Not enough

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- Ela disse que te ama qual o problema de vocês duas? - Dinah gritava sentada do meu lado enquanto eu dirigia em direção ao colégio.

Seria meu primeiro dia de volta à escola e eu tinha acabado de contar a Dinah da conversa que tive umas duas semanas atrás com Camila no parque, aparentemente a gente tinha "terminado". Desde então eu fiquei ocupada com minhas consultas ao médico e refazendo trabalhos das aulas que perdi durante os quase dois meses que fiquei longe do colégio, então tive pouco contato com Camila, ou com qualquer outra pessoa, mas Camila especialmente. 

- Ela disse que achava que me ama. - Eu retruquei com um sorriso de canto. - Depois de me culpar por ter beijado ela a primeira vez e antes de dizer que queria fazer funcionar nossa amizade.

- Agora você aceita tudo que te falam? - Dinah não parava de se mexer no banco e falar mais alto do que eu esperava. - Eu odeio vocês.

- Dinah! - Eu não contive os risos. - Está tudo bem na verdade, ela quis isso e eu aceitei. Inclusive pela primeira vez conversamos feito gente normal e eu esclareci que agora não se tratava mais de joguinhos e que se isso tudo não der certo ela vai me falar.

- No meu país isso se chama covardia. - A garota falou antes de abrir a porta e descer do carro.

Eu acho que era pra eu me sentir estranha ali naquele estacionamento, porque foi onde eu quase morri. Mas eu não sentia nada de diferente, era tudo normal. Era como se nada tivesse acontecido. Eu tentei puxar um outro assunto com a garota alta que andava emburrada do meu lado mas ela não facilitou. Assim que entramos no colégio mais amigos se juntaram a gente e fomos andando pelos corredores até eu encontrar meu armário. Algumas pessoas que eu nunca tinha visto antes me cumprimentaram e grande maioria do colégio sorria pra mim com cara de piedade.

Tentei me sentir o menos desconfortável possível. Enquanto pegava meus livros de biologia senti a pressão de uma mão na minha cintura e logo senti um frio subir pela minha espinha.

- Ei, - a voz conhecida me fez virar.

Era Brad. A última vez que a gente tinha ficado cara a cara eu tinha enfiado um soco na cara dele, e desde então ele me evitou ao máximo. Eu não sei porque eu estava nervosa daquele jeito ao vê-lo, mas eu queria que ele não me odiasse.

- Ainda bem que você não morreu. - Ele disse enquanto me abraçava.

- É. - Eu dei risada e nosso contato foi rapidamente desfeito. - Brad, eu não tive a chance de me desculpar antes, mas... - Ele me encarava com um semblante confuso, eu hesitei. - Sobre... - Passei a mão pelo rosto dele onde eu tinha depositado um soco alguns meses antes.

- Ah! - Ele sorria sem jeito enquanto passava a mão nos cachos bagunçados. - Sobre isso. Ta tudo bem na verdade. - Eu percebi que não era só eu que estava nervosa quando vi as mãos dele passar pela barra da camisa que ele vestia mais de três vezes seguidas. - Eu nunca tinha levado um soco na cara antes, então foi bem legal. - Eu ri abaixando a cabeça e começamos a andar em direção à sala de biologia. - Eu nunca esperava que meu primeiro soco viria de você, mas bem...

Conversamos sobre várias outras coisas antes de finalmente sentar nos lugares que sentamos toda a vida. Eu estava feliz com aquilo. Brad tinha ficado esquisito desde que descobriu que eu e Camila tinha ficado e eu achei que nunca mais teria meu melhor amigo de volta, mas ali estava ele. E eu me sentia confortável. Eu me sentia em casa.

A aula, por incrível que pareça, acabou rápida. Logo eu já estava de volta ao corredor andando até o refeitório como eu sempre fiz. Dinah andava do meu lado com algumas garotas nos seguindo. Sentamos na mesma mesa e comemos as mesmas coisas. Enquanto as conversas da nossa mesa se cruzavam com cinco assuntos diferentes vi Camila entrar no salão seguida por uma amiga que antes sempre estava com ela, mas eu nunca soube o nome da garota. As duas pareciam bem e sentaram numa mesa que ficava mais ao canto. Camila parecia interessada no assunto que a garota mais baixa que ela falava empolgada e vez ou outra esboçava um sorriso.

- Não está nada bem. - Dinah sussurrou no meu ouvido fazendo meu coração dar um pulo.

- Garota! - Eu a repreendi. - Que susto.

- Mais cedo você disse que estava tudo bem mas agora olhe só pra você. - Ela ainda falava baixo e eu gostava daquilo. - Dá pra ver na sua cara que não está! Você queria estar com ela.

- É óbvio que eu queria. - Falei mais baixo ainda. - Mas está tudo bem que ela não quer, por Deus Dinah, você deveria estar me ajudando em vez de ficar dando voltas nesse assunto.

- Eu estou tentando te ajudar. - A garota falava séria e eu tinha um certo medo de quando isso acontecia. - Mas você não quer ser ajudada Lauren. - O resto da mesa continuava com as conversas aleatórias. - E eu lavo minhas mãos. 

Dinah bateu as mãos com força na mesa antes de se levantar e sair em direção ao corredor. Eu queria ir atrás dela, mas eu não tinha nada pra falar. Eu entendia o ponto de vista dela. Mas ela não entendia o meu. Camila teve a oportunidade de me escolher, mas não o fez. Eu não a culpava.

Eu já tinha lido em vários lugares que às vezes o amor não é o suficiente. Talvez era isso que estava acontecendo com a gente. Eu não sabia certo o lado dela, mas do meu claramente era isso. Camila era a única pessoa que eu tinha amado, e eu tinha certeza disso, se o amor fosse o suficiente então eu não estaria ali encarando ela do outro lado do salão enquanto ela ria para outra garota sem nem ao menos se incomodar com meu olhar fixo nela. Ela estaria do meu lado. Ela seguraria minha mão enquanto a gente andasse pelos corredores daquele maldito colégio cinza.

Seria diferente se fosse o suficiente.

ImpossibleWhere stories live. Discover now