Capítulo 21

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Os dias seguintes foram de preocupação para ele, de tentativa de reparação em detalhes

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Os dias seguintes foram de preocupação para ele, de tentativa de reparação em detalhes. Enquanto se acostumava com o jeito pegajoso dela, que pensava ele ser apenas uma fase até o tempo apagar da mente dela o episódio deles se encontrando longe, ele ia recebendo uma sensação estranha. Sentia algo diferente toda vez que ela chegava em casa, seja na hora do almoço, após comerem, ou de tarde quando chegava do trabalho. Ele não sabia o que era, nem parecia ser algo errado. Era como se uma coisa não se encaixasse toda vez que a via chegando. Mas essa sensação logo sumia quando ele começava a se acostumar com ela novamente, assim que passava algum tempo que ela estava em casa ele não sentia mais nada. Eram apenas no começo, assim que ela chegava.

Ele não entendia; ela não agia diferente, estava do mesmo jeito, fazia as mesmas coisas, então por que estava acontecendo? Para tentar alcançar algum lugar passou a observá-la sempre que chegava, observando como estava o seu humor, suas reações, seu estado, tentando captar alguma coisa. Fez isso durante quase toda uma semana até pensar no que possivelmente era: a bolsa, aquela bolsa cinza e grande dela. Achou que a bolsa era a responsável por ele estar sentindo algo estranho. Mas aquilo não era diferente, não podia ser aquilo, sempre fora daquele jeito. Acontecia o que sempre acontecera, ela deixava a bolsa em locais diferente sempre que chegava em casa. Às vezes deixava na mesa ao lado da porta de entrada, outras vezes deixava na cama. Do mais que não chegasse a um consenso consigo mesmo, concluiu mesmo que era aquilo; o fato de deixar a bolsa em lugares diferente estava confundindo a sua mente, fazendo-o sentir estranheza.

Certa ocasião decidiu observar a bolsa, talvez conseguisse alguma resposta fazendo isso. Não em casa olhando para ela, não quando ela chegasse, pois isso já fizera e o único resultado fora enigma, mas antes disso. Iria observá-la antes de chegarem em casa, no caminho até a sua moradia, esperando obter alguma coisa daí.

Estava um dia nublado quando ele pensou em fazer esse experimento. Parecia que ia chover durante toda a manha, o que não passou de uma ameaça, pois não aconteceu nada. Preocupou as pessoas, fazendo-as sair com guarda-chuvas, sem, no entanto, estar prevenindo-as, mas brincando com elas, se mostrando até aquele momento um alarme falso. Mas tinha um lado positivo; o clima estava fresco, ventando de vez em quando, deixando o dia ótimo para passeio, e seria completo se não fosse também um alarme.

Assim que saíram do restaurante e começaram a caminhar em direção ao apartamento ele passou a olhar a bolsa de tempo em tempo. Esperou que a sensação estranha aparecesse durante este percurso, ao longo deste caminho antes da casa, desde o começo até o fim dele, mas até aquele momento não havia acontecido nada. Ela andava normal, não fazia nada de mais, e a rua estava como sempre, poderia ser isto; como tudo estava normal, talvez para ele 

continuasse tudo normal, sem lhe mostrar diferença alguma.

Ele não se preocupava com este começo sem resultados, havia ainda muito caminho pela frente para algo acontecer, além do mais era apenas um experimento, se desse em alguma coisa, bom, se não, tudo bem.

Estavam ainda no princípio da boa caminhada até o apartamento quando ele avistou a vitrine onde vira os bonequinhos engraçados. Olhava para ela porque os bonequinhos ainda estavam lá. Foi olhando-a até passar por ela. Célia estava ao seu lado e algum pouco atrás, entre ele e a loja. Ele esperava que ela olhasse também, pois estava ali quando ele viu os bonequinhos pela primeira vez, mas ela não olhou, continuando a olhar para frente sem notar nada, nem mesmo que ele olhava. Sentindo seu gostar de ver a vitrine diminuir com este ato, Odilon percebeu outra coisa com o ato vindo dela. Já passado da vitrine, ele olhou ainda outra vez para a vitrine deixada para trás. Os bonequinhos ainda estavam lá, percebeu ele. Durante todo esse tempo e ninguém os comprara. Por alguma razão ele sentiu-se mal com aquilo. Achava os bonequinhos tão bonitinhos, tão legais, por que ninguém se interessa por eles? Eram obviamente do tipo que as pessoas paravam para ver, que até mesmo gostavam, então por que ninguém os comprava?

Aqueles pensamentos sobre os bonecos engraçados o fizeram esquecer-se da bolsa por algum tempo, deixando-o olhando para outras coisas sem pensar no que devia estar fazendo. Só que fez mais do que isso, fez a ideia de olhar a bolsa dela esperando por algo um tanto insignificante. Ele não pensou isso a princípio, foi só depois quando voltou a olhar a bolsa ocasionalmente que percebeu. Começou a ver que bobagem tinha sido a dele em pensar aquilo, gastar o seu tempo e seu temperamento com uma bolsa e o local onde uma pessoa a deixava. Era como se preocupasse com os sapatos deixados em lugares diferentes, não fazia sentido se preocupar com isso. Com certeza havia coisas mais importantes para pensar.

Ao mesmo tempo em que chegava a essas conclusões a sensação estranha finalmente apareceu. Não pareceu vir precisamente dela, mas sim dele mesmo, daquilo que estava pensando. Algo na sua mente trazia essas sensações. Percebia que tinha haver com a realidade, que não era só coisa da sua mente, mas era ele quem pensava nessas coisas. Tinha que saber diferenciar o que estava acontecendo na realidade e o que a sua mente dizia. A coisa toda começou a lhe parecer tola.

Eles já estavam chegando ao prédio do apartamento. A sensação durou todo o percurso restante, passando pela entrada no apartamento até um pouco depois, e então sumiu. Nesse caminho ele olhava a bolsa, olhava ela, tentava olhar para outras coisas, outras direções, tentando dissipar a sensação, não a queria mais. Mas ela não foi, ficou com ele até depois de chegarem ao apartamento.

Decidiu que daquele momento em diante que tentaria não notá-la assim que ela chegasse ao apartamento, disfarçando o máximo que podia, decidindo parar de reparar nela tentando decifrar alguma coisa, deixando passar algum tempo até poder fazer isso. Pareceu funcionar em alguns momentos, em outros não. Ele ainda sentia uma sensação esquisita, mas queria lá no fundo ignorá-la. Mas como já chegara a uma conclusão do que era, logo não lhe preocupava tanto.

Mesmo com tudo isso havia algo errado, algo estava faltando naquela história toda. E ele tinha certeza de que tinha haver com aquele encontro que tiveram nas extremidades da cidade, já havia pensando durante bastante tempo sobre isso para saber. Tudo parecia circular àquele acontecimento. Tudo começara a partir dele, enquanto retornava para casa com aquela sensação estranha. O que foi? O que aconteceu lá que o preocupava? O que havia de errado? Tinha eles, o almoço, o hotel, o amor, tudo ótimo. A corrente também; mas ela não sabia dela. A amiga... A amiga? Lembrou que ficou com medo de Célia estar com um amante. Naquele tempo pensou em ligar para o trabalho dela perguntando, mas não o fez. Devia ter feito? Não, talvez não. Não importava agora, já passou. Mas o que era? Era a amiga dela mesmo?

As dúvidas ficavam na mente dele, repetindo-se sem resposta. Queria se livrar daquilo, mas não  conseguia. Ele não estava em paz.

Conforme os detalhes continuavam, conforme a sensação ainda aparecia de vez em quando, ele focava mais na tal amiga dela, esquecendo um pouco da bolsa. Havia algo errado com essa amiga. Era assim que funcionava a sua mente; não sabia o que realmente estava acontecendo, então algum detalhe, mesmo que insignificante, o atormentava, tirando a sua rotina tranquila, e ele procurava focar em algo tentando alguma coisa. Primeiro a bolsa, deixada de dela, agora a amiga. Tinha que parar com isso, mas como parar sem saber ao menos de algo?

Não se lembrava, mas provavelmente a amiga era alguma colega de trabalho, ou algo parecido, ele não se lembrava, e também não se importava. Lembrava-se de que Célia ligou para ela várias vezes quando a tal estava doente de gripe, gripe esta que pegara da própria Célia. Suspeitava também que trocavam mensagens constantemente. Sabia que Célia recebia mensagens, e que mandava também, mas não sabendo o que exatamente eram e não ligando para isso, mesmo para o fato de na maioria das vezes ela dizer que eram mensagens agendadas para si mesma lembrar-se das coisas. Não sabia nada mais além disso.

Enquanto se concentrava na amiga dela, sua mente estava sendo puxada para outro lado. Passou a pensar que ela estivesse confusa às vezes, por isso agia diferente ocasionalmente. Talvez algo estivesse acontecendo na vida dela que ele não sabia, alguma coisa que ela não lhe contara, talvez mesmo no trabalho. Este pensamento não durou muito, pois ele continuava focado na amiga dela como aquilo que lhe tirava a paz.

OS BONECOS ENGRAÇADOSDonde viven las historias. Descúbrelo ahora