Capítulo 28 - Como pode tudo mudar? - parte 2

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— Vossa Alteza já descansou? Já podemos ir? – o soldado se aproximou, com a cara um pouco melhor.

Assenti e começamos a subir. Ao final, estava esbaforida. Eu precisava de um banho, cama e comida, em qualquer ordem que fosse. Chegamos em frente a uma gigantesca porta que nos foi aberta, expondo um salão com muitas cortinas vermelhas. O piso era composto por mármore negro, igual as colunas que sustentavam o castelo. Em cada uma, pedras vermelhas eram encrustadas formando um símbolo estranho, mas que de alguma forma me lembravam a minha marca nefilim. Janelas altas deixavam a luz entrar sem pudor, mas ao encontrar as pedras preciosas a luz branca se dissolvia em tons de várias cores, deixando o ambiente de um tom rubro aterrorizante.

O teto era alto, desenhado com gravuras de lutas entre anjos, e ao caminhar lá dentro, o som do meu sapato ecoava de maneira sombria por todo lugar.

Uma funcionária do castelo me encontrou logo que chegamos na escadaria principal, fazendo reverência me pediu para segui-la.

— À esquerda temos os quartos para os membros do Conselho, membros da corte, Príncipes do Inferno e seus herdeiros – ela disse, subindo as escadas – à direita, os quartos dos membros da família real – ela falou, tomando essa rota – o seu será ao lado do Herdeiro 1 e de seu pai, que é o último – abriu a porta do penúltimo quarto, o imediatamente anterior ao de Lúcifer e esperou que eu entrasse – Há uma casa de banhos ali e no armário algumas vestimentas. O almoço será servido mais tarde, alguém virá chamá-la. Alguma dúvida? – A moça ficou parada me encarando.

— Eu... Eu só queria saber dos meus amigos, onde eles estão?

— Seus amigos são membros do Conselho, são da corte ou Príncipes do Inferno? – ela perguntou, de maneira automática.

— Não, que isso! – eu ri – eles são apenas meus amigos!

— Então eles ficam na ala leste do prédio auxiliar – respondeu com cara inexpressiva.

— E quando eu poderei vê-los?

— Não sei senhora. Algo mais? – ela disse, já fechando a porta do quarto.

— Ei, espere – a impedi – e Matahun? Meu guardião? – antes que ela pudesse perguntar se ele era alguém que estaria no lado de lá do corredor, já me antecipei dizendo que não, e que ele havia sido levado por soldados.

— Se foi levado por soldados, deve estar sendo ouvido agora por Lúcifer. Vai depender dele o destino do seu guardião – ela falou, entrando novamente no quarto – mas se vossa Alteza quer mesmo saber, o crime pelo qual ele está sendo acusado é um dos mais graves. Ele se apaixonou por um membro da família real, Lúcifer não costuma aceitar esse tipo de atitude de seus funcionários.

— Isso é ridículo! – eu falei, me aproximando dela – chegamos agora, como vocês podem saber disso? Ele estava comigo todo esse tempo, e isso não é verdade!

— A vibração da alma, Alteza. Você vai aprender tudo isso ainda. Mas descanse, se banhe, se ajeite. Mais tarde alguém virá te buscar.

— Qual seu nome? – perguntei antes que ela fechasse a porta.

— Ilana – ela respondeu.

— Obrigada, Ilana.

Ao fechar da porta, dei uma olhada ao redor. Meu quarto era imenso, mas a falta de móveis tornavam o ambiente ainda maior. Uma cama gigante, e uma mesinha de apoio era tudo o que havia ali. No banheiro ao lado, uma imensa banheira para dez pessoas era a atração principal. Apenas no armário, ao lado, que muitas coisas lindas podiam ser encontradas. Vestidos longos, curtos, justos e largos, calças, saias e blusas de todos os tipos estavam disponíveis. Sapatos de salto longo, curto, fino e grosso, anabela, rasteiras botas e tênis também estavam presentes. Me senti como qualquer criança em um parque de diversões, totalmente inebriada pela imensidão de produtos a minha disposição.

— Isso é incrível, como ele sabia meu número? – me perguntei ao constatar que os sapatos e roupas me cabiam perfeitamente – ah, claro! O que ele não sabe, não é mesmo?!

Decidi tomar um banho, ligando a água quente e a água fria da banheira. Encontrei alguns sais de banho ao lado, jogando-os para fazer espuma. Me despi e tentei retirar o cordão dourado dos punhos, inutilmente, visto que ele não saia por nada. Entrei assim mesmo e deixei-me aquecer pela água morna, relaxando pela primeira vez depois de tanto tempo. Ligando a hidromassagem, senti que poderia dormir naquela posição tranquilamente. Fechei os olhos e me permiti por alguns deliciosos minutos não pensar em mais nada.

Apenas quando a água deixou de aquecer meu corpo que resolvi sair de lá. Me enrolei no roupão de algodão branco e me dirigi ao armário de roupas. Não sabia o que deveria vestir para encontrar o senhor Rei do Inferno, então decidi ser o mais confortável possível. Um vestido largo que abrigava confortavelmente minha barriga de quase cinco meses de gestação cairia bem, assim como uma confortável sapatilha preta. Meus cabelos, que agora sim estavam limpos e cheirosos foram escovados com carinho e tranquilidade, habilmente acomodados em uma trança embutida que aprendi a fazer com Poliana, há alguns anos. Dois fios foram estrategicamente deixados soltos, logo a frente, finalizando o penteado.

Lembrar da minha amiga me deixou um pouco chateada, mas meu reflexo no espelho gigante que existia no banheiro não transpareceu nem um pouco do sentimento.

— Vossa Alteza... – a voz de Ilana ecoou do corredor – preciso que me acompanhe.

Eu me apressei a sair, e antes de apagar as luzes do quarto pensei: seja o que Deus quiser! Por mais engraçado que isso pudesse soar nessa situação.

Acompanhei Ilana, tentando reparar no caminho que seguia, para o caso de precisar sair correndo de lá depois.

— O que teremos para o almoço? – tentei quebrar o silêncio.

— Acho que um pato assado, não sei, não sou da copa – Ilana me respondeu, friamente – mas antes, vossa Alteza deverá passar por um teste – ela falou, parando em frente a um quarto e abrindo a porta de maneira sutil.

Eu olhei, desconfiada para dentro daquela sala, dando um passo para dentro. Assim que entrei, ela fechou a porta e vi que não estava sozinha.

Um senhor gordinho e um pouco baixo, careca e com bigodes me encarava, por trás de uma pira acesa com um fogo azul vivo. Ele usava roupas escuras e um manto vermelho bordado com fios dourados que iam até o chão. Fiquei parada próximo a porta sem reação por alguns segundos, antes de perceber que estava diante de alguém poderoso.

— P... pai? – gaguejei, esperando que aquele ser pudesse ser Lúcifer, e o encarei.

Ele apenas sorrio com jeito de deboche para mim, retirando de dentro do seu manto uma adaga pequena, curvada, cravejada de pedras vermelhas, acho que as mesmas que havia visto encrustadas nas colunas da parte de baixo do castelo. Tão rápido quando o vento, ele já estava segurando meus punhos em cima do fogo azul, por mais força que eu fizesse, não parecia ter dificuldade alguma em me manter imóvel naquela posição. O calor do fogo começava a me incomodar, na verdade, sentia minha pele queimando com ele assim tão perto.

— Quod ostensum est in sanguinem. – Foram as palavras ditas por aquele homem antes de talhar meus dois pulsos sobre o fogo, de uma só vez, me largando de lado assim que meu sangue caiu sobre o azul, tornando-o vermelho vivo.

Reparei no corte que ele havia feito, que na verdade não existia em mim. Ou melhor, já havia cicatrizado.

— Você está maluco? – reclamei, conferindo meus pulsos.

Ele apenas abriu um sorriso e fez uma reverência completa.

Queira me perdoar, Alteza. Se levantou e saiu por uma outra porta, aos fundos, bradando.

— É ela!

Condemnnatu - Série Além Da Alma - Livro 2Όπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα