Capítulo 24 - Kirby Reed

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Condado de San Francisco, dia 16


Pequenos feixes de luzes tremeluziam o interior do grande casebre. As portas carunchadas e janelas enegrecidas pelo tempo estavam bloqueadas para o que se aproximava lá fora, sucumbidos na escuridão da longa noite que apenas estava começando. As silhuetas das árvores secas pela chegada próxima do inverno tornavam aquele cenário ainda mais gótico e assustador, que se sucumbia em uma névoa branca que provinha rapidamente do lago mais abaixo no parque.

Parados na entrada da escada, Ann e Alex mantinham-se imóveis e acompanhavam o zanzar incansável de Kirby de um lado para o outro. Não haviam trocado nenhuma palavra desde que ela começou a trancar todas as entradas, nem mesmo quando ela desatou o lenço preto do cabelo e o amarrou no braço, pouco abaixo de seu ombro esquerdo. Havia um pequeno resquício de sangue ali, cujo ferimento podia ter sido causado quando ela voltava correndo para dentro de casa, ainda assustada com o que vira chegar pela floresta.

Apenas quando teve a certeza de que a casa estava devidamente protegida para o iminente ataque, ela parou para respirar mais calmamente, apoiando suas mãos sobre o gélido balcão de granito no centro da cozinha. Menos apavorada, ao menos no que podia ser percebido em seu tom de voz, ela levantou a cabeça e fitou Ann, ainda parada ao lado de Alex.

- Eles sabem que estamos aqui e farei o possível para mantê-los fora da casa, mas precisam estar prontos para fugirem se necessário.

- Quantos viu? – Ann perguntou um pouco rouca e pigarreou. – Eram muitos?

- Uns trinta, talvez cinquenta – Kirby não se lembrava claramente do quanto viu na escuridão da floresta. Ainda que quisesse provar-se valente diante a situação, era nítido que ela também estava com medo e não se sentia nada confiável em como lidaria com todos aqueles mortos-vivos lá fora.

- Nós os venceremos e quando o dia raiar, estaremos queimando os corpos no quintal – disse Ann nem mesma convicta com o que dizia.

- Você ficará com seu irmão lá no quarto de cima e só sairão se eu pedir.

- Eu não vou deixa-la lutando aqui sozinha - relutou Ann incomodada por Kirby negar sua ajuda. - Sabe que precisa da minha ajuda.

- Ele é nossa prioridade – Kirby apontou para Alex. – Precisamos protege-lo e você é a irmã dele, por isso é quem deve ficar com ele no quarto. Não ouse recusar, Ann. Estando ao lado dele, estarei mais confortável de lutar aqui em baixo.

- Kirby... – Ann tentou dizer algo, mas o silêncio tomou suas palavras.

Uma forte batida na porta tremeu o portal de madeira e pó de gesso desprendeu-se da parede. Mais batidas, cada vez mais fortes, e de repente, as janelas também começaram a balançar, sendo forçadas pelos vários carniceiros lá fora.

- É o nosso sinal. Subam agora – ordenou Kirby enquanto abria uma gaveta e retirava uma pistola, toda recarregada de munição. Era uma pistola preta, de coldre de carbono, com o mesmo entalhe das outras armas do exército que os perseguiam desde San Francisco. – E use isso – Kirby segurou a arma firmemente em mãos antes de dá-la para Ann – Apenas se precisar.

Ann acenou com a cabeça e pegou a pistola, mantendo-a em mão, enquanto segurava a mão de Alex na outra e o puxava para escada acima. Seus lábios estavam secos e suas pálpebras tremiam, expondo o quanto estava nervosa. Tentou não demonstrar isso para Alex, apesar de sua mão estar mais gelada que a dela. No piso de cima, adentrou o único quarto que tinha uma porta ainda de pé e a fechou em seguida, bloqueando-a com o pesado armário ao lado.

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