- Eu fico feliz que tenha conseguido se apaixonar novamente senhora. A senhora quer que eu fale com ele sobre isso. Posso marcar um encontro em um local reservado para que vocês possam conversar sobre o assunto.

- Não. Eu prefiro que eu mesma crie coragem e possa falar com ele a respeito. Ele é muito lindo. Quando ele chega eu perco até mesmo a respiração. É impressionante.

- Eu sei bem como é isso senhora. Eu também já me apaixonei.

- Hoje ele me veio com uma proposta muito boa. Ele também tem vontade de atender todos os meus desejos. Eu disse a ele que quero castigar Justina pelo maior tempo possível e ele veio com uma proposta para que ela ficasse mais forte e assim o meu desejo fosse atendido.

- E o que ele propôs senhora?

- Ele conversou com a curandeira e ela disse que se ela tomasse sol, certamente, ela poderia ficar mais forte, que o sol é algo essencial para a nossa vida. Nem eu nunca tinha pensado que a fraqueza e a dificuldade de Justina se recuperar pudesse advir da falta de sol.

- Isso tem mesmo fundamento minha senhora.

- Murilo sempre tendo ótimas ideias. Mas, mesmo assim eu fiquei um pouco confusa com tudo isso. Eu notei que Murilo estava a olhar com um semblante triste enquanto eu estava a castigar Justina. Aquele olhar dele também transmitia uma paixão, não sei se para ela ou para mim.

- Murilo não é homem de se apaixonar por uma escrava senhora. Ele é duro, por isso é um matador de aluguel, sabe bem o seu lugar.

- Eu achei que o meu marido também soubesse quando me casei com ele, mas, ele me demonstrou o contrário. Eu espero estar errada, mas, temo que Justina possa ter o enfeitiçado também.

- A senhora quer que eu converse com ele para ver se descubro alguma coisa?

- Não. Eu vou dar tempo ao tempo. Eu agradeço pela sua disponibilidade em me ajudar.

- Eu estou à disposição senhora para o que precisar. Sou muito colega de Murilo, tenho certeza que ele se abrirá comigo, caso eu converse com ele. E se a senhora quiser posso marcar um encontro da senhora com ele.

- No momento eu prefiro que não. Isso é um segredo viu Tenório, por favor o mantenha assim.

- Claro senhora. Esse será o nosso segredo. A senhora precisa de mais alguma coisa?

- Não. Está tudo bem! Muito obrigado por me ouvir.

- Sempre que precisar é só chamar senhora. Diz Tenório ao sair daquele quarto.

Assim que Tenório sai, Scarlett se senta em sua cama e começa a pentear os seus cabelos. Os cabelos de Scarlett eram poucos, diferentemente dos das suas irmãs que eram cheios e volumosos. Enquanto penteava aqueles cabelos ela ficava a imaginar os momentos que teve com Murilo e os seus sorrisos. Era um homem impressionantemente lindo. A rudeza daquele homem, advinda de sua profissão, fazia Scarlett ficar ainda mais encantado por ele. Para ela aquele homem tinha um perfil muito próximo do seu.

Scarlett então pega o espelho e começa a olhar para o seu rosto. Aquela senhora não gostava de sua aparência, que a trazia uma baixa estima enorme. O seu rosto era um pouco deformado, o qual o lado direito era um pouco diferente do esquerdo. Ela era branca e pálida e os seus cabelos eram poucos. Os seus olhos também tinham uma diferença de tamanho substancial, sendo o seu olho direito bem menor do que o esquerdo. Apaixonada, Scarlett ficou tão revoltada com a sua aparência, que jogou aquele espelho no chão e começou a chorar.

Em seu pensamento ela ficava a imaginar que Murilo, sendo belo como era, jamais iria querer se relacionar com ela por ser tão fora dos padrões de beleza da época. Além disso, Scarlett ainda era muito acima do peso, o que a fazia ter uma raiva ainda maior do seu corpo e ainda menos autoestima. A beleza era algo que afetava muito Scarlett desde muito jovem. Ela tinha uma revolta muito grande pelo fato de suas irmãs serem belas e desejadas por todos e ela sempre ter sido rejeitada pela forma de seu rosto e seu corpo. Esse fato a trazia ainda mais vontade de fazer aqueles que são belos sofrer um pouco para compensar de alguma forma o sofrimento que ela tinha por se sentir feia. Esse fato aliado ao contexto em que perdeu o marido para uma bela escrava como Justina, fazia o seu ódio por aquela escrava ser ainda mais extremo.

Miss Scarlett e a escrava brancaWhere stories live. Discover now