Dance

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Depois de vasculhar cada canto daquela casa e não ter o mínimo sinal de Camila e nem Austin eu sentei no jardim que enfeitava a entrada. Tinha várias pessoas ali, uns gritavam enquanto saltavam pela grama, outros já estavam bêbados demais pra fazer qualquer coisa e até vi o corpo do Luis dormindo há alguns metros da onde eu estava. Coloquei a minha cabeça entre as mãos tentando descobrir como faria pra achar Camila, eu tinha sido muito estúpida, mas também não podia adivinhar que ela sumiria assim com aquele garoto.
Fui acordada dos meus pensamentos quando senti uma mão pesar no meu ombro, logo levantei a cabeça e encontrei com o rosto de Brad, suspirei e voltei a encarar o chão. Pelo canto do meu campo de visão constatei o corpo dele se sentando ao meu lado.
- Sabe Lauren - a voz dele era calma - você não precisa ficar tão preocupada assim...
- Você está vendo ela? - Arqueei a sobrancelha - pois bem, eu não estou.
- Eu sei, mas não é como se ela tivesse oito anos ou qualquer coisa assim. - O queixo dele descansou no meu ombro e assim comecei a sentir sua respiração no meu pescoço. - Ela é só um ano mais nova que você.
- Ela nunca veio numa festa Brad. - Fiz com que ele saísse daquela posição enquanto falava. - Por Deus, você sabe o quão nojento o Austin é?
- Espera... Como assim? - Ele me encarava confuso.
- Nada. - Meu estômago revirou. - Ficar sentada aqui não vai fazer ela aparecer.
Levantei rápido e segui mais uma vez pra dentro da casa, antes de realmente entrar olhei pra trás e constatei Brad ainda na mesma posição, deduzi que ele não viria e continuei minha busca pela garota.
Depois de alguns minutos girando pela casa sem nenhum sucesso avistei Dinah sentada numa poltrona do outro lado da sala, corri até ela.
- OH LAUREN! - Ela gritou me puxando para o abraço.
Eu não era especialista em embriaguez mas se eu tivesse certeza de uma coisa apenas aquela noite essa seria que Dinah estava bêbada. O cheiro forte de álcool que saía da boca dela me causava náuseas.
- Oh meu Deus! - Ela gritava ainda presa no meu pescoço. - Como eu te amo. - Senti os lábios dela pressionarem forte minha bochecha.
- Eu também te amo Dinah. - Falei entre risos enquanto tentava a colocar sentada novamente. - Dinah - peguei o rosto dela - atenção aqui. Você lembra quando foi a ultima vez que viu Camila?
- Ela... Camila. - A garota soltou uma gargalhada forte. - Ela é linda, certo?
- Certo Dinah. - Sorri fraco lembrando de como Camila estava essa noite. - Ela é linda.
- Eu não sou lésbica, você sabe...
- Ok Dinah, eu sei. - Estava me esforçando pra não dar risada. - Mas você viu ela pela ultima vez onde?
- Ah, eu não sei Lauren... Eu amo muito você, e a Camila também sabe?
- Oh, - Olhei rápido pra trás e Brad estava ali. - Temos uma embriagada aqui. - Ele ria.
Virei rápido dando um selinho demorado nele, aliás eu sabia como conseguir as coisas dele, e pedi pra ele levar Dinah pro carro e me esperar lá. Como esperado ele nem cogitou, apenas pegou cuidadosamente a garota que era maior que ele e a carregou pela sala até a saída. Sorri observando a cena.
Assim que eles desapareceram da minha vista subi as escadas pra uma última checagem. Olhei nos banheiros, nos quartos, corredores, em todo e qualquer canto ali e nada de Camila. Decidi que não podia fazer mais nada além de esperar, então fui em direção ao carro de Brad ver se estava tudo bem por lá. Mas, assim que abri a porta olhei pro outro lado da rua e no carro de Brad não estava apenas ele e Dinah, como também Austin e Camila, eu respirei aliviada antes de atravessar a rua.
- Oi. - Entrei no carro rápido fechando a porta.
Os quatro estavam do lado de fora rindo de alguma coisa que eu não estava nenhum pouco interessada em saber o que era, minha cabeça parecia que ia explodir e eu só queria ir pra casa. Eles pareceram perceber isso porque não demoraram muito pra se despedirem do Austin e subirem no carro.
Camila e Brad estavam em silêncio absoluto enquanto Dinah cantava alto demais uma música da Beyonce. Minha cabeça ia estourar a qualquer momento, eu estava sentindo, mas sabia que ela estava alterada, não ia adiantar eu pedir pra parar.
- Levo a Dinah pra casa dela? - Brad falou pausadamente.
- Não. - Falei depois de checar o estado da garota. - Deixa ela em casa também.
E mais uma vez fez-se silêncio. Dessa vez silêncio de verdade, olhei pra trás pra ver se tava tudo bem e vi Dinah dormindo encostada no ombro da Camila que ainda não tinha dito sequer uma palavra. Continuou esse clima ótimo dentro do carro até o Brad parar em frente de casa.
Ele ajudou a Camila descer a Dinah do carro e os dois a arrastaram pra dentro de casa enquanto eu ainda estava no carro, presumi que ele queria conversar comigo ou ao menos me despediria certo dele. Vi Camila beijar a bochecha dele e fechar a porta, então o garoto de cachos mal feito voltou pro carro.
- Ela não fez por mal. - Ele começou depois de um silêncio desconfortável. - O Austin é uma boa pessoa, você não deve conhecer ele e...
- Ok Brad, a coisa que menos quero na vida é discutir com você sobre quem o Austin é. - Levantei a sobrancelha esperando uma reação mas ele só continuou me encarando. - Afinal eu estaria certa no final.
- Claro. - As mãos dele acertaram o volante antes dele se virar pra mim novamente. - Você sempre está certa né Lauren? Bem, deixa eu te contar o que é certo: eu fazendo de tudo, realmente de tudo, pra conseguir te agradar porque eu realmente gosto de você, mas tudo o que você faz é me evitar e me tratar como um amigo qualquer. - Ele fez uma pausa. - Eu não sei se vou aguentar isso por muito tempo.
Eu odiava discussões, eu odiava de verdade, eu nunca sabia o que responder ou como, eu simplesmente ficava sem reação exatamente como eu estava no momento; parada ali, esperando que uma resposta boa o suficiente descesse do céu.
- Eu não pedi por isso Bradley. - Franzi o cenho olhando pra rua através do parabrisa. - Eu não pedi por nada disso, mas eu reconheço o quão bom você é pra mim, e me culpo todo santo dia por não poder te corresponder na mesma intensidade.
- Eu não quero que você faça tudo por mim, eu quero você. - A voz dele falhou na última palavra e eu senti meu coração palpitar mais rápido.
- Eu... - Encarei minhas mãos. - Eu tenho que entrar. - Dei um beijo rápido no rosto do garoto que ainda estava parado me encarando com uma expressão de dor. - Obrigada.
Desci do carro rápido.
Subi até meu quarto me xingando mentalmente, eu tinha certeza que eu não iria encontrar alguém tão incrível quanto o Brad, eu sabia o quanto ele gostava e lutava por mim e por isso me odiava. Eu odiava não poder corresponder. Eu odiava meus sentimentos.
Batidas leves na porta do meu quarto fizeram eu prender as lágrimas que estavam prestes a cair.
- Que? - Falei alto.
- É... hum... Sou eu. - A voz abafada pela porta de madeira era de Camila.
- Pode entrar.
Me arrumei sentada na minha cama quando vi a porta abrir e uma Camila ainda arrumada e com a saia que tinha ido à festa entrou no meu quarto. Ela fechou a porta devagar e sentou na beirada da minha cama sem dizer uma palavra.
- Então... - Eu falei rápido a encarando.
- É... A Dinah ta no meu quarto. - Ela encarava o chão enquanto falava. - Ela ta dormindo.
- Ok. - Me encolhi. - Tudo bem.
- Ok. - Ela finalmente ergueu os olhos pra mim fazendo meu estômago girar. - É... O Brad disse que você ficou chateada por eu ter saído com o Austin.
- Hm. - Revirei os olhos. - Não foi bem isso. - Sorri fraco enquanto falava. - Quer dizer, eu não sabia onde você estava então eu fiquei um pouco preocupada e...
- É, desculpa. - Ela se levantou e eu a acompanhei com o olhar. - Mas sabe você não é minha irmã e eu nem sou tão nova assim...
- Foi pelo Austin. - A interrompi. - Por você estar com ele.
- Ah. - Ela sorriu e eu fiquei em pé ao lado dela. - Não é como se ele fosse fazer alguma coisa de ruim, ele é uma boa pessoa...
E eu já não ouvia uma palavra que ela estava dizendo. Ela continuava falando, eu conseguia ver seus lábios bem desenhados mexendo, mas eu estava perto demais. Eu sabia que eu não podia chegar perto demais. Mas, eu já estava. Uma mão minha apoiou na lateral do quadril dela e assim vi ela me olhar assustada, agora seus lábios já não mexiam mais, e eu continuava sem ouvir nada, sem pensar em nada, era como se não houvesse um mundo fora dali, como se eu não tivesse com o que me preocupar, por mais clichê que pareça: era como se o mundo tivesse parado por nós. Meus lábios encostaram devagar nos dela, a minha mão que apoiava o quadril dela sentiu o corpo tremer, ela não estava preparada pra aquilo. Eu também não. Meu coração batia tão rápido que já não conseguia respirar normalmente. Minha mão livre subiu devagar parando na nuca de Camila. Ela continuava parada, sem fazer um movimento, apenas a sentia tremer. Um surto de desespero de "o que eu estou fazendo?" começou a passar por mim, mas eu tentei não ligar, mexi os lábios aumentando nosso contato e pedindo passagem pra minha língua, ela hesitou e eu fiquei com medo da rejeição, quando eu estava pra soltar o corpo dela senti a mão macia alcançar meus cabelos e ela finalmente se moveu fazendo com que nossos corpos se encaixassem. Começamos um beijo lento, era como se a gente tivesse passado a vida toda ensaiando pra aquele momento, nossas línguas sabiam exatamente como dançar. Eu não tinha dúvida que aquele era o melhor contato que eu tinha feito em toda minha vida.

ImpossibleWhere stories live. Discover now