Capítulo 11: uma proposta

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Eu continuava fazendo unhas no salão de minha tia e estudando à noite, mas ultimamente ela vinha enchendo o saco com frequência. Reclamava que eu tinha sido boba e aceitado pouco dinheiro ao Miguel. Queria que eu pedisse um aumento da pensão e alugasse um apartamento para mim. Ela tentava dar a entender que era para eu ficar à vontade, para Alice ter um lugar melhor para viver, mais seguro, mas no fundo eu achava que ela já estava cansada de mim e das bagunças de Alice. Ou talvez quisesse levar o namorado para casa. Que fosse. Eu me esforçava para ajudar com as despesas, mas ela sempre fazia algum comentário sobre como Alice era bagunceira e como ela estava cansada de tudo. Só que ela nunca havia dito isso antes de o Miguel aparecer.

O dinheiro que Alice recebia do pai não dava para pagar aluguel. Portanto, eu teria que trabalhar o máximo que pudesse para um dia sair da casa de minha tia e ir morar com minha filha em outro lugar. Procurei vaga numa creche e chamei uma mocinha, filha de uma vizinha, para cuidar dela no horário em que estava em casa. Não disse isso ao Miguel porque ele não ligou, mas imaginei que ele não fosse se importar. Eu tinha que trabalhar para ganhar a vida.

Porém, logo após eu levar Alice na creche pela primeira vez, Miguel apareceu. Como sempre, sem avisar. Foi uma surpresa tão grande que quase desmaiei. Era a tarde de uma sexta-feira quando, ao sair na calçada em frente o salão, encontrei o carro dele, aquele mesmo SUV que havia me sequestrado, com o Sandro ao volante. Tremi da cabeça aos pés. Aquele homem me deixava com um medo genuíno, e eu não sabia explicar o motivo. Cumprimentei os dois cuidando para não transparecer meu pânico.

Miguel estava de calça jeans escura, camisa branca com as mangas dobradas e simplesmente lindo. Sua barba bem-feita e sua pose, encostado no carro com as mãos nos bolsos, só me faziam pensar em como devia ser estranho para ele saber que tinha ficado com uma comunzinha como eu. Quando me viu, ele se desencostou do carro e me estendeu a mão com um sorriso contido.

— Desculpe vir sem avisar. Eu estava passando por aqui e...

Ri.

— Oh, eu entendo. Sei como é corriqueiro você passar por aqui, na rua Portugal.

— Deixa-me ver minha filha enquanto espero que você desocupe para conversarmos.

Conversarmos... meu coração acelerou.

— Alice está na creche agora. Ela começou hoje e...

Miguel ficou furioso. Cruzou os braços e me encarou.

— Por que ela está numa creche? Não devia estar com você?

Demorei alguns segundos para interpretar as perguntas e a postura agressiva dele. Apesar da voz calma, havia uma acusação ali.

— Ela está onde estão outras crianças da mesma idade e que são filhas de mães que trabalham. Eu trabalho.

— Ela não deveria estar numa creche. Vá buscá-la o quanto antes.

O coração, que antes batia descompassado por causa da beleza e da simpatia do pai de minha filha, agora pulava de raiva. Quem ele pensava que era?

— Calma aí, querido! Eu vou buscar a minha filha no horário certo. Se for um assunto urgente, posso ir mais cedo, mas não parece que é algo urgente. Você pode passar mais tarde e ela estará aqui.

Miguel continuou de braços cruzados, mas suspirou e olhou para cima.

— Certo. Eu deveria ter ligado e te informado melhor. Não quero a menina numa creche por várias razões. Uma delas é o que pretendo discutir com você. É uma questão de segurança.

Insensatez (Em Andamento)Where stories live. Discover now