Capítulo 14 - A rainha dos corvos

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Bobby estava isolado naquela apertada sala de reuniões improvisada no antigo caixa de bilhetes da estação de metrô. Sobre a única mesa redonda colocada ali, havia uma pilha alta de papéis que Bobby ficou observando por todo aquele tempo por curiosidade. Todos papéis estavam preenchidos a mão, alguns tinham uma letra familiar, mas que Bobby não reconhecia. Em uma das folhas mais visíveis, havia algo escrito que chamou a atenção de Bobby.

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O que poderia ser aquilo? Bobby estava bastante intrigado e queria puxar a folha para ver os possíveis nomes da lista, mas alguém bateu na porta e ele precisou se disfarçar, endireitando-se na cadeira que estava sentado. Um homem mais velho e corpulento, de cabelos grisalhos e barba comprida, empurrou a porta e parou na entrada da pequena sala.

- Ela está pronta para te receber - disse o homem em um tom de voz rouco e com o semblante sério. - Me acompanhe, por favor, garoto.

Bobby olhou por uma última vez para aquela pilha de papéis, ainda curioso pelo o que escondia naquela lista, e levantou-se para acompanhar o antipático homem. De volta ao saguão principal da estação, Bobby imaginava que já teria amanhecido, visto que o lugar estava mais lotado do que quando chegou há algumas horas. Sentia-se em uma fortaleza de Mad Max, as pessoas não sorriam, trabalhavam como robôs programados, era como o sistema de um formigueiro. Ainda assim, Bobby ficou surpreso de quão grande era o grupo dos Corvos, mesmo que ali no saguão não estivesse reunido nem um terço da colônia. Esse fator só comprovava a força deles diante as demais colônias e Bobby se preocupava com o futuro de Daly City. Os Corvos tinham dez integrantes para cada um de Daly City.

Um metrô estava estacionado no saguão e Bobby teve que passar por ele para atravessar para o outro lado. Eles adaptaram um refeitório nos vagões, além de mercados e estandes de munições. Do outro lado do metrô, Bobby encontrou muitos mecânicos trabalhando em um novo protótipo de veículo, um veloster equipado com uma larga placa de aço e uma torreta, além de grades sobre o vidro e pneus de off road. Bobby já teria visto o projeto daquele veículo em algum lugar e não era na colônia dos Corvos.

Após subir as escadas laterais, Bobby seguiu o homem por um corredor estreito e mal iluminado até uma porta de metal vermelha nos fundos. O homem abriu a porta e indicou com a cabeça para que Bobby passasse por ela, deveria seguir adiante dali. Sem manifestar algo ao homem, Bobby adentrou a sala, ouvindo o estalo da porta se batendo atrás dele. Encontrou-se em um quarto improvisado maior que qualquer outro espaço naquela estação - tinha uma cama de casal aos fundos separada por uma cortina, um sofá colchoado ao canto com uma mesa de centro cheia de papéis e embalagens de salgadinhos e latas de refrigerantes vazias, um armário alto que cobria uma parede toda e uma porta aos fundos que deveria ser de um banheiro. Ainda que parecesse um clássico quarto de hotel barato, era explícito que ali dormia uma líder de colônia, mesmo que o quarto de Ador fosse bem maior e mais organizado que aquele.

Acomodou-se no sofá e empurrou todo aquele entulho que se acumulava sobre os papéis. Bobby não conseguia mais identificar a mulher que vivia naquele quarto com a que conhecia há dezesseis anos, era muito diferente da organizada e asseada professora de ciências naturais na Universidade de San Francisco. Ouviu uma descarga no banheiro ao lado e ajeitou-se no sofá antes que a porta fosse aberta. Do banheiro, saiu uma mulher mais baixa que Bobby, enrolada em uma toalha, que aparentava ter uns quarenta anos, cabelos loiros molhados e um nariz fino e comprido com um discreto curativo sobre ele. Usava uma outra toalha para enxugar seus cabelos e, diferente de seu muquifo, tinha um cheiro doce de ervas. Ela era Louise Miller, mãe de Bobby e também agora, líder da colônia dos Corvos.

- Este quarto não te representa - Bobby quebrou o silêncio em um tom sério.

- Ah, você já chegou - disse a mulher cinicamente. - Bom dia, meu filho. Como está?

Zombie World - A Evolução (Livro 2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora