você é patético!

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A amargura era tão espessa que eu, enjaulado internamente, privei-me do surto que é perceber que estou à caminho da casa de Jung Wooyoung — aliás, quando nos casarmos, quero o sobrenome dele para mim. Seria incrível dizer que sou "Jung-seja-lá-que-merda San", com o sobrenome e um maridinho diretamente importado da Tailândia. Todo mundo ia babar. Ou será que sou eu quem está babando pela imagem do meu reizinho dirigindo tão focado?

Sinto que sua casa está próxima, uma vez que estamos cercados de burgueses, fazendo coisas de burgueses com suas casas burguesas. E assim que Wooyoung estaciona o carro num mercado, fico me sentindo estranho ao sair e conhecer o mundinho encantado dos riquinhos.

— Wooyoung, diz pra mim que esse é o valor do quilo — me aproximo dele com hesitação, já dentro do mercado e dando uma olhada nos produtos. Estava eu olhando as frutas transgênicas dos burgueses quando me deparo com o preço.

— Está escrito: "a unidade", seu bocó — Wooyoung revira os olhos e volta a dar uma olhada nas bananas. Estou feliz que ele esteja normal comigo. Sei disso porque ele me xingou, é o jeitinho de sermos carinhosos um com o outro.

— Hã? — arregalo os olhos. — Isso dá o quê...? — passo a calcular, tentando converter em dólares. — Quase quatro dólares por uma maçã verde?!

— Bem-vindo ao capitalismo — comenta, sem entusiasmo algum.

— Você vai comprar mesmo aqui? — falo próximo dele, para nenhum funcionário escutar. — Digo... Sério mesmo?

— Só estou aqui porque estou louco pra comer uma banana — ele diz distraído, comparando o tamanho e as tonalidades das cascas.

Eu ponho a mão na boca e tapo o riso, mas de longe dá pra me escutar rinchando feito um cavalo. Eu nem sei mais quantos anos eu tenho. Fala sério, parece até que voltei ao ensino fundamental desse jeito. Mas foi engraçado, sim. Hehe. Desculpa.

— Quê? — Wooyoung vira-se para mim, confuso, tentando entender. Encontra-me com o rosto vermelho por rir demais e enfim se toca do que eu interpretei. Ele, como sempre, me bate. — Quê ridículo! Você é patético, San! Sai daqui!

Estou rindo mais ainda, só que agora estou feliz por ele ter sorrido e me batido. Acho que não há ninguém como ele. Porque ele me faz bem demais e sou muito grato pela sua existência.

— Estamos indo para a sua casa e...bem... acho que vai ter banana demais por lá — brinco, apoiando-me no carrinho de compras. Jung me joga aquele olhar autoexplicativo, do tipo que me diz que é melhor correr antes que ele tire o sapato do pé.

— Vê se cresce, ô, boboca — ele me dá um peteleco na testa. Mas dói, porque eu ainda estou com a droga do galo e meu chifre está latejando depois disso.

Eu recuo um pouco, com a mão na testa e resmungando de dor. Ele esqueceu que essa merda ainda está enfeitando minha testa. Poxa, eu queria tanto me livrar desse galo que sou capaz de arrancá-lo com uma serra. Eita, calma. Estou nervoso.

— Ai, meu Deus, San! Desculpa, de verdade! — ele se aproxima de mim, afasta minha franja para dar uma checada na situação. — Passou, passou...

Meu moreno ergue-se um pouco para deixar um beijinho estralado no meu galo. É tão rápido e tão amoroso que meu coração inverte as funções e começa a pensar demais, pensar demais no amor que tenho aqui bem guardadinho e quentinho. E quando ele volta ao seu tamaninho normal, eu estou todo envergonhado por isso.

— Mas será se eu posso te beijar, tipo só um pouquinho? — incho as bochechas de ar e armo um biquinho que deveria ser algo fofo e atrativo, mas que faz Jung rir.

— Quando chegarmos em casa — ele vira e volta a escolher as bananas.

Me pego aqui...Veja bem...Já pensou como seria se tivéssemos uma casa? Sei, bem besta e idiota pensar nisso agora, mas o modo como ele falou fez parecer que moramos juntos e não paro de sorrir por conta disso. Meu único desejo agora é que eu e ele possamos dar certo.

Empurro o carrinho até o caixa e só agora me bate uma vontade de comer salgadinho de queijo. Cutuco Wooyoung algumas vezes, mas ele me olha com raiva por estar importunando-o nas contas mentais dele — para ele fazer o cálculo antes de pagar e saber o exato valor do troco, evitando que a funcionária passe a perna nele. É o que ele acabou de me contar.

— Poxa, eu posso pegar um salgadinho de queijo? — peço, olhando para as inúmeras opções de guloseimas doces ao nosso redor. Culpa do capitalismo realmente, pôr um monte de estantes com porcarias na parte do caixa, implicitamente obrigando as pessoas a comprá-las.

— Na volta a gente compra — ele é muito engraçadinho ele.

— É sério — faço um beicinho, cruzo os braços.

— Vá lá e traga um daqueles pacotes de batatinha — ele revira os olhos, fazendo um gesto com as mãos para que eu me apresse, pois a fila está andando.

Sorrio feliz da vida, dando um saltinho como comemoração por ter conseguido algo próximo do que queria. Vou arranjar a tal batatinha e
aproveito e pego dois pacotes de uma vez, para que assim Wooyoung não coma do meu. Eu sou bem egoísta às vezes, mas é porque essas batatinhas são muito gostosas e, mesmo não alimentando, irão me deixar um gostinho legal na boca.

Estou abraçando os dois pacotes de batatas quando volto ao caixa. Wooyoung me manda voltar com uma, alegando que vou comer as duas e depois passar mal. Abro a boca para objetar, mas ele sempre ganha. Deixo só um pacote sobre o caixa e volto para devolver o outro. Ai, estou triste.

Calmamente caminho de volta ao caixa, mas só depois de ter dado uma olhada nos chocolates aqui ao lado. Poxa, queria tanto comprar... Mas vou ficar quieto com meu dinheiro. Respiro fundo e tento me enfiar na fila longa sem parecer que estou furando-a. É que Wooyoung já está pagando e eu nem consigo chegar até lá.

De vislumbre vejo-o erguer-se um pouco para pegar algo pendurado atrás da moça do caixa, cuja utilidade me é um pouco duvidosa, uma vez que deveria ser ela a fazer isso. E assim que meu anjo volta ao chão e estende dois pacotinhos para incluir no valor das compras, meus olhos saltam da cara ao constatarem que são dois preservativos. Sim. Preservativos. Camisinhas.

— Moço, o senhor está na fila? — um garoto aparentemente mais novo que eu pergunta ao meu lado, fazendo-me perceber que estou tomando o seu lugar na fila. Nego com a cabeça e decido sair por outro lugar.

Encontro Jung do lado de fora, com braços cruzados e me perguntando por que é que eu sumi. Nada respondo, pego a sacola de bananas e abro a porta do carro. Bem, é claro que as camisinhas não estariam aqui dentro, nem sei porque chequei. Minha burrice nem me surpreende mais.

Mas confesso que estou um tanto nervoso. Se ele comprou preservativos, realmente está planejando algo para nós hoje à noite e eu nem sei o que pensar sobre isso. Seonghwa disse que, assim que tiver certeza dos sentimentos dele, eu poderia me jogar de cabeça. Mas o pior é que Wooyoung disse que gosta de mim e não sei se isso já é um motivo para... bem...fazermos algo mais que beijar. Mas ainda não somos namorados e acho que eu deveria esperar ele se decidir. Ai, que confuso...

— Por que está calado agora? — pergunta-me, dando partida no carro.

— Nada, ué — dou de ombros e puxo o cinto de segurança.

Mas a verdade é que estou tremendo por dentro.

café et cigarettesWhere stories live. Discover now