Capítulo 6 - A encruzilhada

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Em três meses de apocalipse, essa era a primeira vez que Nick chegava ao sul do que restara do condado. E não havia nada de diferente que não tivera visto antes mais ao norte.

Desertas, as ruas pareciam ter sido abandonadas após um festival de música eletrônica, só que violenta. As vitrines estavam quebradas e seus manequins despidos e deitados sobre a borda cheia de cacos de vidros. Alguns carros estavam tombados, outros apenas atravessados sobre as calçadas bastante depredados. Os cestos de lixos estavam revirados, certamente há bastante tempo, uma vez que nenhum cachorro ou gato atrever-se-ia vagar pelos centros urbanos, ainda que estivesse vivo.

Já estavam andando há mais de três horas seguidas e não haviam notado nenhum sinal de que Bobby estivesse passado por ali. Quieto desde que saíram da colônia, Nick preferiu manter-se à frente de seu grupo alguns metros, mas permitiu-se descansar sobre o capô retorcido de uma viatura policial. Afastada dele, Kitty se agachou ao chão para retirar sua garrafa de água e saciar a sua sede. Não conseguia parar de olhar com piedade para ele.

- Ele está bem? - perguntou Maggie quebrando o silêncio ao notar a preocupação de Kitty.

- Bobby é o melhor amigo dele - Kitty respondeu após um longo gole de água. - Ou talvez considere como sua família hoje, não restara alguém para chamar assim. Eles sempre cuidaram um do outro, fizeram um laço incapaz de ser desfeito por qualquer pessoa. Perdê-lo da noite para o dia e ainda ouvir ele ser chamado de traidor não deve ser nada confortável.

- Vamos encontra-lo - Maggie disse convicta.

- Parece ser muito confiante em suas afirmações.

- Um pouco de esperança é necessário para recuperar o fôlego.

- Minhas esperanças morreram há muito tempo.

- Acha que todos vamos morrer então em breve? Que toda essa luta pela sobrevivência é em vão? Somente os fracos nadam e morrem na praia.

- E os fortes morrem antes de chegar na praia porque tentam lutar contra tubarões.

Um sorriso torto escapou de Maggie ao ríspido comentário de Kitty. A garota não parecia nada confiante como aparentava ser e discutir sobre a esperança seria um tempo desperdiçado.

- Responda-me, Kitty. Mesmo que sobrevivemos a este caos, que encontremos a cura, o que fará quando tudo isso acabar?

- Era mais fácil responder sobre o futuro quando não existiam mortos querendo te comer. A gente cria planos, fabula histórias perfeitas em nossas cabeças, mas aí acontece o terror e tudo aquilo que você imaginava para seu futuro é jogado no lixo. Neste novo mundo, não existe mais o amanhã. Não posso pensar no quero fazer sabendo que este futuro posso estar sozinha... se eu ainda estiver no futuro. Sabe, eu me acostumei a essa nova vida. Matar quem já morreu, lutar contra quem ainda vive. Agora, eu te pergunto. Se não existe mais um futuro, qual o sentido da vida?

Maggie manteve-se calada por alguns instantes, olhando fixo em um ponto qualquer da rua. Kitty talvez tivesse razão, o mundo havia se tornado incerto quanto ao amanhã. E mesmo que houvesse um amanhã, como iria comemorar se todas as pessoas que você já amou estivessem mortas? Talvez a resposta que Kitty procurava não estivesse no presente.

- Se me perguntasse isto há três meses, não saberia te responder. Se eu te perguntasse há três meses, você também não saberia me responder. Talvez não há um único sentido na vida, já que você vive apenas por você. Ou talvez não haja um sentido qualquer da vida além de apenas viver. E se o sentido da vida tivesse relacionado a felicidade. Talvez Pascal tivesse razão, todos os homens buscam a felicidade, sem nenhuma exceção. Uns querem guerras, outros a paz, mas todos buscam a felicidade, mesmo que em visões diferentes. Ou talvez estejamos apenas enlouquecendo discutindo filosofia em uma distopia que nenhum cara nerd do passado teria imaginado.

Zombie World - A Evolução (Livro 2)Where stories live. Discover now