● Harry, promete? ●

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                                                                                4 meses depois

“We've never been into honesty (Nós nunca tivemos honestidade)
So promise me you'll let me know
(Então promete-me que me vais deixar saber)
When you're lying
(Quando estás a mentir)
She wants to be an eagle
(Ela quer ser uma águia)
When she's high she can fly
(Quando ela está alta, ela pode voar)
No matter what she was trying
(Não importa o que ela estava a tentar)
(...)
She doesn't like to worry
(Ela não gosta de se preocupar)
But she's afraid of everything
(Mas ela tem medo de tudo)
That's going on around her
(O que está a acontecer ao seu redor)”- Olive & An Arrow, Nick Jonas.

P.D.V Harry

Eu suponho que exista duas versões de tudo. Opostos. Como um íman.  É como se o mundo fosse um – a Terra ocupa a responsabilidade de ser o Norte, o mar o Sul. Cada indivíduo carrega a obrigação de encontrar o seu polo oposto. Foi o que ela me ensinou. Melody. Suponho que ela é o som, eu o silêncio.

Vestígios de neve fazem-se sentir na gelada brisa londrina esta noite. Certifiquei-me que Destiny chegou a casa dez minutos antes da hora estabelecida, tal como haveria prometido à sua volumosa mãe. Ela assusta-me um pouco, admito.

Destiny continua irritante e obcecada pela perfeição exigida pelo ballet – razão pela qual eu dou preferência ao contemporâneo. Não me interpretem mal, todavia não há maneira de o ballet carregar a avassaladora dor que carrego. Discuti esse assunto com Destiny durante o nosso passeio noturno. Esta tem sido incrivelmente compreensiva no que diz respeito ao meu tremendo pavor de interação social. Por esse motivo todas as nossas saídas têm-se realizado a horas tardias. Hoje foi divertido. Quero eu dizer, ela é divertida.

Nós namoramos, já há alguns meses. Ela não me ama. Eu não a amo. É assim que funciona. Houve uma noite, na Academia, encontrei-a com seus olhos avermelhados devido a gotas derramadas violentamente pelos mesmos. Ela carrega muita pressão em cima dela, percebem? Eu beijei-a, pareceu-me o mais correto.

Tornamo-nos próximos desde o primeiro dia. A donzela fazia questão de se sentar todos os dias a meu lado no refeitório, apesar de durante dois meses ela ser a única a ter soletrado uma palavra – na verdade imensas palavras, intermináveis monólogos. Nunca lhe admiti o quanto aprecio a sua preocupação para comigo.

É fácil namorar com ela, a razão para tal é não nos amarmos. Reformulando, eu amo intensamente aquela menina indefesa como parte da minha família. É um grande compromisso e talvez transmitir a ideia de namoro ajude a garantir que ela recebe o máximo de amor possível. Desta forma sinto que não necessito de partilhar os meus demónios - não como se namorasse com a pessoa que amo - o que facilita a minha vida, já por si complicada.

Destiny está apaixonada pelo Niall. Gostaria que ela fosse capaz de admiti-lo. Ele dar-lhe-ia amor incondicional, eu garanto. Vejo nos olhos do irlandês.

Eu? Não é óbvio? Estou apaixonado pela rapariga possuidora da beleza mais irracional e magnética alguma vez avistada – Melody. A irreverente britânica suga o sangue das minhas feridas. Posso até jurar que a seu lado não sinto necessidade de colocar qualquer curativo sobre elas.

Usualmente vejo-a rodopiar sem parar pela sala ou a ser carregada pelo Niall – seu namorado, murmuram todos os da Academia – levando-os a cair sobre os colchões perto da janela em gargalhadas cativantes.

Posso declarar sobre juramento que já a vi voar, voar alto, enquanto dançava.

A sua energia é viciante para mim, assim como a sua maneira rápida de verbalizar.

Posso confessar uma coisa? Todos os dias ela vem tocar harmónica para o rio junto da minha casa. Quando dá por terminada a melodia vejo-a observar-me à janela com um sorriso, retribuo euforicamente vendo as suas bochechas ficarem rosadas. Então, eu desço as escadas num sprint até ela. Falamos durante horas incontáveis. Teoricamente, eu falo durante horas. Ela apenas sorri ternamente, acariciando a minha face de cada vez que liberto uma lágrima solitária.

A nossa despedida é demorada, terminando com a frase “Harry, promete? “. A minha cabeça ainda não foi capaz de descodificar tal questão.

- Vejam só quem nós temos aqui. – Uma voz desconhecida sobressalta-me.

Num gesto violento o meu corpo embate contra a parede de pedra num dos becos da cidade. Socos esmurram a minha pálida pele. Um golpe na rótula leva-me ao chão deixando o meu oponente em posição vantajosa. Sangue escorre pela minha boca a cada golpe raivoso no meu estômago. Uma faca sai do bolso do rapaz de cabelos castanhos atacando-me violentamente o canto esquerdo da face - a milímetros do meu olho esverdeado. Os sentidos começam a confundir-se a cada choque dos seus pés contra o meu tronco.

- Avisa o teu amigo Niall Horan que isto é o que irá acontecer a cada um dos que ele ama se decidir abrir a boca. – Aproxima-se de mim, tatuando os seus punhos no meu maxilar.

Os meus olhos mantêm-se entreabertos quando vejo o vulto desaparecer por entre a escuridão. Toda a dor que sinto é tolerável comparada com aquela com que vivo todos os dias. Egoistamente desejo o estado de inconsciência, aí sentirei tranquilidade.

- O que te aconteceu, Harry? – Questiona a bela bailarina ao correr até mim. As luzes dos candeeiros de rua permitem-me observar cada detalhe seu.

Melody. Com seus olhos chorosos, vejo-a ajoelhar-se num só joelho inclinando a sua face para mim. Os nossos lábios estão separados por meros milímetros de vazio.

- “Harry, promete?” – Surpreendo-a ao colocar a questão – Eu peço-te, por favor, preciso de saber o que te devo prometer.

- Harry – Verbaliza arrastadamente – Prometes que serás aquele que salvará a minha vida? Eu estou doente, Harry.

Why me? || h.s. & n.h.Where stories live. Discover now