● Porquê eu? ●

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                                                4 meses depois

“I'm so tired of being here (Estou tão cansado de aqui estar)
Suppressed by all my childish fears
(Reprimido por todos os meus medos infantis)
And if you have to leave
(E se tens de ir)
I wish that you would just leave
(Então eu desejo que vás logo)
'Cause your presence still lingers here
(Porque a tua presença ainda permanece aqui)
And it won't leave me alone
(E isso não me vai deixar sozinho)
(…)
When you cried, I'd wipe away all of your tears (Quando tu choraste, eu enxuguei todas as tuas lágrimas)
When you'd scream, I'd fight away all of your fears
(Quando tu gritaste, eu lutei contra todos os teus medos)”- My Immortal, Evanescence.

P.D.V. Niall

Todos os esforços para esquecer aquele dia são ineficazes.

Sim, eu fui manipulado para fazer aquilo, mas a culpa não deixa de ser toda minha. Lembro-me perfeitamente de cada pormenor. As suas lágrimas, os seus gritos, a maneira como me implorou para não o fazer… mas eu fi-lo. E o crime imperdoável permanecerá na minha mente para sempre, a relembrar o sofrimento que provoquei naquela menina indefesa.

*Início do Flashback*

Tudo começou naquele terrível dia. Era um dia totalmente estranho. A temperatura estava quente, tal como em todos os outros dias de verão, estava uma manhã insuportável. Chuviscos dominavam o ar tornando-o húmido e o forte nevoeiro preenchia cada pequeno espaço do campo de visão humano impossibilitando, quase totalmente, o reconhecimento do sombrio local.

No entanto, era impossível não distinguir aquele lugar horripilante. Eu fui obrigado a voltar lá, eu não tive outra escolha mais uma vez. Eu. Nunca. Tenho. Outra. Escolha.

Assim que avistei os dois indivíduos, ligeiramente mais altos que eu, caminharem através do nevoeiro uma chama de raiva incendiou-se dentro de mim. A causa do meu sofrimento estava ali mesmo à minha frente. Eles. Eles arruinaram a minha vida. Eles mataram toda a minha família para obter apenas algo tão fútil como drogas. Apenas drogas. Eles destruíram a vida de inocentes para ter algo que apenas criaria ilusões de um mundo bom nas suas cabeças por uns minutos e depois desapareceria.

Agora eu estava destinado ao mesmo. Estava destinado a assumir a culpa dos meus inimigos para recriar um crime assim tão horrível.

Eu fui o único sobrevivente. Eles escolheram-me. Não tinham outra opção para além desta. Nunca se deixariam apanhar por qualquer coisa que fosse.

Estava a minutos de acabar com a vida de alguém inocente, apenas para encobrir o mal sucedido, apenas para esconder estes meus inimigos.

“Crime apaga crime.” Disseram eles.

Sem outra escolha, avancei até à carrinha escura. Temia por aquela pobre alma, temia por quem a amava.

Abri a pesada porta e segurei um braço fino, arrastando aquele corpo mole para fora da carrinha. Era uma rapariga.

Quando voltei a dar por mim já estávamos em alto mar.

O vento transportava o doce cheiro a maresia e o nevoeiro mantinha-se, porém não tão forte como há momentos atrás.

Olhei em frente, analisei detalhadamente a pobre inocente. Cabelos loiros ligeiramente encaracolados nas pontas voavam com o vento, os seus olhos levemente azulados com pequenos pigmentos verdes reluziam com a luz solar. Lágrimas que partiam dos seus olhos corriam pelo seu rosto pálido.

Olhei para baixo, uma arma na minha mão.

A rapariga gritava pedidos de ajuda que nunca seriam ouvidos. Ela devia ter percebido: é quando mais necessitamos de ajuda que todas as pessoas parecem desaparecer da face da Terra, e aí temos de crescer sozinhos, ou então morrer.

O meu coração doía cada vez que ela me implorava, desesperadamente, para que não fizesse aquilo.

Não o queria fazer realmente. Era demasiado para alguém como eu.

Baixei um pouco a arma brilhante - senti o seu peso, senti o mundo girar, respirei fundo. Assim, senti por momentos a dor daquela rapariga.

“Qual é o teu nome?” - Perguntei-lhe de olhos fechados, respirando profundamente.

“Charlotte.” - Respondeu-me entre soluços.

“Charlotte, desculpa” - Suspirei. - “Desculpa.” – Repeti, deixando uma pequena lágrima de arrependimento escorrer pelo meu rosto igualmente pálido.

“Niall, ela ou tu.” - Alertaram.

Fui demasiado egoísta. Mais uma vez apenas me salvei a mim.

 Apenas pergunto, porquê? Porque foi este destino escolhido para mim? Porquê eu?

Aproximei-me da chorosa menina e depositei um leve beijo na sua testa. Premi o gatilho.

Ela morreu, eu fui o culpado.

*Fim do Flashback*

Why me? || h.s. & n.h.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora