você vai falar com ele?

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— Sou eu, San — me apresento no interfone do condomínio onde Seonghwa mora. Quando sou liberado, entro e vou direto para seu prédio.

Digito o número do andar e me olho pelo espelho do elevador. Estou aparentemente destruído e até viro-me de costas para não morrer de desgosto. Assim que saio do elevador, dou de cara com a figura vestida com roupa social, inclinada para o lado, recostada no batente da porta. Em dias comuns, nos abraçaríamos e falaríamos como foram esses dias. Mas ele está sério, de braços cruzados.

— Eu vou te dar meu iPad de novo. Dessa vez, fica com você. Vira seu — diz, assim que entro no imóvel. Ele fecha a porta e eu me jogo no sofá, sentindo-me em casa.

— Não, obrigado. Você sabe que eu nunca aceitaria — respondo. Seong pega o iPad, que estava carregando, e praticamente joga sobre mim, com fone e tudo.

— Eu não pedi sua permissão — senta-se ao meu lado. — Faça login com suas contas e mande uma mensagem para o Wooyoung.

— Eu não vou mandar uma mensagem para o Wooyoung agora. Eu quero conversar com ele frente a frente.

— Ah, então você vai falar com ele? Tem uma hora que te contei aquilo, você simplesmente surtou e desligou o telefone. Sério, San, eu estou tão puto quanto você. Olha... — Seong respira fundo. Eu ainda estou a assimilar, então não sei como estou. — Ele prometeu que iria te contar. Ele prometeu para mim.

— Que porra é essa Seonghwa? Você já sabia disso?

— Sim — ele respira fundo, após hesitar por alguns instantes.

— Há quanto tempo?

— Bem, isso não...

— Há quanto tempo? — repito, insistindo na pergunta.

— Ah, sei lá. Há alguns meses.

— Puta merda — deixo o iPad no sofá e me levanto, caminhando à sacada para tomar um vento na cara ou, quem sabe, dar tempo ao Park para que ele diga logo de uma vez que isso é uma brincadeira muito bem arquitetada por ele. — Isso é mentira, né?

— Eu pensava que você já sabia faz tempo, porque desde aquele dia em que eu e Mingi fomos te levar pra sair e o Wooyoung ficou com ciúmes e te levou para a casa dele.... Desde esse dia eu pensei que ele já estava pra te contar. Tanto que não tinha certeza sobre e não comentei contigo. Mas ele disse que ia mencionar isso contigo. Ele prometeu.

— Wooyoung prometeu? — giro o tronco para olhar a sala. Seonghwa acabou de voltar do trabalho, pelo o que percebi.

— Sim.

Uma vez que Seonghwa contou-me sobre isso, passo os olhos nas memórias bagunçadas de alguns momentos com Wooyoung. De fato, ele tem estado estranho há um tempo. E ele disse... Sim, ele disse que iria pensar sobre o pedido de namoro porque tinha algo acontecendo. "O que seria?", eu devo ter perguntado. Mas me lembro do seu olhar distante, do jeito disfarçado, do andar perdido. Ele disse que iria contar. Ele prometeu. Meu Deus, agora me lembro... Ele prometeu de dedinho. De dedinho! Se for realmente isso, eu realmente quero detestar Jung a partir de agora. Como pôde quebrar uma promessa de dedinho?

— Ele ia sumir do nada? Sem nem falar comigo? Quando é o vôo? Seonghwa, isso é realmente sério?

— Você acha que quero ferrar contigo? Eu não invento nada, ainda mais uma coisa de mau gosto — ele respira por alguns segundos, deixando a sala de estar num silêncio profundo. Seonghwa arranca a gravata, então acompanho sua mão no tecido. — E eu não sei, San. Você tem que conversar com ele.

— Quando é o vôo? — quero saber, cruzando os braços. Eu não sei o que pensar, não sei o que sentir. Eu quero pegar um travesseiro e rasgar de tanto socar.

— Depois de amanhã.

— Depois de amanhã? Vai tomar no cu, Seonghwa, isso é muito injusto! Wooyoung é um idiota se ele acha que vai sair assim do nada. Eu vou fazer ele ficar — nem eu percebo o peso que estou pondo nos meus próprios passos até escutar o som denso no piso.

— Espera — enfia o iPad numa sacola ecológica, junto com os apetrechos, e diz que é pra eu ter cuidado e não ser impulsivo.

Respondo que só vou conversar com ele, então pego um ônibus para o bairro riquinho dele e desejo que ele esteja em casa. Assim como meu celular e tudo na minha vida, Jung some do nada, após muito esforço. Bato à sua porta seis vezes, mas nada do galã sair. Todas as luzes estão apagadas, então isso quer dizer que ele não está em casa. Não vou ficar aqui esperando, então toco meu barco para casa.

Amanhã será eu e ele. Só eu e ele.

café et cigarettesWhere stories live. Discover now