— Epa, epa, epa! — foi o que consegui dizer. Dei passos para trás e tive vontade de correr. — Isso está muito errado. Esse homem só pode ser um ilusionista. Um charlatão.
— Você esteve na igreja? — perguntou Miguel, com a mão ainda estendida.
— Você sabe que sim, aliás, você não. Ele sabe. E está te fazendo de trouxa.
— Vamos voltar. Essa menina precisa de um agasalho.
— Essa menina é sua filha. A mãe dela está prestes a enlouquecer, e a culpa é toda sua.
Miguel me olhou nos olhos, sem raiva dessa vez. Estava quase preocupado, posso dizer.
— Fique aqui. Eu volto já. — Ele se afastou, juntamente com o charlatão que o tinha levado até meu esconderijo, e longe de mim, eles conferenciaram por alguns minutos. Não foi possível descobrir o teor da conversa. Então ele voltou. Abriu a porta do carona e pôs a mão no meu ombro. — Você está melhor?
— De que adianta dizer que não?
— Por favor, entre no carro. Você ficará bem se me acompanhar.
Concordei. Me sentei no banco da frente com Alice no colo, já que estávamos m saindo da cidade, e Miguel dirigiu até a casa em silêncio. Evitei olhá-lo para não ver o maldito anel em sua mão. Mas antes de chegarmos, quando eu estava menos cansada, fui obrigada a perguntar.
— Tem certeza de que esse anel é o original?
— Tenho.
Ante a resposta firme, não retruquei. Mudei o foco.
— Por que aquele homem veio atrás de mim?
— Ele não veio atrás de você. Veio falar comigo, mas nos desencontramos. Eu tinha parado no caminho.
— De forma alguma eu acredito nisso.
Miguel me olhou, mas não replicou. Tínhamos chegado, então eu saí do carro e me dirigi à porta. Esperei que Miguel a abrisse e entrei. Estava bem frio do lado de fora, diferente de horas antes, quando o sol brilhava.
Desisti de dar banho em Alice. Deixei-a dormir no sofá e me sentei numa cadeira. Céus, eu estava acabada! Todo o meu corpo doía. Meus cabelos estavam desgrenhados, minhas pernas arranhadas, e eu tinha suado na corrida. Tudo o que eu queria era me sentar e fechar os olhos.
Miguel se sentou numa cadeira próxima. Demorou a falar, mas senti que ele me observava.
— Por que você não acreditou no que eu disse?
— Porque não é a verdade. Aquele homem não veio atrás de você, você não estava sozinho quando me ligou, e foi ele quem te guiou até onde eu estava. Viu? Eu sei de tudo. Não me pergunte como, mas eu sei. Quase posso ver.
— Ângelus trazia algo que podia localizar o anel. Era o anel que ele seguia.
— E como chegou até mim?
— Seria porque você estava com ele?
— Não estava. Ainda não acredita que eu fui assaltada, né? Eu não sei o que...
— Acredito sim, eu falei com os assaltantes. Nem eles sabem o que aconteceu. Pegaram, perderam, procuraram, sofreram um acidente. Quando saíram do hospital, sofreram na mão de quem tinha vindo do outro lado do mundo atrás do prêmio. De alguma forma, o anel voltou para você.
— Não voltou não. Eu não o vi.
— Esse é o ponto. Ele estava aqui. Mas acredito em você. Não havia razão para você esconder isso de mim.
ESTÁS LEYENDO
Insensatez (Em Andamento)
Chick-LitNo seu aniversário de 22 anos, Ester é sorteada na promoção de uma rede de supermercados. O prêmio: uma viagem para uma praia no Rio de Janeiro, com todas as despesas pagas. Decidida a aproveitar sua primeira oportunidade longe dos pais rígidos e re...