À noite, Miguel saiu do quarto bem vestido, mais bem vestido que qualquer outra ocasião que eu já tinha visto, e olha que normalmente ele se vestia bem. Eu já tinha arrumado Alice e a entreguei em seu colo. Ela estava linda com os cabelinhos presos e o vestido branco novo. Ele tinha ficado um pouco grande, mas não fazia diferença. Fechei a porta do quarto para me vestir. O único espelho do quarto não era muito grande e ficava na porta do guarda-roupas. Despi o vestido que estava usando e peguei o que Miguel tinha me presenteado. Vesti-o. Serviu perfeitamente. Eu me lembrava de que, para se ter um vestido perfeito naquele tipo de tecido, era preciso algumas provas e ajustes. Não era sorte demais Miguel ter encontrado um exatamente no meu tamanho? Pus brincos prateados que combinaram bem com o azul escuro da peça. Testei sapatos. Eu não tinha muitos pares. Eu não tinha levado nada de casa, e o fato de quase não sair não auxiliava muito na hora de comprar. Miguel deixava dinheiro para que eu comprasse o que quisesse, mas algumas coisas exigiam mais força de vontade que eu normalmente tinha. Acabei na única sandália de salto que eu tinha, e não era tão alta. De cor nude, ela ficou quase imperceptível nos meus pés.
Eu já tinha feito uma maquiagem discreta quando estava no banheiro e arrumado os cabelos, mas retoquei destacando melhor os lábios. Miguel tinha algo em mente e eu que não ia fazer pouco caso aparecendo de cara lavada onde quer que ele estivesse nos levando. Desci e ele estava na sala. Alice estava de pé no sofá e ele a estava segurando com muito cuidado. Os empregados não estavam à vista, o que não queria dizer que eles não estivessem presentes. Eles ficavam o tempo todo na casa. Eram invisíveis como mandava o bom treinamento.
— E então? — falei, quando desci a escada.
— Você está linda — Miguel disse, e não vi nenhum sarcasmo em seu rosto. Também não me iludi muito. Talvez ele só estivesse sendo educado.
— Obrigada. Você teve bom gosto e muita sorte para encontrar esse vestido no meu tamanho exato.
— Sou bom observador.
— Imagino que sim. Você também está perfeito.
O que não era nenhuma novidade. De bermuda e camiseta Miguel ficava pronto para aparecer na TV, imagina usando o melhor corte disponível.
— Para onde estamos indo? — perguntei, ajeitando Alice no carro. Ela fez birra pois não estava acostumada a ficar amarrada daquele jeito.
— Um restaurante, como eu havia dito. Lamento não as ter levado para conhecer as coisas boas da cidade antes. Você estaria menos entediada e menos aborrecida comigo.
— Fico feliz que tenha pensado nisso justo hoje. Não saí nenhuma vez enquanto você esteve fora e estava ficando louca.
— Fez bem em não sair sozinha.
Foram apenas alguns minutos até chegarmos ao restaurante reservado por Miguel. Era um simpático estabelecimento de madeira e pedra, iluminação indireta e muito glamour. Me senti estranha ao entrar. Eu não era acostumada a nada daquilo e não tinha educado Alice para ser uma bonequinha perfeita. Ela era bagunceira.
— Crianças são permitidas aqui? — questionei, olhando em volta. As mesas ficavam longe umas das outras.
— Claro! Não se preocupe se ela se sujar.
Num canto do restaurante havia um espaço lúdico com brinquedos e distração para crianças, e eu entendi que Miguel tinha pensado em tudo.
Nos sentamos e ele me deu sugestões de acordo com o cardápio apresentado pelo garçom. Dei palpites conforme ele pediu, mas deixei que ele escolhesse os pratos. Enquanto aguardávamos e olhávamos Alice brincando, nossos olhos se cruzaram. Então eu vi que ele finalmente estava acessível para conversar. Durante o dia ele tinha ficado às voltas com telefones e papeis, e não sobrou tempo para mim, mas agora era a minha vez.
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