Capítulo 16

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— Epa, epa, epa! — foi o que consegui dizer. Dei passos para trás e tive vontade de correr. — Isso está muito errado. Esse homem só pode ser um ilusionista. Um charlatão.

— Você esteve na igreja? — perguntou Miguel, com a mão ainda estendida.

— Você sabe que sim, aliás, você não. Ele sabe. E está te fazendo de trouxa.

— Vamos voltar. Essa menina precisa de um agasalho.

— Essa menina é sua filha. A mãe dela está prestes a enlouquecer, e a culpa é toda sua.

Miguel me olhou nos olhos, sem raiva dessa vez. Estava quase preocupado, posso dizer.

— Fique aqui. Eu volto já. — Ele se afastou, juntamente com o charlatão que o tinha levado até meu esconderijo, e longe de mim, eles conferenciaram por alguns minutos. Não foi possível descobrir o teor da conversa. Então ele voltou. Abriu a porta do carona e pôs a mão no meu ombro. — Você está melhor?

— De que adianta dizer que não?

— Por favor, entre no carro. Você ficará bem se me acompanhar.

Concordei. Me sentei no banco da frente com Alice no colo, já que estávamos m saindo da cidade, e Miguel dirigiu até a casa em silêncio. Evitei olhá-lo para não ver o maldito anel em sua mão. Mas antes de chegarmos, quando eu estava menos cansada, fui obrigada a perguntar.

— Tem certeza de que esse anel é o original?

— Tenho.

Ante a resposta firme, não retruquei. Mudei o foco.

— Por que aquele homem veio atrás de mim?

— Ele não veio atrás de você. Veio falar comigo, mas nos desencontramos. Eu tinha parado no caminho.

— De forma alguma eu acredito nisso.

Miguel me olhou, mas não replicou. Tínhamos chegado, então eu saí do carro e me dirigi à porta. Esperei que Miguel a abrisse e entrei. Estava bem frio do lado de fora, diferente de horas antes, quando o sol brilhava.

Desisti de dar banho em Alice. Deixei-a dormir no sofá e me sentei numa cadeira. Céus, eu estava acabada! Todo o meu corpo doía. Meus cabelos estavam desgrenhados, minhas pernas arranhadas, e eu tinha suado na corrida. Tudo o que eu queria era me sentar e fechar os olhos.

Miguel se sentou numa cadeira próxima. Demorou a falar, mas senti que ele me observava.

— Por que você não acreditou no que eu disse?

— Porque não é a verdade. Aquele homem não veio atrás de você, você não estava sozinho quando me ligou, e foi ele quem te guiou até onde eu estava. Viu? Eu sei de tudo. Não me pergunte como, mas eu sei. Quase posso ver.

— Ângelus trazia algo que podia localizar o anel. Era o anel que ele seguia.

— E como chegou até mim?

— Seria porque você estava com ele?

— Não estava. Ainda não acredita que eu fui assaltada, né? Eu não sei o que...

— Acredito sim, eu falei com os assaltantes. Nem eles sabem o que aconteceu. Pegaram, perderam, procuraram, sofreram um acidente. Quando saíram do hospital, sofreram na mão de quem tinha vindo do outro lado do mundo atrás do prêmio. De alguma forma, o anel voltou para você.

— Não voltou não. Eu não o vi.

— Esse é o ponto. Ele estava aqui. Mas acredito em você. Não havia razão para você esconder isso de mim.

Insensatez (Em Andamento)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora