Quem olharia para uma velha e doente enquanto o sol fulgurando em plena noite atraía todos os olhares presentes? Amélia sentia o rosto quente mas apreciava a sensação de ser admirada.

As pessoas se achavam confusas quando a encaravam. Onde olhar? Que era mais precioso, mais belo, mais raro? Seu colar ou seus olhos?

Depois ela caminhou pelo imenso hall que, braço já entregue ao seu pai, a levaria para a sua primeira valsa diante da mais seleta estirpe social da Corte do Rio de Janeiro.

Dr. Crisóstomo Mascarenhas suou frio naquela noite. Principalmente quando analisou o olhar dos homens. Nunca poderia imaginar que a filha mudasse tanto. Ele, pessoalmente, olhava em seus olhos e reconhecia como poderiam ser mortificadores para um homem apaixonado. Achava que tivesse saído ao pai biológico. Aliás, torcia por isso. Olhou de esguelha a esposa que não se interrompia de fitá-los com uma seriedade misteriosa e junto dela temeu.

Não adiantava tentar se enganar!

Era como se vissem Dulce Catherina outra vez, mais viva que nunca e, o mais surpreendente: mais bela que jamais teria sido.

Como se a vissem outra vez bailar mimosa, valsar arrebatada e sorrir concedendo sua atenção a poucos dos tantos que, no presente, passaram a orbitar em volta de Amélia.

A carruagem de Fabrício parou na frente da residência de D. Paulina. Ali de dentro, ele olhou para além dos portões e das janelas do casarão bem ao estilo português colonial; vazava uma luz dourada, notas alegres de composições festivas e, na frente dessas, um vaivém de pessoas.

Ele se perguntava se Amélia teria mudado muito.

Sua língua ferina teria acalmado ou, para sua diversão, teria ganhado experiência para os embates futuros? Ah, por um momento ele desejou que não fosse tudo difícil demais.

A primeira coisa que fez quando pisou no salão foi pedir ao mestre de cerimônias para marcar o cartão de danças de Amélia. Ficou surpreso ao saber que já estava marcado.

Atravessou o salão onde se apinhavam os convivas. Procurava por uma face conhecida. Bem, todas ali o eram, mas ele buscava alguém com quem dividisse a menor intimidade, para não sentir-se tão deslocado.

Foi avistado por D. Maria Laura que, tocando em seu ombro, fez com que se voltasse.

Olhou bem no rosto dela e achou que, embora arrumada com fino cuidado, parecia magra e pálida demais. Soube o que ela tinha naquele momento: um mal sem cura ou nome, que arrazoava de terrores aos médicos que se embatiam por pesquisá-lo.

— Que bom que chegaste, filho. Bem a tempo da quadrilha... Já marquei teu nome no cartão de dança das moças...

— Ah, então foi a senhora! — ele sorriu com simpatia genuína.

— Espero que me perdoe o atrevimento, mas temi que os rapazes não deixassem nem um pouquinho de Amélia para ti, ou as moças nem um pouco de nada para minha menina...

— Nem um pouco de Amélia? — ele não compreendia. A Amélia de que se lembrava não tinha muitos atrativos além de dois que o haviam verdadeiramente desconcertado: os olhos e o gênio. — Bem, isso mostra o como somos disputados no salão! — emendou depressa.

— Ora, e como não seriam? Jovens, belos e solteiros...

— Amélia é minha noiva! — ele sorriu ao declarar.

— Quase, filho, quase! — ela corrigiu-o, esforçando-se por demonstrar como gostaria que aquilo já fosse um fato. — Em breve terei o orgulho de te ter por meu futuro genro. Por enquanto, bem, o senhor sabe, precisa convencer Crisóstomo de que fará Amélia feliz.

Graciosa [Em Andamento♡]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora