“ Look at me, I never pass for a perfect bride (Olha para mim, eu nunca passo para uma noiva perfeita,)
Or a perfect daughter (Ou a filha perfeita.)
Can it be that I’m not meant to play this part. (Será que eu não estou destinada a fazer esse papel.)
Now I see, that if I were truly to be myself ( Agora eu vejo, que se eu fosse realmente eu própria)
I would break my family’s heart. (Iria partir o coração da minha família)”- Reflection, Disney’s Mulan.P.D.V Melody
- Aguarda um pouco. Não tarda o doutor chamar-te-á.
Visualizo a imagem de duas crianças, com a idade a rondar os doze anos, sentadas perto da janela. Uma delas traz um lenço sobre a nuca, cobrindo-a por completo. Por entre o seu olhar vazio vislumbro duas belas íris azuis.
- Ela é linda. – Sussurro para a minha mãe.
É-me fácil prever que a jovem sofre de algum tipo de doença aparentemente curável, embora todos saibam que as percentagens estão contra o doente.
- Meninas, vamos. Emma, traz a bolsa da tua irmã por favor. – Pede, sorrindo, uma belíssima mulher com longos cabelos loiros. – Os resultados não acusaram qualquer problema. Está tudo bem, embora as consultas de rotina tenham de continuar.
A corajosa mãe aconchega a sua filha junto ao seu peito carregando-a para a saída. Detecto um enorme sorriso na menina, de nome Emma. Imagino o alivio que sente ao saber que a batalha da sua irmã está, aparentemente, vencida.
- Mel, o teu pai e eu vamos tomar o pequeno almoço. Esperas aqui, querida?
- Sim. – Atiro friamente.
Aconchego-me no sofá que ocupa um grande espaço na sala de espera. Debruço a minha cabeça sobre uma das almofadas de maneira a observar as luzes que brilham em cima de mim.
O meu cabelo está ligeiramente apanhado na zona do pescoço. Orgulho-me da sua cor de oiro e largas curvas, imaginar-me sem ele é incrivelmente doloroso.
- Agora tem de esperar aqui. A sua irmã fica em segurança. Temos mais dois exames a realizar.
Um rapaz de cabelos castanhos - incrivelmente espetados para cima - ouve atentamente o Doutor Stone. O rapaz traja umas calças de ganga largas e desgastadas, calça umas sapatilhas que outrora eram brancas, um casaco de lã em tons de vermelho, finalizando com uma camisola branca. O cansaço é evidente nas suas feições. Pestaneja calmamente durante o discurso do doutor. Quando este é dado por terminado cambaleia lentamente por entre a sala de espera; uma das suas mãos sobre os olhos enquanto a outra ocupa o seu lugar num dos bolsos das calças. O lábio inferior é incoerentemente triturado pelo maxilar superior. Senta-se a quatro cadeiras de mim, todas estas em tons de cinzento, com a ajuda da sua mão direita para não perder o equilíbrio. Debruça-se sobre os joelhos e os dedos encontram-se cerrados numa espécie de punho. Noto profunda dor.
- Queres um pouco de água? – Arrisco interroga-lo largando um doce sorriso.
Vejo-o levar até ao joelho a mão que outrora se encontrava cerrada, girando a sua cabeça na minha direção. Os seus olhos direcionam-se para os meus, forçando as suas sobrancelhas a subir. Assente num movimento rápido.
- Os resultados dos meus exames vão ser conhecidos hoje. – Estico a minha mão à dele cedendo-lhe a garrafa de água intacta.
Seu olhar escuro e sobrancelhas carregadas dão-lhe um ar pesado.
- Sinto muito. – Ouço-o pronunciar por entre os seus lábios carnudos. – A minha irmã mais nova está ali dentro.
- O que é que ela tem? – Cruzo os meus pés sobre a cadeira desconfortável.
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