Capítulo 35 - 149

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Santa Clara


Alice acordou assustada com alguém esmurrando a porta do outro lado. Ela estava vestindo um macacão branco, como todos os outros prisioneiros da base secreta de Santa Clara. Seu cabelo estava bem mais curto que o habitual, quase na altura dos ombros. A cada vinte dias, eles cortavam o cabelo de todas as pessoas, mantendo-os mais curtos conforme o protocolo da diretoria da organização. Tudo o que ela sabia sobre eles era o que ouvia nos corredores diariamente. 

Ela dividia seu quarto branco almofadado com outras duas garotas, pouco mais velhas que ela. Uma foi levada há mais de um mês e a outra há dez dias. Nenhuma retornou. Talvez tivesse chegado sua hora de deixar aquele quarto e nunca mais retornar também.

- Mãos para trás e cabeça baixa - ordenou um soldado mascarado ao adentrar o aposento.

Sem dizer uma palavra, Alice virou-se de costas, colocando suas mãos conforme ordenado, e abaixou a cabeça. Esperava que fosse algemada, mas o soldado parecia ter pressa no que deveria fazer. Apenas agarrou os dois braços dela e a empurrou de supetão para fora do quarto. 

No corredor, outra surpresa. Todos os demais prisioneiros haviam sido trazidos para fora e colocados em uma fileira. Cada um deles tinha um número nas costas do macacão, em ordem crescente. Considerando que a mulher à sua frente era 148, Alice pressupôs que o seu seria a 149.

- Ei, Alice - gritou um velho há alguns metros, sob o número 137. - Você está bem, graças a Deus.

Alice não precisou se esforçar para reconhece-lo. Era Dogson, o velho comerciante. Tão feliz por revê-lo, ela também se comoveu quando avistou ainda mais à frente, dentre os números 110 e 113, a família Thomson. John continuava um pai protetor como sempre, encarando os soldados e mantendo Abbie e seus filhos próximos de si. Madison ainda era aquela garotinha assustada com o caos ao seu redor e Oliver seguia a personalidade do pai, se mantendo firme e confrontando os soldados. Entretanto, ela não reconheceu mais ninguém dentre os sobreviventes mais próximos. Oh Deus! Que eles não tenham tido um final como o Junior ou as garotas do quarto.

Uma sirene ecoou por todo o corredor e uma luz vermelha acompanhou o estrépito barulho, alarmando todos os soldados presentes. Eles pareciam entender o que estava acontecendo e aquilo não parecia ser nada bom. Alice olhou por toda a fileira atrás e avistou apenas uns quatro soldados, correndo de um lado para o outro, trombando entre eles mesmos. Um deles, o que a tirou às pressas do quarto, caminhava com o rifle apontado para o teto, tentando intimidar os sobreviventes. Alice não se sentia intimidada. Não mais.

- Corram em frente e não saiam da fileira - o soldado tentou gritar mais alto que a sirene. - Rápido! Vamos, vamos!

Seus braços estavam livres. Todos os outros sobreviventes estavam livres. Estava na hora de ousar. Alice sentia um espírito rebelde ascender em si. A rebelião deveria começar por eles se quisessem a liberdade. Não poderia esperar por um herói.

Quando o soldado retornou para trás, Alice ainda caminhava um pouco apressada tentando manter o ritmo dos demais da fileira. Ela aguardou ele passar e então, saltou para fora da fileira e agarrou o soldado pelas costas, o prendendo em um mata-leão. O soldado tentou reagir, desvencilhando algumas cotoveladas contra Alice, mas a garota era magra o suficiente para não ser atingida, além de ser tão astuta quanto seu pai foi.

- Sua... pirralha - o soldado dizia, sufocado.

- Ei - gritou um outro soldado vindo na direção contrária, com uma arma apontada para Alice. - Solte ele agora.

Acompanhando a pequena rebelião de Alice, um dos prisioneiros - um homem de quarenta anos aproximadamente, alto e magro - saiu também da fila e se jogou contra o soldado que ameaçava Alice. Os dois trombaram na parede e caíram, se espatifando pelo chão. Mais forte que o prisioneiro, o soldado desferiu um chute contra o rosto dele e deslizou-se rapidamente para pegar a arma. Entretanto, o velho Dogson se demonstrou mais perspicaz, se apossando da arma.

Zombie World - A Evolução (Livro 2)Where stories live. Discover now