Almost 18

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Eu estava de volta. Andava com a turminha dos mais "descolados" da escola. Sentava na mesa central do refeitório. Minhas aulas demoravam séculos para passar. Tudo seguia normal.

Exceto pelo fato de que estávamos entrando no último mês de aula. Aquele era meu último ano e era pra eu ter passado concentrada em alguma atividade e melhorando minhas notas se eu quisesse ter a chance de entrar em qualquer universidade. Mas, meu ano não tinha sido dos melhores. Minhas notas, por incrível que pareça, não estavam ruins. Porém no meu currículo não tinha nenhum diferencial.

Eu, ao menos, sabia que curso que queria fazer. Mas eu não estava ligando para aquilo. Ultimamente eu estava completamente neutra em vários aspectos da minha vida e apesar de ser um pouco triste pelo menos eu não estava em sofrimento por nada.

Dinah tinha me convidado para uma festa, pelo que eu tinha entendido ela estava ficando com um cara que cursava administração na universidade de Miami e essa festa seria na fraternidade deles. Normalmente pessoas que não frequentavam a faculdade não eram aceitas em festas de fraternidades, mas Dinah me prometeu que ele conseguiria colocar nós duas ali dentro.

Eu estava afim de sentir algo maneiro então não pensei duas vezes antes de aceitar, foi claro o entusiasmo na cara da garota quando o fiz. A bendita festa seria às 21:00 e eu ainda tinha que passar por um dia inteiro de aulas e pessoas me olhando com piedade.

Estacionei na vaga de sempre e Dinah desceu do carro. Camila não ia mais comigo pra escola desde a nossa conversa no parque. Aliás, com ela nada estava igual. Nós não éramos amigas, eu conversava com ela o mesmo tanto que conversava com meu pai, e se duvidar até os mesmos assuntos. Segui o caminho de todo dia até meu armário encontrando Brad encostado na minha porta.

- Bom dia. - Ele sorria grande. 

- A que devo a honra? - Eu falei enquanto tentava abrir a porta de metal.

- Eu estou me inscrevendo pra algumas universidades e a gente sempre combinou de escolher a mesma. - Percebi que  o menino corava enquanto falava. - Eu queria saber como está suas inscrições.

- Não está. - Eu falei rápido antes de soltar um riso. - Eu não vou me inscrever.

- Oi? - Agora ele me seguia pelos corredores. - Não. Você tem que se inscrever.

- Brad, eu fiquei dois meses sem vir pra escola, eu não pratiquei nenhuma atividade extra, eu não vou gastar dinheiro em inscrições porque eu sei que ninguém vai me chamar. 

- Eles vão saber do acidente, - o garoto tinha a voz embargada - e não vão só olhar o currículo desse ano Lauren. Você tem que se inscrever.

- Eu vou pensar sobre. - Falei antes de dar dois tapas no ombro dele e entrar pra sala.

Felizmente eu não tinha aula com Brad de sexta-feira, eu não queria falar sobre faculdade. Eu tinha feito algumas pesquisas e meu pai já tinha me enchido a cabeça também. Eu só queria pensar em outra coisa.

A aula passava tão lenta quanto uma lesma, a professora falava algo sobre Hamlet quando senti meu celular vibrar no bolso do meu jeans. "Eu estou com alguns panfletos de faculdades na mochila, me encontre na árvore. -B." Revirei os olhos e coloquei o celular de volta no bolso. Aquele ano tinha sido um tanto quanto difícil. Nada tinha saído conforme eu planejei, eu certamente não planejei me apaixonar pela Camila, muito menos levar um fora dela, não planejei socar a cara do meu melhor amigo e nem ser atropelada no estacionamento da escola. Eu ia me esforçar e participar de algum grupo. Talvez teatro. Mas agora eu estava ali sem diferencial algum, sem ninguém, me sentindo um completo saco de lixo.

-

Eu estava deitada no sofá de casa tentando pensar em qualquer coisa que não fosse "o que vou fazer ano que vem" quando ouvi passos se aproximando. Não fiz questão de sair da posição quando o corpo de Camila sentou com mais força que o normal no mesmo sofá em que eu estava deitada, me fazendo encolher um pouco as pernas. A televisão tava ligada mas eu não fazia ideia do que estava passando, mas a garota mantinha a cara fechada com os olhos concentrados para a tela brilhante.

Ela ficou ali alguns minutos, parecia nem respirar, eu também não fiz questão de me incomodar, mas não consegui desviar meus olhos do rosto dela um segundo sequer. Como podia aquela desgraçada ser tão bonita? As mãos dela tocaram a batata da minha perna fazendo um arrepio correr até o meu quadril. Meu coração parecia ter congelado por alguns instantes. Ela não tirou os olhos da televisão e eu não me movi.

- Que foi? - Ela disse sorrindo ainda sem virar o rosto pra mim. Eu ri.

- O que? - Falei num tom alto.

- Você está nervosa. - Ela ainda sorria.

- Não estou não. - Franzi o cenho sem ter certeza se ela conseguia ver meu rosto.

- Sua perna está toda arrepiada. - Antes mesmo dela terminar a última palavra eu já tinha recolhido minhas pernas o bastante para que o toque dela tivesse saído dali. - Lauren, eu não pedi por isso. - Agora ela falava numa calma que me encantava e me olhava nos olhos. - Eu gosto de você, eu não quero que a gente se distancie. 

- Camila, - Eu a interrompi. - não é como se eu pudesse fazer alguma coisa. - Sentei no sofá um tanto quanto distante do corpo dela mas nós mantínhamos olho no olho. - Eu te amo e eu não estou tentando esconder isso de você. - Meu coração agora disparava. - Se você não sente confortável com isso me desculpe, mas eu não vou te tratar como uma irmã. 

Ela ficou em silêncio e voltou os olhos para a televisão. Minha boca secou e eu também me virei para a tela brilhante. Eu queria  quebrar o silêncio e fazer alguma piada, ou dizer "tudo bem Camz, vou fingir que nada disso aconteceu entre a gente irmãzinha", mas eu preferi me manter calada. Eu não era mais uma criança e eu acho que era o que isso significava.

- Tudo bem. - Ela disse depois do que pareceu ser duas horas. 

- Desculpa. - Eu falei rápido e ela me olhou. - Eu não sei se pareci grossa, mas eu juro que não era a intenção. - Minhas mãos alisavam meu próprio rosto. - É que tem tanta coisa na minha cabeça agora e...

- Eu entendo Lauren. - Ela sorria novamente. - O que você vai fazer hoje?

- Vou numa festa com Dinah. - Falei rápido, aparentemente eu falava rápido demais quando tava nervosa. - Você quer ir?

- Quero. 

Só quando Camila respondeu que eu me toquei que convidei ela pra uma festa de alguma fraternidade da universidade de Miami na qual eu conheci zero pessoas. Eu levaria um grande drama comigo. E se qualquer coisa desse errado com certeza seria minha culpa. Dinah ia me xingar bastante porque apesar de gostar muito da Camila depois de algumas discussões ela jurou que não ia mais opinar sobre nosso "relacionamento", mas levar ela comigo obviamente ia fazer esse assunto voltar à tona.

-

- Você é retardada? - Dinah gritava comigo no telefone.

- Dinah, eu...

- Lauren nós estamos quase nos formando, temos quase 18 anos. - Ela gritava ainda mais alto. - A Camila tem o que? 15?

- Ela tem 16. - Eu ri baixo.

- O Fred vai me matar! - Ela já não gritava mais. - Tudo bem. - Eu sorri vitoriosa, mas ela não podia me ver. - Mas você tem que me prometer que primeiramente não vai ficar atrás dela a festa toda e ficar louca se ela sair com algum garoto.

- Eu prometo. - Sorri lembrando das festas que eu tinha levado Camila.

- Segundo você tem que prometer que não vai complicar mais as coisas entre vocês.

- Não sei se isso é possível. 

- Eu digo, não vai ficar bêbada ou qualquer coisa e se declarar pra garota e pedir pra vocês voltarem.

- Ok. - Eu ri alto dessa vez. - Eu prometo, Dinah. 

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