Capítulo 1

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"E eu digo, cá entre nós, 

Deixa o verão pra mais tarde"

- Vou ter que te deixar na mão, Jéssica. Nem fodendo eu vou nesse show, tá muito calor pra assistir show de rock de noite, quem dirá de dia.

Eu estava deitada no chão do quarto da minha melhor amiga mudando de posição a cada dois minutos para aproveitar o geladinho do piso de cerâmica, o ventilador no teto parecia ter esquecido que sua função era ventar, girava cada vez mais devagar, ou seria eu que estava ficando com sono?

- Vou te dar três motivos pra ir. Amanhã vai estar mais fresco, eu vi a previsão. Além do mais você tem que ir, preciso de você pra me impedir de cometer um crime de ódio contra o Artur. E por último e mais importante, você prometeu.

O crime a que ela se referia era contra seu ex-peguete, Artur, que tinha dado um pé na bunda da Jéssica sem mais nem menos e do modo mais covarde que o século 21 pôde proporcionar: o famoso ghosting. Depois de duas semanas intensas de troca de mensagem e encontros noturnos no carro dele e vespertinos no quarto dela, Artur parou de responder imediatamente as mensagens da minha amiga, e depois parou de responder totalmente, sumindo por dias sem explicação. A bichinha ficou xoxa pelo desprestígio e pela falta de rola regularmente e só falava disso.

Eu tentei consolar Jéssica da melhor forma possível, mas não pude fazer muito além de fazer a brilhante (e verdadeira) observação de que o que ela teve foi um livramento. Quase completamente recuperada do coração partido e começando a ver os prós de não estar mais com Artur, só uma coisa ainda a prendia ao traste: o orgulho ferido.

Essa mulher perfeita e estonteante que é minha amiga (pois só ando com pessoas tão maravilhosas quanto eu), com seus 1,70m de gostosura e cabelos volumosos e cacheados, acabou descobrindo que apenas uma semana depois da última mensagem trocada com ela, Artur estava namorando outra garota. Eu estava comendo um salgado na lanchonete em frente à faculdade quando senti o celular vibrando no bolso do short. Limpei a mão no guardanapo e olhei a notificação, era um áudio da Jéssica.

Ele tá NAMORANDO, Luísa. Na-mo-ran-do!

O susto quase me fez derrubar meu telefone novinho que comprei parcelado em 10 vezes.

Escrevi de volta.

Não creio!

Não precisava de maiores explicações para saber de quem ela estava falando. E completei.

Como você sabe?

Depois disso tive uns minutos para terminar de comer enquanto ela gravava um podcast contando os detalhes. Resumindo, ela stalkeou o garoto e achou uma marcação no perfil da tal outra menina, a legenda da foto era "Finalmente assumidos. Obrigada aos amigos que torceram pela gente". Eu senti pena do trabalho que essa menina ia ter pra manter o Artur assumidamente namorando... Reafirmei que minha amiga estava melhor sem ele e já mandei um áudio com planos pra gente sair e dar o grito das solteiras.

Só que a Jéssica já tinha planos, ela soube que a namorada estaria em casa e Artur, no show de uma banda de rock meio indie que o pessoal da faculdade andava falando. Para ela era a oportunidade perfeita de falar umas verdades pro traste e seguir a vida sem engolir raiva. E, claro, eu teria que ir também para dar o apoio moral que ela precisava (e talvez manter uma distância segura entre os dois). A parte da promessa não foi bem assim, é que eu queria ver como era essa banda, me empolguei a princípio, mas a onda de calor que atingiu o Rio naquela semana tinha me deixado menos propensa a compromissos sociais, a não ser que fosse uma praiazinha. Jéssica nem queria ouvir falar de praia no fim de semana, ela não gostava de mar e estava obcecada com a ideia de ver o Artur pela última vez (nem tão última assim porque ele estudava na mesma faculdade que a gente).

Do Nosso Amor a Gente É Quem SabeWhere stories live. Discover now