Só que Amélia não.

Amélia foi soberanamente embelecida pelo passar do tempo.

Além de sua pele se fazer resvaladia como cetim, suave e fresca como um sonho etéreo, as carnes que lhe cresceram assentaram em cada canto, curva de seu corpo. Sumidos os chamarizes vermelhos de sua face que agora era homogênea, doce e corada nos lugares certos, os olhos lilases se destacaram, as pestanas e cílios fizeram seu papel de um modo que tornou o conjunto ainda mais esplêndido.

O cinzel da natureza ainda fazia seu trabalho e ai daqueles que desprezaram a doce Amélia em sua púbere feiura. Vejam só, olhem como ela transformou-se.

A mais graciosa das estrelas da constelação fluminense ascendeu à grandeza absoluta!

O queixo mimoso, o nariz de boneca e a testa discreta tinham por arremate a boca pequena, polpuda e naturalmente encarnada como sementes de romã.

Amélia Bernardes Mascarenhas tornou-se, afinal, a “Bela D. Amélia dos Mascarenhas!”

Estava correndo em seu sangue, sem ela suspeitar, um fulgor de celebridade parisiense.

Amélia desceu impetuosa da carruagem, sem esperar por ajuda e abraçou a avó. Os olhos de D. Paulina brilharam. A neta conseguia estar ainda mais bonita que no ano anterior!

D. Paulina Bernardes reprimiu um tênue tremor que a acometia ao ver Amélia, assim, tão encantadora em seu vestido de tafetá num discreto tom de vinho escuro. Sob o chapéu de palhinha, o talhe elegante, o rosto formosíssimo, era como ver Dulce Catherina, em aparição, assim, bem diante de si. A aparência era semelhantíssima. A postura, o charme e trejeitos atrativos, os mesmíssimos.

A neta tendo crescido alguns centímetros ganhou braços mais esguios e proporcionais e ombros e pescoço mais graciosos. Os cabelos arranjados entre flores e refofos discretos eram muito mais harmoniosos e vistosos que aqueles cachinhos que usava antigamente. Davam-lhe um ar inteligente, assim como a voz que agora era mais baixa, aveludada e modulada.

E eram esse os pensamentos de uma avó quando abraçou a nete que disse sem conter uma lágrima:

— Vovó Paulina!

Quando Amélia, algumas semanas depois, adentrou no primeiro salão de sua vida, seus predicados físicos e seu modo mimoso de se portar ganharam adjetivos outros inimagináveis para ela.

Todos queriam ver, tocar e ter com Amélia Mascarenhas. Quanto mais os mancebos!

E ninguém ignorou os olhares de rapina dos senhorem mais velhos, solteiros, viúvos...

Foi a avó quem ofereceu o seu baile de debutante.

O casal Mascarenhas não via mais porque adiar, agora que afinal ela terminara os estudos em Friburgo.

Foi num momento dramático, bem depois do início da festa, todos perguntavam por ela, mexeriqueiros, sobre os motivos que retardaram tanto seu debutar, que desceu a escadaria ostentando o colar que pertencera a sua mãe biológica, confeccionado de ouro e fulgentes e límpidas ametistas, pesadas gemas que poderiam envergar seu pescoço caso não estivesse bem preparada para usá-lo.

Dulce Catherina ganhara aquele conjunto que muito pouco usura ao completar 18 anos. Ela mesmo escolhera as pedras, o modelo das peças. Estivera inspirada emuma presença que não lhe saía dos pensamentos. Seu pai, que pagava o capricho da filha secretamente preferida, jamais poderia imaginar a fonte daquela inspiração. Maria Laura quando viu Amélia ostentar aquela lembrança viva, não pode conter um comovido suspiro de amarga lembrança que ninguém percebeu.

Graciosa [Em Andamento♡]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora