Capítulo 23 - Fantasmas do passado

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— Oh, céus. Mil perdões, Sir! — a jovem criada exclamou, completamente envergonhada — Eu pensei que o senhor estivesse dormindo e.... Deus, que vergonha! Perdoe-me, por favor.

Julien pigarreou, um tanto desconfortável, e tratou de responder com calma:

— Está tudo bem. Foi um apenas equívoco.

— Realmente, me desculpe! Não foi minha intenção. — tornou a se retratar — Eu só vim acordá-lo a pedido do duque, mas não fazia ideia de que já estivesse desperto.

— Acontece com qualquer um. Não estou irritado, só um pouco... Surpreso e envergonhado.

Ele esboçou um sorriso sem graça, que tranquilizou a empregada. Em seguida, disse:

— Avise ao duque que logo estarei na saleta de café da manhã. Não irei demorar.

— Como quiser, Sir.

A jovem fez uma reverência atrapalhada e se apressou para sair do quarto, porém, foi detida pela voz levemente rouca de Julien. O timbre lhe causou um arrepio incomum.

— Pois não? — indagou ela.

— Que mal lhe pergunte, mas qual é o seu nome?

— Mariana, senhor.

O rapaz tomou uns segundos para memorizar.

— Obrigado, Mariana. Pode se retirar.

Após outra mensura, a criada enfim saiu do quarto.

Logo que a porta fechou atrás de si, ela deixou um suspiro escapar e se abanou com as mãos para amenizar a quentura em suas bochechas. Que Deus tivesse piedade de sua alma, pois, aquele homem com certeza não teria. Nem de sua sanidade – se houvesse lhe sobrado alguma.

O senhor Dufour era muito bonito, com o corpo atlético e bastante viril, especialmente pelo o que pôde espiar do instrumento dele marcado na ceroula. Aparentava ser grande, mesmo não estando em todo o seu vigor. E, como se já não fosse o bastante, era extremamente gentil.

Lady Suzanne tinha sorte em estar noiva de um homem como ele. Na verdade, qualquer mulher teria sorte de estar ao lado dele, quiçá então em seus lençóis. Afinal, quem não desejaria passar uma noite com alguém que demonstrava ser um amante intenso e afetuoso?

Oh, sim. Lady Suzanne tinha muita sorte. E Mariana a invejou momentaneamente por isso, ambicionando ter a mesma chance que a nobre, nem que fosse uma única vez na vida.

Minutos mais tarde, Julien encaminhou-se através das escadas de madeira caprichosamente entalhadas para a saleta de café da manhã no andar de baixo. O casarão, embora menor, ostentava tanta riqueza quanto o palácio no campo. Quadros renascentistas e afrescos decoravam a maioria dos cômodos, tal como outras peças de arte bastante valiosas. Porém, entre tantos artefatos, o que mais chamava atenção era a enorme pintura no hall de entrada da casa: um enorme retrato do duque posando com os sete filhos. A imagem de uma família abastada.

Foi por meio desse quadro que, pela primeira vez, Julien pôde ver os rostos de Joseph e Augustus. O primeiro, sendo primogênito, era a face de Hugh. O segundo, entretanto, tinha traços semelhantes apesar de ter herdado a fisionomia – do que acreditava – ser da duquesa.

— Bom dia. — cumprimentou o rapaz ao entrar na saleta.

— Bom dia. — respondeu Eloïs partindo um pedaço de scone.

Ele era o único presente ali.

— Onde está o duque?

— Ainda não desceu.

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