Punch

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Infelizmente tivemos que nos separar para assistirmos as aulas, eu estava com medo de que ela mudasse de ideia até o intervalo ou até mesmo o fim do dia e esse pensamento estava me matando. Se tinha algo em mim que eu odiava com toda a força que eu tinha isso era minha insegurança. E eu sempre fui assim, desde quando meus pais me separaram uma insegurança imensa foi plantada dentro de mim.

Meus olhos cruzaram com o de Brad assim que entrei na sala de literatura, ele tinha os cabelos bagunçados e estava sentado onde sentava toda segunda-feira. A mesa na sua frente estava vazia, eu sempre sentava ali e a gente passava a aula toda conversando, era sempre assim, então terminei o meu caminho e me sentei na frente dele. Coloquei o livro que tinha pego mais cedo no meu armário em cima da mesa e virei animada pra trás encontrando um Brad abatido.

- Ei. - Falei devagar esperando que ele pelo menos erguesse os olhos pra me encarar.

O meu chamado não foi atendido e eu simplesmente virei pra frente assim que nosso professor entrou na sala. Encarei o quadro enorme branco durante toda a aula que fizeram os 45 minutos parecerem mais como dois anos - sem exageros.

Observei uma garota que sentava do meu lado, eu não sabia o nome dela mas tinha certeza que ela estava ali por pelo menos três anos, ela tinha os cabelos loiros que iam até o seu ombro e acabavam ali, usava uma jardineira jeans por cima de uma camiseta larga de uma banda qualquer. Ela era realmente muito bonita e eu nunca tinha reparado nela. Isso me fez pensar no quanto eu não tinha reparado no mundo, em quanta gente passou por mim - ou até mesmo sentou do meu lado durante três anos - e eu nem me dei conta do quão bonito, ou inteligente, ou interessante eram essas pessoas.

O sinal finalmente bateu me tirando da viagem que eu tinha feito em meus pensamentos. Agarrei meu livro e virei a tempo de observar Brad pegar seu material e simplesmente sair da sala sem nem ao menos trocar um olhar comigo. Eu sabia que não tinha sido a melhor amiga nesses últimos dias, mas ele também tinha que compreender meu lado, não era justo ele só me ignorar.

O segundo horário - diferente do primeiro - passou voando e logo eu estava indo em direção ao refeitório. Enquanto completava meu caminho levantei os braços para amarrar meu cabelo num coque frouxo, antes que eu pudesse descer minhas mãos um corpo esbarrou no meu cotovelo arqueado, o impacto fez as mechas do meu cabelo caírem novamente, olhei pro lado e me deparei com Brad.

- Ei! - Falei firme e ele finalmente me olhou. - O que você está fazendo?

- Tentando chegar ao refeitório. - A voz dele era baixa.

- Não. - Bati no ombro dele com força o fazendo parar de andar. - O que você pensa que está fazendo? - Pausei esperando uma resposta mas ele só continuou me encarando com aqueles olhos escuros. - Onde você esteve esse fim de semana? Por que você não me ligou? O que está acontecendo?

E então um sorriso torto foi formado no rosto do garoto na minha frente, mas ele não parecia feliz.

- Você se importa, né?! - As palavras saiam por meio daquele sorriso sinistro. - Não Lauren, você não se importa porra. - Eu nunca tinha o ouvido falar com tanta agressividade antes. - Então porque você simplesmente não para com essa sua falsa preocupação e vai viver esse romance lésbico ridículo com a sua irmã mais nova?

Antes que eu pudesse pensar em qualquer outra coisa minha mão estava fechada chocado com força nas bochechas rosadas de Brad. Vi em câmera lenta seu rosto virar e então voltar pra me encarar, agora com um dos lados bem mais vermelho. Estava difícil focar minha vista por conta das lágrimas que se acumulavam nos meus olhos.

- Você meça suas palavras antes de falar sobre Camila e eu. - Falei pausadamente enquanto ele ainda me encarava incrédulo, agora segurando o lado do rosto que eu tinha acabado de esmurrar. - Você não tem esse direito.

Assim que terminei a frase ouvi passos rápidos se aproximarem, era o Sr. Clark, ele pediu para que nós dois o acompanhasse e eu sabia que estava fodida. Era meu último ano e eu devia ter um desempenho ótimo se quisesse entrar em alguma faculdade, e socar a cara de um garoto não era nada parecido com ter um ótimo desempenho. Mas, de qualquer forma, eu não me arrependia de ter feito, eu o socaria quantas vezes fosse preciso pra que ele parasse de falar daquele jeito, com aquele nojo.

Camila não era minha irmã, ela só morava na minha casa e nossos pais eram casados, mas geneticamente falando nós não tínhamos nenhum grau de parentesco. E eu a amava. Não tinha nada de errado ou nojento naquilo, eu não podia aceitar todo aquele ódio vindo de alguém o qual eu levava como melhor amigo.

Eu sentei na cadeira de couro e Sr. Hansen - meu diretor - me olhou com aquelas sobrancelhas grossas demais. Eu encarei o chão por algum instante esperando o sermão que viria.

- Srta Jauregui. - A voz grossa encheu a sala. Eu estremeci. - Não creio que YALE está convocando alunas boxeadoras. - Soltei um riso fraco ainda encarando o chão. - Tendo dito isso acho que se encontrarem essa nota no seu currículo suas chances diminuem. - Chacoalhei a cabeça concordando. - Mas, eu também não posso admitir que alunas saiam por ai socando os outros e simplesmente deixar isso passar em branco.

- Hum.. - Levantei o rosto. - Me desculpe, mas eu acredito que o Sr. também não deva admitir que seus alunos sejam tão ignorantes.

- Você socou o Sr. Simpson por ele ser ignorante? - As mãos grossas dele passaram por um monte de papel.

- Tecnicamente.

- Compreendo. - Ele escrevia alguma coisa em um dos papeis. - Mas isso eu vou resolver quando ele entrar na sala, por enquanto focamos em você. - Assenti abaixando o olhar. - Creio que se você cumprir um mês de serviço comunitário eu não precise adicionar nada no seu currículo.

- Um mês? - Arqueei as sobrancelhas. - Nem foi um soco direito.

- Ou podemos deixar o serviço comunitário de lado... - Os olhos dele me metralhavam. - E então adiciono aqui essa ficha de mau comportamento.

Eu suspirei forte. Nunca tinha tido nenhum desses problemas, eu nem sabia como funcionava esse negocio de serviço comunitário, mas a ideia me parecia horrível.

- Tudo bem. - Sorri fraco. - Eu aceito a punição.

O homem grande sorriu mostrando os dentes antes de me entregar uma folha, provavelmente sobre o tal serviço comunitário, eu já estava odiando aquilo.

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