Capítulo 36 - Choque

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Atenção: esse capítulo contém cenas que podem ser fortes para menores de idade ou pessoas sensíveis.


POV MIRANDA

Ploc...

Ploc...

Ploc...

Ploc...

Abro e fecho meus olhos.

Não faz diferença. A luz é fraca e muitas vezes nem consigo distinguir nada a minha frente, especialmente quando a portinha desse caixão está fechada. Eu nunca gostei de lugares fechados, nunca me senti confortável dentro de elevadores, mas agora, dentro dessa caixa, eu simplesmente me sinto enterrada viva.

Prefiro manter meus olhos fechados e imaginar que é apenas um sonho.

Minhas pernas, nem sinto mais. Então não tenho certeza se estou de pé ou deitada, mas acho que é a primeira opção, já que tenho dificuldade em colocar a comida na boca. Comida que nos primeiros dias vomitava, já que o cheiro da urina e fezes aqui dentro eram quase insuportáveis.

Ploc...

Eu tinha perdido as contas dos dias em que estava aqui. Primeiro comecei contando a cada alimento que me traziam, normalmente, eu sentia o início de uma fome e a comida aparecia, quase que imediatamente, então considerava que, a cada três refeições, havia se passado um dia inteiro. Eu engolia tudo, pensando no meu filho. Se eu morresse de fome, ele morreria também. Porém, após o segundo dia, apesar da sujeira em meus pés, eu continuava sentindo fome, mas a comida não vinha. Eu me lembro de esperar até desmaiar, no mais completo silêncio, rompido apenas por aquele barulho da água batendo em alguma poça ali perto.

Ploc...

Era acordada algum tempo depois, com a comida sendo colocada violentamente pelo buraco do caixão, que ficava na posição de minha boca, machucando meus lábios. Me sentia invadida, ao mesmo tempo aliviada. Eu não morreria de fome.

Não sabia como conseguia respirar ali dentro. Eu até gritei por muito tempo, mas depois simplesmente não tinha mais voz.

Não mudava em nada.

O pior era a dúvida de quando me matariam. Cada vez que o bebê se remexia, me lembrando que ele ainda estava lá, a angústia e a alegria se misturavam em minha cabeça. Eu queria gritar, mas nem voz tinha. Eu queria abraçar minha barriga, queria dar alívio e conforto para ele, mas não conseguia mexer minhas mãos.

Quando ele aparecia, sentia até um certo carinho no trato comigo. Pedia para eu abrir a boca, perguntava se eu tinha sede, um dia até perguntou da dor nas minhas pernas.

Não está mais doendo.

Respondi na ocasião. Havia mentido, mas logo isso se tornou verdade.

Mas quando era ela... minha boca estava por demais machucada, pois ela enfiava a comida com força, muitas vezes me engasgando. A água, era jogada por um caninho, sempre a mesma quantidade. No início eu recusava, mas logo percebi que ficaria sem, então comecei a comer e beber sem esboçar nenhuma resistência.

Conforme os dias se passavam, passava a esperar a visita deles. A solidão era massacrante. O escuro daquele lugar era desolador. Algumas vezes eu me unhava apenas para sentir se ainda estava viva. Esse pequeno ponto de dor me davam alegria.

Eu ainda sentia.

Tentava implorar pela vida do meu filho, que se remexia especialmente quando eu estava com fome. As vozes na minha cabeça falavam bastante comigo, mas de um ou dois dias para cá se calaram. Isso coincide com meu ventre se aquietar também. Estava preocupada, minhas lágrimas já haviam há muito secado em meu rosto.

Condemnnatu - Série Além Da Alma - Livro 2Where stories live. Discover now