Capítulo 21 - Helena

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Março de 2010

As últimas semanas já se aproximavam e, nesse instante, eu me encontrava de pé, encarando a janela do quarto, todo pintado em tons suaves de rosa e branco e perfeitamente decorado, esperando apenas a chegada da pequena Clarice, em nossas vidas.

O que eu mais acho incrível, é como as pessoas têm altas expectativas a respeito dessa grande chegada, especialmente direcionadas a mim. Todo mundo tinha uma visão a respeito de como eu deveria agir, de como eu deveria me sentir e do que eu deveria pensar a respeito do grande presente que nos foi confiado. Ninguém nunca dava os mesmos olhares, sorrisos ou conselhos invasivos para Ian.

Era muito prático ser o homem, não só nessa situação, mas em todas.

Eu deveria ser a mãe amorosa que abriria mão dela mesma para, além de ter gerado uma vida, dispensar todo cuidado, amor e tempo que essa vida precisasse.

Ele não.

Ele poderia continuar sendo o homem bem sucedido, chefe da empresa, o mais jovem empresário a dominar o mercado imobiliário.

Tudo uma grande imbecilidade machista.

A gravidez foi algo extremamente cansativo, não só fisicamente, mas psicologicamente também. Especialmente porque eu não estava nada feliz a respeito disso. Não estava feliz com as mudanças no meu corpo, não estava feliz pelo fato dos hormônios roubarem o domínio sobre as minhas próprias emoções, não estava feliz com o fato de precisar abrir mão de todas as minhas atividades favoritas, nem em passar todo esse tempo sem apreciar as minhas bebidas favoritas.

Muito menos com o fato de que isso não mudaria depois que a coisinha nascesse.

O mais cansativo, era fingir que eu não sentia nada disso. Felicidade é a coisa mais desgastante, especialmente quando não era real. Ian, obviamente, nunca percebeu. Depois de ter descoberto a minha gravidez, ele nunca mais me viu. Ele via o que queria, via o que eu projetava, mas eu duvido que a ideia de eu estar miserável com aquela situação tenha sequer passado pela sua cabeça.

Nora já era o completo oposto.

Essa me via como se a minha alma estivesse despida diante dela e eu não precisava nem mesmo falar qualquer coisa. Eu odiava essa sua capacidade de ver através de mim. Me surpreendi por ela nunca ter dito nada para Ian, mas acho que ela sabia muito bem que nem mesmo ela poderia me acusar, grávida da primeira herdeira de Ian, e sair ilesa dessa história. Ian ficaria furioso com qualquer um que ousasse falar mal de mim. Sei disso porque Kevin tentou e Ian ainda estaria sem falar com ele, se Kevin não tivesse dado o passo necessário para a reconciliação dos dois, depois de meses sem se falarem.

— Falta tão pouco... – Ian falou suavemente, deitado ao meu lado e encarando a única parte de mim que ele ainda enxergava, mas sem me tocar.

Sabia bem que ele queria, mas desde o início eu o repeli. Proibi que ele me tocasse, pelo motivo que fosse. Conseguia muito mal lidar com a sua presença, com o seu cheiro, muito menos com o seu toque. Muitas vezes, ouvi Nora conversando com ele, consolando-o e o aconselhando a ter paciência, pois era comum que algumas mulheres enjoassem do marido durante a gravidez e que isso passaria quando a bebê nascesse.

Mas ela sabia muito que não passaria, talvez ela até torcesse pra isso, pra finalmente se ver livre de mim.

Não foram os hormônios da gravidez que me fizeram querer distância dele, mas sim pensar que ele era o responsável por eu estar vivendo essa experiência pavorosa. Eu odiava vê-lo tão feliz com algo que me deixava desesperada e furiosa.

Aquilo estava acabando comigo!

Ele estava ansioso, mas sua voz era tranquila, como se não quisesse me aborrecer ou me agitar, muito menos fazer mal à coisinha dentro de mim.

Destinos Cruzados || Henry Cavillजहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें