Capítulo treze

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— Olha o que a Aída me ajudou a fazer! Pipoca doce! – Mia cantarolou enquanto sentava-se ao lado de seu pai, que estava bastante concentrado no que fazia em seu notebook. — Agora podemos passar nossa tarde de Sábado vendo ótimos filmes juntos! – abriu um enorme sorriso pegando o controle que estava em cima da mesinha de centro.

— Pipoca doce Mia? Por acaso você quer engordar com essas porcarias? – Domenico perguntou sem tirar os olhos do que fazia.

— Papai, por favor... – a loira riu fraco. — Eu tenho uma alimentação bastante equilibrada e é raro as vezes que eu abro exceção para comer doces. Uma pipoca de vez em quando não mata ninguém. – pareceu desapontada ao falar aquilo.

— Minha querida... – o homem suspirou pesado e encarou sua filha por cima de seu óculos de grau. — Mesmo assim pipoca engorda. O que as pessoas dirão se virem que Mia Moretti engordou alguns quilinhos? Isso não fará bem para a sua imagem, muito menos, para a sua carreira. Onde já viu gorda ser modelo? – riu voltando seu olhar para a pequena tela a sua frente.

— Não diga isso papai. Existem muitas modelos famosas plus size e muito bonitas, por sinal. O peso não significa nada quando você tem talento.

Ser gorda não é estar nos padrões. – Domenico riu olhando novamente para Mia que, dessa vez, engoliu em seco e desviou o olhar para o chão. — Mia, você é uma Moretti. Precisa ser melhor que todos e a modelo mais bonita desse país. – fez carinho no rosto da menina.

Mia nunca quis "estar nos padrões"; nunca quis ser "melhor que todos", muito menos queria ser modelo. Ela só queria a companhia de seu pai, que ele prestasse atenção nela e que, ao menos eles pudessem ter um momento pai e filha. Ela só fazia aquilo para ter a atenção dele, mas, não importava o quanto ela se esforçava, seu pai nunca a dava atenção.

Desde pequena Mia sempre foi criada por seus empregados e colocada em concursos de beleza pelo seu pai, para que ela se ocupasse com algo e ele não fosse obrigado a tomar conta dela, ou ser questionado sobre como sua mãe era. Domenico não culpava Mia pela morte de sua esposa; ele sabia que não era culpa da garota sua esposa ter morrido durante o parto. Foi um parto complicado e Mareta não resistiu, infelizmente. Porém Domenico não sabia como ser um pai sem uma mãe e ao menos tentou, apenas entregou sua filha aos cuidados de seus empregados. Conforme Mia ia crescendo, ela se perguntava o porquê não tinha mãe como as outras crianças e, para fugir desses assuntos, Domenico achou melhor ocupar sua cabeça com outras coisas. Foi assim que, desde aos seis anos, Mia começou a participar de concursos de beleza e seu pai começou a cobrar mais e mais dela. A loira tinha que ser perfeita, impecável, uma boneca de porcelana. E quanto mais cobranças fazia, mais ausente ele se tornava em sua vida enquanto Mia só se empenhava para se tornar a melhor em tudo, apenas por um minuto da atenção de seu pai.

Ela já estava cansada daquilo. Não queria ser modelo e tampouco melhor que os outros. Ela só queria ser quem ela queria ser: mostrar seus medos e inseguranças como todos e ser uma psicóloga, mas... Não podia. Ela tinha que ser perfeita pelo seu pai; tinha que ser a modelo bonita e impecável, e mesmo que aquilo a desgastasse, ela não podia demonstrar. Havia agora em sua vida duas coisas que Moretti tanto queria, mas não podia ter: o afeto de seu pai e o amor de Dylan.

— Olha, por que você não chama suas amigas para passarem a tarde com você? Eu preciso resolver umas coisas de última hora. Ou você pode chamar o Harold para ver algum filme, o que acha? – Domenico chamou sua atenção enquanto se levantava.

— É. Pode ser. – torceu a boca tristemente, ainda abraçada a tigela de pipoca.

— Eu te amo filha. E já sabe: sem pipoca. – afagou a cabeça da garota antes de sair da sala.

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