Capítulo 46 - Ian

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— Allison...

— Eu não tinha a menor pretensão disso, sabe? – falou – E agora, eu estou aqui, grávida, com todas essas possibilidades...

— Você não imagina como é... – suspirou parecendo chateada – Perder uma filha.

— Acho que eu tenho alguma ideia... – falei com um sorriso triste.

— Sabe, fiquei todo aquele tempo imaginando, esperando, querendo conhecer a minha filha. – ela voltou a falar, seu olhar estava distante – E tava tudo bem. Tudo normal. Todos os exames estavam limpos e eu não tinha com o que me preocupar. – contou – E mesmo assim, a minha filha morreu. – ela me deu um sorriso triste – Sem mais nem menos, do nada. Um belo dia eu me senti mal, entrei em uma sala de parto, mas saí de lá sem a minha bebê. – ela encolheu os ombros piscando com frequência, tentando se impedir de chorar – E eu não consigo não me sentir responsável. É como se a culpa fosse minha, de alguma forma. Se eu tivesse feito algo diferente, se eu tivesse ligado pra Lílian... Sei lá, se eu tivesse feito alguma coisa, talvez ela estivesse aqui.

— Ei, para com isso... – falei me aproximando dela mais uma vez e segurando suas duas mãos – Allison, você não tem culpa de nada. Você mesma me falou que a sua médica disse que fizeram todo o possível.

— Eu sei, mas não consigo me livrar do sentimento! – ela falou apertando minhas mãos – É como se fosse um fantasma que me assombra.

— Eu sei como se sente – falei acariciando suas mãos com meus polegares, tentando acalmá-la. – Sei que a gente fica se torturando com ideias de como poderia ter sido, se agíssemos de outra forma, mas isso está muito além do nosso controle, Allison.

Ela também sabia que eu me sentia responsável pelo desaparecimento da minha filha. Já tinha conversado com ela inúmeras vezes a respeito de como eu me responsabilizava por não estar lá quando tudo aconteceu.

— Mas mesmo assim, saber disso não impede que esse sentimento apareça.

— Não. – concordei – Nós não sabemos o que vai acontecer e isso é assustador, eu sei.

— Tanta coisa pode acontecer, Ian. – falou com a voz trêmula e eu sorri.

— O que eu sei, é que eu amo tanto esse bebê, mesmo que, de acordo com o site, ele ainda seja do tamanho de...

Estalei os dedos, tentando lembrar o que o site usou como comparativo.

— Uma ameixa grande! – completou Allison, com uma risada fraca.

Eu ri e apontei pra ela, confirmando sua resposta.

— Isso! – falei com empolgação – Desculpa, depois da couve de Bruxelas ficou difícil guardar os outros.

Ela riu outra vez, me olhando com carinho. Seus olhos estavam um pouco avermelhados e úmidos, então me permiti passar o polegar em seu rosto, secando as poucas lágrimas que caíram e lhe ofereci um sorriso

— Couve de Bruxelas foi realmente insuperável. – Allison riu

— Embora o nosso bebê pareça estar um pouco maior que uma ameixa. – observei.

Achei que ela fosse dizer que eu estava chamando-a de gorda, mas, ao contrário do que eu previ, ela parecia surpresa e empolgada por eu ter notado algo.

— Não é? – perguntou um pouco chocada – Na próxima consulta vou perguntar sobre isso. Estou me achando maior do que eu me lembrava de ter ficado, com treze semanas.

— Talvez seja só a nossa ansiedade. – dei de ombros – De qualquer forma, quero que prometa que vai parar de se torturar assim. Estamos bem, o nosso bebê está bem e daqui a algumas semanas, vamos conhecê-lo.

Destinos Cruzados || Henry CavillWhere stories live. Discover now