Capítulo 10 - Feridas do passado

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Existem dias bons e dias ruins. Para Kitty, esse era o dia ruim. 

Ao acordar, sentiu-se atordoada. Estava deitada sobre uma poça de seu próprio sangue. Sua cabeça parecia ter sido atropelada, o que não estaria tão errado; indiretamente, mas ela foi atropelada. Tudo estava conturbado quando abriu os olhos, ainda que tivera que fazer uma força maior para conseguir abri-los devido ao corte profundo bem entre seus olhos. Quando tudo parecia mais normal, com muito esforço, sentou-se para nortear da situação em que foi colocada. Não devia ter quebrado nenhum osso no acidente, mas estava com o corpo todo esfolado.

Tentou-se apoiar e se levantar, mas caiu outra vez com uma dor aguda no abdômen esquerdo. Havia um pequena estaca de madeira fincada, causando um grande desconforto. Apesar de não ser a mais forte para lidar com problemas como este, era um mal necessário. Segurou com firmeza a estaca e a puxou, cobrindo a ferida aberta com a outra mão. Curiosamente, não saiu tanto sangue, talvez tivesse perdido já o suficiente durante o todo tempo em que ficou ali desacordada.

À sua frente, ouviu algo rosnando. Mesmo estando em um escuro beco, conseguiu ver o que se aproximava. Arrastando-se pelo chão, uma garotinha zumbi grunhia mais alto quanto mais próxima de Kitty estava. Além de ser uma criança, outra circunstância espavoreceu Kitty. A criança não tinha nada da cintura para baixo. Suas entranhas e a sua coluna desguarneciam de seu tronco mutilado. Seus membros inferiores poderiam ter sido devorados pelos mortos quando ainda viva ou a mesma poderia ter os perdido no atropelamento pela máquina destruidora de zumbis. Independente disso, não era uma figura simpatizante de observação.

Horrorizada, rastejou-se para trás, desejando evitar ser o jantar da mini-meio-zumbi. Kitty estava fraca demais, seu pouco esforço naquele momento forçou a manar sangue em sua ferida exposta e, assim, um rastro de sangue era pintado no áspero chão daquele sujo beco. Sem perceber até onde ia, Kitty encostou-se em um alambrado aos fundos, este cercado de mais zumbis. Suas imundas mãos de sangue transpassavam para agarra-la. Desvencilhando-se de todas aquelas mãos, assustada, Kitty se jogou ao lado de uma caçamba de lixo. Estava apavorada, seu corpo todo doía, apoiou a cabeça sobre os joelhos e começou a chorar prostrada.

Ouviu um curto fracasso, como se fincassem uma faca numa melancia. Olhou por cima da caçamba e encontro Nick com um pé sobre a mini-meio-zumbi enquanto retirava um fino cano de ferro da cabeça dela. Próximo dele, havia um estranho homem forte e barbudo que parecia ter saído de uma fazenda do Texas. Ainda aos prantos, mas feliz por encontra-lo, Kitty tentou se levantar para ir ao seu encontro, mas caiu logo em seguida com fortes dores no abdômen.

Ao ver Kitty lamuriando caída ao chão no final do beco, Nick reagiu apenas com uma cara de horror. Correu até ela e a abraçou - não tão forte, percebeu que ela estava ferida - passou suas mãos pelo rosto dela, queria ter a certeza de que era ela e que estava bem.

- Me desculpe, me desculpe, e-eu... - repetia Nick desconcertado.

- Tá tudo bem - Kitty o acalmou. - Eu estava apenas assustada, foi tudo muito rápido. As armadilhas, a horda, o carro...

- Carro? - indagou Callum curioso aproximando-se dela.

Kitty fitou Callum e voltou a olhar para Nick. Ainda não conhecia o troncudo homem e nem sabia se era confiável. Entendendo a dúvida pairada nos olhos de Kitty, Nick o apresentou.

- Este é Callum. Por ora, pode confiar nele. Tivemos uma... simbólica discussão para chegar nesta conclusão - Nick comprimiu os olhos em sua metáfora narrativa.

Ainda desconfiada, Kitty respondeu a pergunta de Callum, mas sem olhar para ele.

- Era um carro forte e-e muito rápido. Ele tinha um pá gigante de ferro na sua frente que mutilava a horda toda que estivesse em sua frente. Possuía enormes faróis e... bem, pareciam gostar do que estavam fazendo.

Zombie World - A Evolução (Livro 2)Where stories live. Discover now