Capítulo 17

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Miguel voltou ao quarto nu e com uma cara engraçada. Imaginei o que tinha acontecido.

— Ela acordou, né.

— Acho que a ouvi chorar. Chorou e parou.

Catei minhas meu vestido e calcinha do chão, já sonolenta, e corri para o banheiro. Tomei um banho rápido e vesti o mesmo vestido. Mudei a fralda de Alice e desci com ela para fazer a mamadeira. Miguel ficou me olhando cuidar da nossa menina e tentou me ajudar a colocá-la de volta na cama, o que não deu certo. Como estava dormindo desde à tarde, agora ela queria brincar. Coloquei um colchonete no chão, peguei alguns brinquedos e fiquei brincando com ela, tentando manter meus olhos abertos. Miguel ficou um tempo conosco, bocejou vezes e eu o mandei dormir. Acho que eu dormi primeiro que Alice, no chão mesmo, com a luz acesa. Quando acordei, porém, nós duas estávamos cobertas e a luz estava apagada. Miguel tinha feito aquele pequeno gesto de cuidado enquanto eu estava dormindo.

Me levantei um pouco mais tarde que o normal. Alice, claro, ficou dormindo, depois de ter me dado um cansaço à noite. Eu teria que regular os horários dela se quisesse descansar nas horas certas de novo. Desci esperando encontrar o Miguel lindo e bem-humorado da noite anterior e continuar nosso "envolvimento", mas infelizmente não encontrei. Bem, encontrei, mas dessa vez ele estava sério, concentrado, apático. Será que está arrependido? — pensei. Tive vontade de perguntar. Ele tinha feito um café e estava na sala com uma xícara.

— Alguma novidade ruim? — perguntei antes mesmo de desejar bom dia. Já tinha sacado que tinha algo errado, e não era comigo.

— É o trabalho. Tenho coisas urgentes para resolver em Portugal.

— É mesmo? — falei, de mau humor. Eu não esperava que depois da noite que tivemos ele fosse se transformar num príncipe encantado, mas ir embora assim era demais, até mesmo para ele.

— Vocês duas vão ficar bem.

— Você sempre diz isso, e o resultado costuma ser desastroso. Você vai me levar de volta à casa de minha tia e aparecer daqui a um mês?

— Não. É melhor você não voltar para lá. Ela pode estranhar, depois de você ter ficado tanto tempo fora.

— E qual é sua ideia brilhante?

— Pensei em deixá-la aqui. É um lugar bonito.

Olhei-o, pronta para atirar uma xícara em sua cabeça e o vi sorrir. Ele estava brincando, não estava?

— Onde você gostaria de ficar? — perguntou ele, dessa vez, sério.

— Não sei. Mas ficar fugindo e me escondendo não está me fazendo bem. É horrível me sentir uma prisioneira.

— Entendo. A gente pode transformar isso aqui em um lar, pôr coisas mais pessoais, contratar empregados para fazer o trabalho e não te deixarem sozinha. O que você acha? Se você concordar, posso conseguir funcionários de confiança em algumas horas. São pessoas simples e gentis, que sempre trabalham aqui.

Não retruquei. Deixei que Miguel fizesse seus arranjos como quisesse. Se eu estava aborrecida? Sim, eu estava, mas em um ponto eu estava feliz. Seu mau humor era porque ele iria viajar e não porque tinha se arrependido de algo, e cá entre nós, eu já tinha me acostumado àquela casa e aquele clima de incertezas. Me limitei a observar as pessoas que chegaram depois que ele fez algumas ligações. O "algumas horas" que ele tinha previsto para conseguir funcionários se limitaram a quarenta minutos, no máximo. Era como se o casal de empregados estivesse esperando do outro lado do muro. Mais tarde soube que praticamente estava mesmo. Eles moravam por perto, e aquela casa amarela era o ambiente de trabalho da família havia décadas.

Insensatez (Em Andamento)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora