— Está com saudade dele?
Ela deteve o movimento das mãos um instante, mas não era como se precisasse refletir para responder o óbvio.
— A cada vez que respiro. — suspirou e o espiou de relance — E você?
— Todos os segundos do dia.
Cortaram mais alguns feixes, isso até Christinie desabafar em um murmúrio:
— Queria vê-lo. Mesmo tendo consciência de que ele foi para Londres com a intenção de se livrar dos sentimentos que confessou para mim e, pior, estar oficialmente noivo de Suzanne... Ainda assim, eu... Pelo menos... Queria vê-lo e arrancar essa saudade do meu peito.
Christinie encarou os maços de trigo entre os seus dedos.
As emoções dentro de si, embora tenha confessado a Julien, continuavam confusas e intensas demais. Haveria algum momento em que seria capaz de entendê-las e lidar com elas?
— Sinto que estou me tornando tão... Egoísta. Nem sequer o fato de que ele é o noivo de nossa irmã faz com que eu o queira menos. O uncial disse que eu deveria tomar cuidado, que a voz do coração é mais forte que a da razão, e ele não estava errado. A voz grita dentro de mim.
A jovem sempre esteve ciente da própria condição, logo, nunca se permitiu ambicionar um amor. Embora não lhe faltassem pretendentes, nenhum deles ficara tempo o suficiente para que criasse algum afeto. E então, de repente, Julien Dufour apareceu e seu coração foi arrebatado.
Justamente pelo noivo de sua irmã mais velha.
— Isso é o que o amor faz conosco, Chrisie. — comentou Christian.
— Faz com que você perca o controle? — retrucou — E não saiba mais decidir entre o que certo e errado? Perca sua dignidade? Ou sinta que pode definhar de saudade a qualquer instante?
— Talvez seja o preço a se pagar, afinal. — murmurou o rapaz — Algo tão intenso quanto amar alguém toma tanto espaço dentro de nós, que impede-nos de discernir ou pensar.
Christinie riu, debochando da própria situação, e soltou:
— Talvez você tenha razão.
Ela terminou de cortar o último feixe e colocou dentro da cesta cheia juntamente da pequena foice, e seu irmão fez o mesmo com a que segurava. O trabalho ali estava feito. Contudo, ao invés de levantarem, eles permaneceram agachados e escondidos. Olharam um para o outro.
— Você se sente assim? Egoísta e sem conseguir pensar em outra coisa além da pessoa que ama?
Christian anuiu.
Tais palavras de consolo que dera a irmã eram idênticas as que dissera para si próprio ao confrontar a obscuridade de seu coração. Ainda que acreditasse que o amor trouxesse o que era de mais belo, aprendera que também carregava consigo um lado sombrio. Pois, trazia à tona os desejos egoístas da pessoa mais virtuosa. Era mais forte do que qualquer um poderia suportar.
Por isso diziam que, para amar, eram necessárias duas pessoas.
— Mais do que egoísta, sinto-me uma aberração por amar uma pessoa igual a mim. Outro homem. — apesar de já ter confidenciado a irmã e receber seu apoio, expressar em voz alta continuava sendo vergonhoso — Ainda tenho medo de aceitar o que... Eu acho que sou. Principalmente porque fiquei tantos anos sofrendo ao ser apontado como diferente. E agora...
— E que mal há em ser diferente? — cortou Christinie — Estou farta disso! De me ressentir por, como os outros dizem, ser "diferente". Passamos tempo demais de nossas vidas tentando entender o que essa palavra significa e, quer saber? Não importa mais. Não precisamos ser perfeitos e nem iguais aos demais. Somos quem somos, e eu não vou amá-lo menos por isso.
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O Mais Belo Vermelho
RomanceJulien Dufour está enredado em um casamento arranjado com a filha mais velha do Duque de Northumberland, amigo de longa data e sócio de seu pai. Sabendo de seus deveres como primogênito e herdeiro, ele nunca se opôs a ideia de expandir os negócios a...
Capítulo 25 - E se eu ouvir?
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