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— Desculpe-me, Sra. Lovato. Mas nenhum exame acusa o que sua filha possa ter, é como se ela simplesmente tivesse deixado de enxergar. — Revirei os olhos para fala do médico, tendo consciência de que qualquer um dos dois ali presentes poderiam ver meu ato.

— Isso não é possível, não há históricos...

— De cegueiras na família, minha filha é uma mulher saudável e todo o blá blá blá de sempre. — Digo já irritada. — Chega, ok? Eu estou cega, mas não surda. Escuto tudo o que falam como se eu não estivesse aqui, todos os lamentos de mamãe como se fossem me fazer voltar a enxergar, o que não vai. — Levanto-me da cadeira assustadoramente confortável do consultório. — Não vou me submeter a mais nenhum exame, já cansei de tentar e nunca ter respostas. Eu estou cega e já aceitei isso, espero que também aceitem.

Com o auxílio da minha bengala me retirei da sala ouvindo atentamente os passos apressados de minha mãe, em silêncio fomos para o estacionamento do hospital, claro que ela me auxiliou em alguns momentos para eu poder conseguir achar o estacionamento. No caminho para casa pude notar que minha progenitora estava tentando segurar seu choro, embora alguns baixos soluços fugissem, ela estava tentando.

Há seis meses atrás em uma manhã de domingo eu amanheci sem conseguir enxergar absolutamente nada, no inicio estranhei tal situação, quando minha mãe me ligou ainda aquela manhã, como era de costume ela fazer, eu contei a ela o que estava acontecendo e a mesma achou ser brincadeira. Sua ficha só caiu quando comecei a chorar de desespero, ela não pensou duas vezes antes de vir diretamente para minha casa com meu padrasto e minhas irmãs.

Pela primeira vez em anos tive minha família toda reunida sem precisar ter que implorar por aquilo, meus progenitores estavam lá com suas respectivas famílias para me darem assistência, minha mãe com a ajuda de minha irmã mais velha, Dallas, me ajudou a me trocar e fomos para o hospital. Meu pai, Patrick, foi no banco traseiro comigo e Dallas, enquanto minha mãe estava no banco do passageiro e meu padrasto dirigia.

Eu passei um dia inteiro presa no hospital, realizando exame atrás de exame para descobrir o que havia acontecido com os meus olhos, até mesmo passei pela insuportável máquina de ressonância magnética. Mas todos os exames mostravam que estava tudo bem, mostravam que não havia nada de errado com a minha saúde e tampouco meus olhos.

Minhas idas aos oftalmologistas foram frustradas, minhas tentativas de descobrir foram frustradas e eu acabei aceitando, que por decisão de forças maiores, eu estou cega e não voltarei a enxergar nada além de sombras. As primeiras semanas foram difíceis para mim, tudo me irritava, eu gritava, xingava e chorava, mas no fim aceitei.

Comecei a frequentar uma instituição para deficientes visuais, onde aprendi a fazer leitura em braile. No começo eu me sentia ridícula fazendo aquilo, mas com o tempo acabei me adaptando, hoje consigo me locomover por minha casa sem esbarrar em nada e sem ganhar alguma marca roxa no corpo, o que é ótimo para mim. Agora consigo ler meus livros favoritos, claro que na versão braile, e trabalhar sem sair da minha casa.

— Mamãe? — A chamei assim que me sentei no sofá, a mais velha emitiu um som nasal. — Desculpe-me pelo meu surto no consultório, eu não queria ser rude e nem machucá-la.

— Está tudo bem, você tem razão meu bem. Eu realmente preciso começar a aceitar o que te aconteceu. — Sorri minimamente para minha progenitora.

— Eu quero que a senhora vá para sua casa, que fique ao lado de seu marido e da Maddie.

— Não posso te deixar sozinha Demi.

— Mamãe, eu aprendi a me cuidar nessa situação nos últimos seis meses. Não tem com o que se preocupar e se caso algo acontecer, eu ligo para senhora na mesma hora.

Beautiful Eyes - SemiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora