— Vamos gravar os dois juntos? – perguntei.

— Se acharem que o clima fica melhor, podemos tentar – Amadeu dizia pelo sistema de som no estúdio – essa música é clima, tem que ter uma conexão, acho que vocês cantando juntos pode ficar melhor. Vamos tentar os dois juntos e depois tentamos em separado, pode ser?

Tanto eu quanto Linda assentimos, e começamos a cantar. Ela começava a música, mas antes de terminar o primeiro verso, Amadeu interrompeu.

— Porra, Linda, tem que ter sensualidade na voz, não é uma música de igreja, não!

Ela corou, pelas palavras e pelo tom empregado. Eu já havia reparado que ela não funcionava com coerção.

— Ei – a chamei de lado – pensa que está com o cara que você gosta – falei – cantando pra ele, só você e ele...

Ela me olhou, envergonhada.

— Só tem você e ele... mais ninguém ouvindo – dei uma piscada pra ela, e dei sinal para retomarem a música.

Ela fechou os olhos e conseguiu cantar, dessa vez muito melhor que antes. Mas ainda não estava bom o suficiente para Amadeu. Isso era normal: repetir várias vezes até conseguir a perfeição. Depois de três tentativas, conseguimos passar a música inteira.

— Muito bem, podem descansar agora – Amadeu falou.

Dei um abraço nela, que se acoou.

— Viu só – disse – é tudo coisa daqui – toquei sua cabeça em tom de brincadeira – você é foda pra caralho, Linda!

Ela retribuiu o abraço — Obrigada de verdade. Não teria conseguido sem você – me disse.

Saímos de lá e fui até onde seria meu quarto. Os outros estavam na piscina, já que todos já tinham gravado suas respectivas partes enquanto levava os carros ao aeroporto. No caminho, ouvi alguns comentários pelos empregados do local sobre Abaddon e o Concílio, sobre Leviatã e seus ajudantes, e sobre Celine voltar.

Ao que tudo indica, Celine iria nos encontrar na Turquia, assim que chegássemos lá. Ela estava terminando de fechar alguns contratos de apresentações, já que em algumas semanas seria o Concílio dos Clãs e precisaríamos estar la perto para o lançamento das meninas e para que os líderes pudessem estar no evento. Mas antes de irmos, tínhamos um outro compromisso inadiável.

A gravação do clipe.

Eu nunca havia gravado nenhum clipe na vida e todo o conhecimento que eu tinha a respeito era o de qualquer outra pessoa leiga no assunto.

Naquela tarde, após o almoço, as duas bandas tiveram uma reunião com a equipe de produção do clipe para passar a ideia deles para o vídeo. Que se resumia a: os meninos chegariam a uma praia, entrariam no mar, e as meninas quase nos atropelariam de jetsky. Elas nos convidariam para subir na lancha delas, onde ocorreria uma pequena festa. Rolaria um clima entre os vocalistas que culminaria em uma pegação mais quente. Parecido com o clipe original, mas diferente. Não tinha como evitar isso.

Eu confesso que fiquei um pouco incomodado, mas pensando bem, a letra da música pedia esse tipo de cena e éramos profissionais, logo, deveria dar certo.

Após aguentar a tiração de sarro dos meninos e tentar eu mesmo não demonstrar nervosismos para Linda, o que poderia por tudo a perder, fomos cada um pro quarto para descansar. A gravação que havíamos feito mais cedo ainda não estava, evidentemente, pronta para comercialização, mas já dava para subsidiar o clipe. Depois seria apenas trocar a gravação crua pela remixada e trabalhada. Viajaríamos no dia seguinte para a ilha de Chipre, onde aconteceria a gravação.

Condemnnatu - Série Além Da Alma - Livro 2Место, где живут истории. Откройте их для себя