Capítulo 6

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"Não faz disso esse drama essa dor
É que a sorte é preciso tirar pra ter
Perigo é eu me esconder em você"



- Eu não aguento mais, Jéssica, vou morrer.

- Meu Deus, como você é dramática. - Minha amiga revirou os olhos sem desviar a atenção do computador.
- Fico ofendida que você não leve meus sentimentos a sério, sabe - eu disse, apoiando o queixo na mão e com a testa franzida. - Eu estou fisicamente impossibilitada de entender isso aqui. Parece que essa semana serviu pra eu esquecer tudo que eu sabia. Não sei mais os atalhos, esqueci como renderiza, não sei mais fazer escala, todos os três anos e meio de curso de Arquitetura foram pelo ralo pela falta de uso.
"Hum" foi a resposta dela.
- Chega, vou assistir Grey's Anatomy. Quero saber o que acontece com o Karev depois daquela bomba. - falei, já fechando o programa e abrindo uma aba no navegador.
- Tá bom, você ganhou. Vou parar de fazer esse projeto chato. - Ela sentou do meu lado no sofá - Só por hoje.

O episódio começou e ficamos em silêncio até o final, só abrindo a boca para criticar as soluções absurdas dos personagens para problemas impossíveis. Quando a música dos créditos tocou nos sentimos autorizadas a voltar a conversar como se não tivessem passado uns 50 minutos de drama fictício.
- Ele falou com você essa semana? - Jéssica me perguntou em voz baixa, como se a pergunta fosse um gatilho para mim.
- Não.
- E...??? - ela abanou as mãos esperando por detalhes.
- E nada. O que eu posso fazer?
- Muitas coisas. - ela enfatizou o "muitas". - Pra começar você pode ligar para ele. Muitos não sabem, mas o celular também tem essa função. Ou mandar outra mensagem, pode pedir pra algum amigo dele mandar...
- Ah não, Jé - eu interrompi a lista de muitas coisas dela. - Eu vou parecer uma doida obcecada.

- Você não é não? - Ela cerrou os olhos.

- Não! - Respondi revoltada.

- Então por que você fica olhando pro celular a cada trinta segundos? Por que quando chega notificação você corre pra ver? Tá levando o celular pro banheiro sempre por que, tá com dor de barriga?

- Tá bom! Eu estou, sim, sendo um pouco intensa - Tentei manter minha dignidade usando eufemismo -, mas é porque eu achei que as coisas estavam indo tão bem. Na minha cabeça a gente ia passar todos os dias pendurados no celular até se ver de novo. Agora eu não paro de pensar que...

- Era tudo imaginação sua - Jéssica completou, com a expressão tal qual a de Sherlock Holmes resolvendo um mistério.

- Isso. Gostei tanto dos nossos dias juntos, achei que ele estava no mesmo pé que eu. - Levantei do sofá e comecei a andar de um lado para o outro da sala de estar decorada pela minha vó. - Naquele dia da praia, o que você achou? Ele parecia apaixonado? Parecia, não parecia? Eu acho que parecia. Aí no outro dia eu me arrumei pra ir embora porque também não posso largar tudo por ele, né, e aí ele veio com essa história que ia viajar no fim de semana pra fazer um show e eu falei "ok", depois trocamos meia dúzia de mensagens e agora ele não fala mais nada.

- Eu sei, amiga, você já me contou. - Ela se ajeitou, cruzando uma perna e continuou. - E por isso que eu digo, manda uma mensagem. Não tem essa de o último a falar ter que esperar o outro responder, isso é um joguinho pra deixar a gente miserável, não precisamos disso.

- Você tá certa, só que esse não é o único motivo pra eu estar nervosa.

- Vai, desabafa, Isa.

Do Nosso Amor a Gente É Quem SabeWhere stories live. Discover now