Capítulo 2

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          No dia seguinte ele passou a manhã toda lendo

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          No dia seguinte ele passou a manhã toda lendo. Não era lá um livro que estivesse interessado em ler, mas o estava fazendo. Por volta das onze horas e meia ele saiu de seu apartamento e começou a seguir para o restaurante. O dia na rua estava quente como de costume, mas ele já era bem acostumado a isso, como as pessoas que vivem em locais de temperatura elevada.

          Com exceção de um momento da noite passada, ele não pensou mais na garota que com assovios lhe chamara a atenção. Agora, no percurso para o restaurante, não era diferente, se mudasse de direção e passasse a ir a outro lugar provavelmente a esqueceria, nunca mais pensaria nela, mas isso também não era algo que lhe vinha à cabeça, não havia nada de errado acontecendo, e só foi lembrar-se dela quando já próximo do seu destino.

          Ele devia estar uns 50 metros do restaurante quando sentiu vontade de olhar no local onde ela estava no dia anterior procurando-a. Mesmo distante, com o trânsito passando para lá e para cá, os pedestres e qualquer outra coisa que pudesse atrapalhá-lo, ele conseguiu vê-la. Ela se encontrava lá, no mesmo lugar, próxima da mesma vendedora de calçada. Aquilo o incomodava, intimidava, temia que ela fosse chamá-lo de novo. Não pensou em saber o que a mulher vendia, nem na possibilidade de ser algum parente dela, nem se ela trabalhava lá, só preocupou em vê-la e pronto. Depois disso, abaixou a cabeça e continuou seguindo em frente, não voltando a olhá-la, nem mudar a sua visão do chão, da frente e do restaurante lá à frente.

          Próximo do estabelecimento alimentício os chamados vieram. Ela devia tê-lo visto vindo já algum tempo, esperando apenas que se aproximasse para começar a chamá-lo, pois o tom dos chamados tinha confiança, controle, e não desespero, rapidez.

          — Oi! — chamou ela, do outro lado da rua. Conforme ele não respondia, nem se dava ao trabalho de procurar saber de onde vinha o som, ou mesmo se era para ele, ela o aumentou. — OI! OI!

          Ele não respondeu, simplesmente passou direto e entrou no restaurante, apesar de ouvi-los e saber serem para ele. Outras pessoas na rua, contudo, não se fizeram de rogadas e olharam na direção em que vinham os chamados, apenas para ver que não eram para elas; fossem pessoas na calçada da direita ou da esquerda.

          No restaurante ele sentiu-se mais aliviado. Estava seguro outra vez. Diferente da vez anterior, não foi ao banheiro. Apenas foi até as mesas de refeições e começou a servir-se. Em um momento olhou para fora do recinto através das janelas de vidro e observou a moça lá fora, estava no mesmo lugar, olhando para qualquer coisa nas proximidades. Era bem bonita, admirou ele.

          Sentado à mesa, ele começou a comer pensando nela e no que estava acontecendo. Gostaria de conhecê-la, mas não daquele jeito, preferia que ela viesse até ele, acrescentando uma amostra de que gostava dele àquele interesse, que era justamente as suas suspeitas. E neste momento, trazido por esses pensamentos, lembranças raivosas em relação ao passado lhe vieram à mente. Lembrou-se do tempo em que era mais jovem, onde idiotas desocupados gritavam para os outros passando na rua e quando a pessoa olhava eles viravam a cara ou fingiam estar falando com outra pessoa, ou cantando alguma coisa, apenas para brincar com a cara dos outros. Aquilo sempre era irritante e as pessoas sempre caíam; brincadeiras de adolescentes que não tinham o que fazer ou uma educação apropriada. Mas tinha um episódio em especial que lhe moldara o jeito de ser, as atitudes tomadas até agora. Certa vez, já no final dos tempos de colégio, umas garotas o chamaram quando estava saindo da escola. Ele olhou, mas pensou que não fosse para ele, continuando a caminhar. As garotas o chamaram novamente, nunca indicando explicitamente se era com ele, mas tudo indicava que era, e ele respondeu indo até elas. Enquanto ele caminhava para elas, os chamados sessaram e as moças, rodeada por alguns caras, ficaram o olhando enquanto vinha.

OS BONECOS ENGRAÇADOSWhere stories live. Discover now