● A dor. ●

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● A dor. ●

“They all need something to hold on to (Todos eles precisam de algo para se segurar)
They all mean well
(Todos eles têm boas intenções)
Pay your respects to society giving me hell
(Paga a tua honra à sociedade, dando-me o inferno)
May your dreams come to reality
(Que os teus sonhos se tornem realidade)
If all else fails
(Se tudo o resto falhar)
Give up, we needed the company
(Desiste, precisávamos da companhia)
Let's drink to your health
(Vamos brindar à tua saúde)
You could never feel my story
(Tu nunca poderias sentir a minha história)
It's all you know
(É tudo o que sabes)”- Scotland, The Lumineers.

P.D.V. Destiny

- Destiny, volta aqui! Não sabes o que estás a fazer!- Os gritos da minha mãe dissipam-se à medida que me afasto daquele local a que chamo de casa. Não sei o quão certo está aquilo que vou fazer, porém não prescindo da ideia de que neste momento será o melhor a fazer. A minha vida já não faz sentido. Eu já não sou a mesma pessoa desde o sucedido.

O meu cabelo outrora em tons de avelã e possuidor de uma tremenda alegria, encontra-se agora escuro como a noite e dividido em metade. O meu grande sorriso também não dá sinais de vida.

Talvez eu entenda um pouco o Harry agora. Talvez agora eu sinta, tal como ele, que não tenho um papel na vida. Talvez. Pois apenas tenho certeza das minhas incertezas agora. Apenas tenho a certeza de que não sou mais eu.

Decorei as ruas que percorri no regresso a casa juntamente com o Harry. Tento lembrar-me de cada detalhe. Preciso de voltar àquele quarto. Pedir explicações. Tentar perceber como a minha vida se tornou nesta confusão.

Assim que entro no horrendo prédio um arrepio toma conta do meu corpo, enviando-me uma compilação de memórias do inevitável passado.

- Não!- o meu grito ecoa pela escadaria.

Passos rápidos são ouvidos. Estão a aproximar-se.

Num repentino movimento, o meu corpo é pressionado contra a parede fria. Uns olhos castanhos claros percorrem o meu corpo e fixam as minhas safiras no final.

- Destiny Tomlinson. O que fazes por aqui?

- Procuro respostas… Porquê isto tudo? Porquê Lottie? Porquê eu? Porque fez Niall tudo isto?

- Com certeza. Tens todo o direito de obter as desejadas respostas. Deixa-me apresentar. Liam Payne- mostra um sorriso caloroso.- Sê bem vinda à família.- A sua mão forte que eu já conhecia circunda o meu pulso e encaminha-me escadas acima, levando-me para uma sala simples, em tons de branco e beije, cores que fazem sobressair o leve castanho dos seus olhos.- Senta-te.- Assim o faço.

Ficamos por vários segundos a cruzar olhares apenas. É acolhedor. Este lugar faz-me sentir em casa. O medo que se apoderou de mim há minutos atrás sumiu.

- Gostas do lugar?- Assinto.

Não falamos, apenas vemos as horas passar. Liam segue-me para a varanda da mesma sala e coloca um cobertor sobre os meus ombros.

- Peço desculpa pelo susto que te provoquei naquele dia.- Ele repousa o seu olhar em mim.- E desculpa por teres sido obrigada a descobrir o lado sombrio de Niall tão repentinamente.

- Eu iria acabar por descobrir.- Fixo o brilho da Lua que começa a surgir no horizonte à medida que o pôr-do-sol se torna escuro.- As sombras da Terra desvanecem-se quando a noite cai no horizonte, no entanto, as almas sombrias não tomam o mesmo caminho.

- Gostaria de poder entender a tua dor.- O seu olhar pesado toca no meu. Analiso a sua expressão e visualizo a sua compilação infinita de tatuagens.

- A dor é um sentimento que não se explica, não se entende. Apenas se sente a destruição consumir-nos pouco a pouco.

- Lamento por Lottie, foi Niall quem traçou o seu destino. Ele escolheu-a, para acabar com a sua vida. Tentava livrar-se dos seus demónios. Não foi capaz disso. Nós fomos buscar-te para que ele admitisse a verdade. Também pensamos que ele te amava. Pelos vistos, todos fomos enganados.

- Fiquei surpreendida por Melody o defender.

- Ele é uma alma perturbada. Nunca teve o amor de ninguém. Isso foi revelado nos seus atos, não tem consciência do sofrimento que eles causam.

Não lhe respondo. Niall contou-me tudo de uma maneira diferente. Disse absolutamente o contrário do que Liam me diz. Em que palavra posso eu acreditar? Na palavra daquele que amo mas que em tão pouco tempo se tornou um estranho, ou neste estranho que em tão pouco tempo se tornou uma família? Estou confusa.

As provas finais aproximam-se e a minha cabeça encontra-se numa batalha cada vez mais desconcertante. Quando entrei para a academia iludi-me com a visão de um futuro perfeito. Uma vida perfeita. Eu deveria ter compreendido que a vida é um mar de rosas, sim é. Mas as rosas têm espinhos. Ignorei. Ignorei os conselhos que me davam, ignorei as lições que tentavam fazer ouvir e sobretudo ignorei a razão. Deixei-me levar pelas pétalas resplandecentes na sua cor uniforme esquecendo os espinhos pontiagudos e oportunistas, que quando se cravam em nós, não escolhem a pele, eles cravam-se no coração.

Há cerca de duas semanas que não falo com Niall, nem com Melody, nem mesmo com Louis. Harry, e agora Liam, têm sido o meu único apoio.

Devo admitir que me sinto culpada pela confusão que se gerou entre Melody e Harry, mas de um modo geral, eles formaram a sua própria confusão. Não é isto verdade? Estarei eu errada em relação a tudo o que penso?

Há uma porção de mim que está morta. Não sei qual o seu tamanho, nem quantas porções vivas me restam, apenas sinto a sua falta. O meu cérebro já não trabalha da mesma forma, nem o meu coração, nem o meu corpo. Foi tudo substituído pela confusão, dor, angústia, inquietação, agitação. É caótico.

Serei eu a única com este sentimento?

- E quando ela nos consome por completo?

- O quê?- Questiono abstraída.

- A dor. Disseste que apenas a sentimos consumir-nos. Eu pergunto-te, e o que acontece quando somos consumidos por completo por ela?

- Aí não vale a pena viver. Estamos mortos apenas respiramos o ar à nossa volta pois os nossos pulmões nos obrigam a fazê-lo. Mas morremos. Tudo deixa de fazer sentido.

- Ela já te consumiu por completo, Destiny?

Why me? || h.s. & n.h.Where stories live. Discover now