Capítulo 4

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HampelleVille, - junho de 2018.

Hoje é o dia que eu vou almoçar com a família do Max.

Termino de passar o rímel e olho minha aparência no espelho. Estou com uma calça preta, uma camisa cinza, um blazer cor-de-salmão por cima e nos pés eu coloquei botas ugg.

Continuo me encarando no espelho.

Eu pareço um pouco mais descansada, embora as olheiras ainda sejam bem visíveis.
Nessa última semana que passou, não consegui dormir dois ou três dias.
Aquele dia ainda me assombra e pra piorar tudo, me faz perder o sono.

- Porra Peter, por que você simplesmente não para de ser egoísta e pensa em mim e na tia Margot? Nos importamos com você, mas você foge como uma criança assustada, Peter. - Falei e ele gargalhou, parecia atormentado. E eu sabia que um de seus demônios o incomoda agora.

- Por que você não para de se meter na vida alheia, Medeleine? - Ele perguntou e puxou o cabelo com as duas mãos.

Peter está atormentado.

- VOCÊ TEM QUE PARAR DE SE METER NA MINHA VIDA, MED. EU NÃO QUERO TE PUXAR PRA MINHA MERDA, EU NÃO QUERO VOCÊ AQUI COMIGO. ME DEIXA EM PAZ, PORRA. ME DEIXA EM PAZ. - Ele gritou e começou a chorar. Eu odeio o ver assim. Quebrado, sem esperança. Peter está se entregando e eu não quero isso. Eu preciso dele. - Dá o fora daqui, Medeleine. Agora. - Disse com voz mais calma, parece arrependido por gritar comigo, já que nunca o fez antes.

Não importa o que acontecer, nunca gritamos um com o outro. Não importa nossas brigas.

- Eu não vou, Peter. Sou sua melhor amiga, eu quero ajudar você. - Ele me olhou, descrente. Como se não acreditasse que eu continuaria ali, mesmo depois de gritar comigo.

- Eu não tenho solução, Medeleine. Eu estou perdido, não tem mais volta. Acabou pra mim. - Comecei a chorar com ele. Me aproximei em passos lentos, e tentei abraçá-lo, mas ele não deixou. Apenas se afastou ainda mais.

- Por favor, Peter. Me deixa te ajudar! - Quase implorei. Minha voz ridiculamente aguda denuncia o quão desesperada estou. Tudo que eu quero é levá-lo daqui e o proteger do mundo.

- JÁ DISSE QUE VOCÊ NÃO TEM NADA A VER COM ISSO, MEDELEINE. NÃO SE ENVOLVA NA PORRA DOS MEUS PROBLEMAS. - Gritou outra vez. Porra, eu não acredito que ele vai fazer isso comigo outra vez.

- NÃO ME ENVOLVER? QUAL É, PETER? VOCÊ É MEU MELHOR AMIGO, ENTÃO É ÓBVIO QUE EU VOU ME ENVOLVER. - Me alterei também, mesmo sabendo que não devia. Tudo que eu preciso no momento é ficar calma, mas porra, é quase impossível me sentir calma nesse momento.

- VOCÊ. NÃO. TEM. NADA. A. VER. COM. ISSO. MEDELEINE. - Ele disse, pausadamente. O olhei e dessa vez, eu que estou descrente.

Continuamos brigando e gritando. Machucando um ao outro, como se fôssemos irracionais. Esse dia me quebra tanto, me machuca tanto. Eu odeio ter que me lembrar dele.

E por mais que eu não queira, por mais qe eu sofra, minha mente traiçoeira insiste em me fazer lembrar.

- Quer saber? Vai se foder, tá legal? Eu cansei de tentar ajudar um ingrato, mimadinho de merda.- Explodi, já não aguentando mais ser a única a lutar. A correr atrás de alguém às cegas. Lutar, lutar e lutar e não ter retorno. - Eu odeio você. - Disse, sendo essa a maior mentira da minha vida. Conti um soluço e dei as costas pra ele. Entrei no carro e o encarei, num silencioso pedido de desculpas, com um olhar que dizia que eu o amava, mas que estava cansada. Ele conhece esse olhar, tão bem quanto eu.

BROKEN | sem revisãoWhere stories live. Discover now