Capítulo 31

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No dia seguinte, quando acordou, algo novo estava acontecendo

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No dia seguinte, quando acordou, algo novo estava acontecendo. Ele não se apercebeu a princípio, apenas se ajeitou na poltrona. Havia dormido nela novamente e aquilo já estava lhe causando dores; dormir sentado nunca era bom. Se confortando como podia no seu assento, ele estava pronto para se posicionar fixamente para a porta, no seu estado de espera e vigia. Somente alguns segundos depois, ainda com cara e reflexos de quem a pouco acordara, ele ouviu barulhos e se deu conta do que estava acontecendo.

Virando o rosto para o lado e depois o entortando ao máximo que podia para trás, ele acompanhava o som de mosquitos próximos. O corpo de Célia estava provavelmente em início de decomposição. Moscas a rodeavam como a uma carne velha e em tempos fora de uma geladeira. Odilon abaixou a cabeça ao perceber aquilo, pela primeira vez sentiu por ela depois que se colocara naquela posição em que se encontrava, chegando a pensar em ir lá e espantar as moscas dela. Mas logo a sua mente mudou. Ela não só já estava morta, fazendo nenhuma diferença o que agora acontecia, como também não merecia nada dele.

Voltando-se novamente para frente, ele seguiria dali ignorando o que estava acontecendo dentro daquele quarto. Era inevitável e ele também não sabia de nada que pudesse fazer. Expulsar moscas não iria funcionar, elas iriam voltar, teimosas como eram. Além do mais, estava ciente de que a coisa poderia ainda piorar.

Sentado, o mais confortável que ele conseguia, encarando novamente a porta naquela manhã que já começava a esquentar lá fora, Odilon nem se levantou para nada depois que acordou. Não sentiu precisão de água, de comer ou de ir ao banheiro. O que ele poderia necessitar, não precisava. Não sentia falta de nada daquilo.

A manhã foi lenta e meio cansativa. Não aconteceu nada praticamente. Ouvia, quando se focava, algum barulho da avenida, mas dos vizinhos, que esperava ouvi-los saindo para trabalhar ou qualquer coisa, nada. Não era possível que nenhum deles não trabalhasse como Odilon, estando de "férias" como ele. Pensou então que fosse bem possível que já estivessem saídos. Não estava tendo contato com horas, não sabendo, portanto, que horas eram e em que momento acordara. Neste caso, poderia muito bem ter acordado depois que todos já tivessem saído. Concluindo, não ouviu barulho algum vindo do corredor lá fora, nada em absoluto, só um total silêncio provindo daquela parte. Com as moscas ele já estava bem se acostumado, com sua mente já conseguindo ignorá-las completamente, mesmo até quando se concentrava em alguma coisa.

Sentado, de prontidão, encarando a porta, ele esperava. A pessoa, cedo ou tarde, iria aparecer e ele devia estar preparado. E assim ficou, durante toda aquela manhã lenta e cansativa.

Pouco antes da hora do almoço, quando a sua fome já dava sinais de vida, e ele a segurava como podia para continuar aguardando e não perder a chegada da pessoa, o que de novo ele não esperava, o que pensava já ter sido superado, aconteceu. O telefone de Célia, no quarto com o corpo, tocou novamente. Odilon chegou a suspirar quando o ouviu. Aquilo teria que parar mesmo que fosse quando a bateria do aparelho acabasse, que seria o momento onde a pessoa não conseguiria mais fazer ligação alguma para ela, teria que acontecer num momento ou noutro.

OS BONECOS ENGRAÇADOSWhere stories live. Discover now