antônio voltou para o balcão e encontrou Juca exatamente no mesmo lugar que o deixou há um tempo atrás.

— Você ainda está aqui? E assim? – disse o senhor Antônio. – O que está esperando? Vai lá com ela, sabe onde ela mora, não é?

Juca olhou para o pai, que fez um gesto com a mão para ele ir embora. Juca não pensou duas vezes e, sem nada falar, saiu apressado pela porta da floricultura.

O senhor Antônio começou a rir sozinho e olhou para os lados vendo uma das vendedoras o encarando.

— O que foi? – ele perguntou – O doido aqui são vocês, jovens. – e gargalhou de novo.

Juca andava a passos largos, em pouco tempo chegou à rua 5. Estava na porta da casa de Ana, mas não teve coragem de bater para ser atendido. Suspirou fundo, deu meia volta e foi pra casa.

Subiu correndo as escadas internas e foi direto ao seu quarto, abriu a janela e ali ficou, a olhar a varanda da casa à frente, igual quando tudo começou. Mas Ana não apareceu durante todo o dia.

Até a noite chegar e ele ouvir seu pai chegar do trabalho para a janta. Naquele dia, ele não desceu para jantar, o senhor Antônio até achou que ele estivesse na casa de Ana. Mas Juca, desde mais cedo, estava pendurado em sua janela, a olhar em direção a varanda de Ana.

E só foi bem tarde da noite que ele viu a cortinha da varanda ser jogada para o lado e Ana aparecer. Ele se levantou de um sobressalto, quase a perder o equilíbrio na janela.

Ana acenou para ele com um aceno de mão, estava com sua tradicional caneca na outra mão e Juca não soube se era chá ou vodka. E ele ficou ali em sua janela encarando Ana em sua varanda, por muito tempo, como sempre fez.

Mas, no dia seguinte, Juca foi trabalhar como de costume. Entrar na loja cercada de agapantos lhe era estranho, não acostumara com a idéia, mas não chegava a incomodar-se com tudo aquilo. Naquele dia, nada falou com o pai.

Depois da janta, finalmente teve a coragem que precisava e foi até a casa de Ana, bateu três vezes na porta e ela logo apareceu para recepcioná-lo.

— Oi! – ela falou sorrindo na entrada da casa.

— Oi! – Juca respondeu entrando.

— Como você tem passado? – Ana perguntou, indo direto pra cozinha. – Hoje temos chá. Nada de vodka.

Pouco importava para Juca também. Enquanto ele via Ana preparar a bebida, ele disse:

— Agapantos?

Ana virou para Juca na hora. Ficou levemente corada, depois voltou para o que estava a fazer.

— São belas, não é?

— Ana, você não precisa falar nada sobre. É direito teu. Isso não mudará nada.

Ana riu, de costas para Juca. Não era intenção dela provocá-lo ou fazer joguinhos sentimentais ou até mesmo de ciúmes.

— Gostei da iniciativa – Juca falou.

— A iniciativa é sua – Ana respondeu. – Eu só copiei a tendência.

— Fico feliz por ser fonte de inspiração.

Ana levou até a mesa duas canecas. Juca provou: era chá dessa vez.

Ele encarava Ana sem piscar, com um semblante sereno e respeitoso. Depois de dar mais um gole em seu chá, ele deixou a caneca na mesa, se levantou, se aproximou de Ana e a beijou na boca. Depois do beijo, disse:

— Gosto muito de você. Obrigado!

Ana não sabia ao certo como responder o agradecimento de Juca. Obrigado? Pelo que exatamente?

— Eu também gosto muito de você, Juca. Obrigado?

Juca sorriu para ela. Naquele momento, era ele reafirmando que ela não se preocupasse, ele tinha entendido a mensagem das flores agapanto, ele tinha entendido o motivo delas estarem lá. Era um sinal claro de Ana para falar que estava falando a linguagem de Juca, da mesma forma.

Juca se pegou questionando apenas como ele conviveria com aquilo, até aquele momento, nunca precisou pensar nisso, afinal, nunca acontecera antes. Mas, naquele momento, o sentimento de Juca era de paz, segurança e compreensão.

— Eu tenho uma coisa pra te dar – Ana falou se levantando, empolgada indo para a sala.

Depois de poucos tempo, ela volta. Em suas mãos, tinha um buquê de flores.

— Tome! – ela falou – Estas são tuas.

Juca pegou o buquê, mirou as flores que ali tinham. Ele sorriu novamente para ela e a beijou.

— São lindas, Ana – ele falou olhando para o buquê de novo.

— São flores amores-perfeitos – Ana disse. – De várias cores. Como são todas suas paixões.

FIM


*****

Oi, queridos leitores. Chegamos ao fim do nosso romance. Espero que tenham gostado. Fico tão feliz que tenham chegado até aqui. Meus mais sinceros agradecimentos. Nos vemos nos próximos livros. :D

*****


Todas as Paixões de Juca Aomiحيث تعيش القصص. اكتشف الآن