Capítulo 5

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"Tardei, tardei, tardei

Mas cheguei, enfim"


Fazia uma semana que a gente não se largava. Eu faltei a maior parte das aulas para ficar no apartamento que Amarante, como ele era chamado pelos amigos, vivia com mais dois garotos. O quarto dele, até bem arrumado para um universitário, agora estava virado pelo avesso. Roupas minhas e dele estavam penduradas em cada superfície disponível, a janela quebrada ficava aberta dia e noite porque o calor impedia que qualquer um de nós tivesse vontade de fechá-la, música tocava sem parar de uma caixa de som do lado da cama. Ouvíamos Gal, Caetano, BaianaSystem e Adriana Calcanhotto, Leonard Cohen e Frank Ocean.

Conversamos sobre a faculdade, música, política, filosofia, relacionamentos antigos, e às vezes no meio do assunto ele passava os dedos pela minha barriga ou beijava o meu ombro e isso era suficiente para deixar a conversa para mais tarde. Eu contava as pintinhas que ele tem no peito e nos braços, cada uma ganhava um beijo e eu somava na minha cabeça: trinta e duas. Eu nunca estive tão feliz na minha vida.  Acho que cobrimos tudo que se conversa nos primeiros meses de relacionamento nessa semana, até me passou pela cabeça que podia chegar o momento em que não íamos ter mais o que conversar, mas esquecia rápido disso quando emendávamos um assunto no outro.

Usei suas roupas porque as minhas eu lavei lá pelo terceiro dia, não que eu tivesse usado muito. Enquanto eu pendurava meu top - o mesmo do dia do show ainda - no varal na pequena área de serviço, ele me olhava sorrindo da cozinha, onde ele estava fazendo sanduíches para nós. Não sei o que ele pensava, mas aquela cena me agradou, como se fosse algo que fazíamos sempre, há muitos anos. O verão parecia a melhor estação do ano.

Na quinta à noite, com a ideia de irmos à praia de manhã, a mesma em que nos conhecemos, eu precisei de um biquíni, então dei um pulo em casa, onde não pisava há uma semana. Eu ia de ônibus, mas quando falei sobre isso Amarante já tinha a solução: o colega de quarto dele, Vinícius, estava em casa e levaria a gente rapidinho. Mal conhecia o tal Vinícius, mas fiquei agradecida e senti alívio, tinha medo de que quando saísse daquele apartamento sozinha a bolha estourasse e nada mais fosse igual.

Depois de quinze minutos entre túneis e vias expressas, saí do carro apressada, dei um oi para minha vó, que mal teve tempo de registrar minha presença. No quarto, abri a gaveta de calcinhas - aproveitei para pegar mais duas - e peguei meu biquíni preto preferido, também catei mais algumas coisas que achei que podia precisar. Quando botava minhas coisas em uma mochila - como eu senti falta dos meus creminhos de skincare -, ouvi os passos lentos da vó no corredor. Ela me chamou do jeitinho que gosto, prolongando bem as vogais do meu nome: Ô Luiiiísaaa!

- Oi, vó! - respondi sorrindo, mas sem tirar os olhos do que fazia.

- Tava na casa da Jéssica, filha? - ela perguntou apoiada na porta, seus olhos observavam cada cantinho bagunçado, ela era doida para arrumar meu quarto, mas eu não achava justo porque sabia que cinco minutos depois já estaria tudo bagunçado de novo.

Eu disse que sim porque assim era mais fácil. Minha vó não era nem um pouco boba, mas também não era de me dar sermão nem dizer o que eu podia ou não fazer. Tínhamos uma relação muito boa e ela sabia que apesar de não contar tudo, eu contava as coisas importantes. E minha língua estava coçando para contar sobre o cara incrível que conheci, mas isso ia ficar para outro dia porque eu só queria voltar para os braços dele. Antes de sair lembrei de pegar o leitor de ebooks, não que eu ainda achasse que faltaria assunto, até porque se fosse esse o caso eu iria embora, mas porque ler com o som do mar estava no top 5 das minhas coisas preferidas na vida.

Do Nosso Amor a Gente É Quem SabeWhere stories live. Discover now