— E então? O que você tem a me dizer sobre o objeto que está guardado numa caixinha no seu guarda-roupas? 

Miguel me olhou longamente antes de responder.

— Quer mesmo falar sobre isso? Ele está guardado, não está?

— E acha que estou bem com isso? Tem ideia do quanto eu me revirei na cama esses dias, sem conseguir dormir, por causa daquela coisa? Está guardado, mas eu quero respostas. Você prometeu e eu fui paciente o dia todo.

— Certo. Você tem razão, mas não há motivo para pânico. O que eu tenho a dizer é o seguinte: anéis não andam. Ângelus pode dizer o que quiser, mas sempre haverá uma explicação plausível para todas as coisas, e eu estou resolvendo tudo para que esses eventos não voltem a acontecer. Fiz contatos e alguns negócios, e você não será mais perturbada.

— Assim espero. Gostaria que aquela coisa fosse vendida para um chinês e ficasse lá do outro lado do mundo o resto da eternidade.

Miguel riu das minhas palavras, mas seu olhar estava dentro do meu como nunca tinha estado.

— Ângelus falou de Alice... — comentei, sentindo o peso de seu olhar. — O que você tem a dizer? Ele é seu homem de confiança.

— Ângelus nunca atestaria um objeto falso, nunca acobertaria uma fraude, nunca fecharia os olhos para um embuste. É um homem em quem negociantes, clientes e museus podem confiar. No entanto, suas crenças pessoais não me dizem respeito. Entre mim e ele há uma relação profissional. Apenas isso.

— Então pensa que é tudo crença dele?

— Sim. Meu avô falava nesses supostos dons, mas meu pai não acreditava. Cada vez mais, vejo que ele tinha razão. 

— E quanto ao anel na igreja?

— Deve haver uma explicação plausível. Mas não falemos mais disso por hoje. Eu a trouxe aqui para termos um clima melhor para conversar sobre coisas melhores. Está gostando?

— Claro! É tudo muito lindo. Que restaurante tem uma casinha onde podemos entreter as crianças e um som ambiente tão agradável?

— Quero te fazer uma proposta.

— Proposta, hein?

— Sim. Gostaria que ouvisse com carinho.

— Estou ouvindo.

Por alguns segundos ficamos nos encarando, nos estudando. Os olhos de Miguel estavam muito sagazes embaixo dos cílios negros. E eu tentando adivinhar qual seria a próxima bomba.

— Eu pensei melhor, e acho que talvez seja adequado nós nos casarmos.

As palavras de Miguel saíram como uma confusão na minha frente. Como assim? Balancei a cabeça, estreitei os olhos.

— Adequado? Nós nos casarmos?

— E viajarmos para Portugal. Claro, a viagem seria daqui a uns meses.

Olhei-o sem saber o que responder. Aquilo não tinha nada de romântico. O ambiente, as roupas, o som, até o cheiro de comida, tudo isso não conseguia amenizar a frieza da proposta. Ele estava falando de negócios.

— Algum problema novo ou é um negócio especial? — Também me mantive fria e impessoal.

— Conveniência. Alice precisa de nós dois e vai ser ruim estarmos tão longe um do outro. E não posso passar tanto tempo longe dos meus negócios.

— E quanto à minha vida particular?

— Achei que você estivesse preocupada com o futuro de nossa filha.

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⏰ Last updated: Apr 24, 2020 ⏰

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Insensatez (Em Andamento)Where stories live. Discover now