— Nada — Respondo pensando em onde isso dará .

Araevin respira e subitamente enrijece como se algo tivesse chegado a sua mente.

— É sobre o que Tinos disse antes de sairmos? — Pergunta inexpressivo.

— Você não vai ficar lá comigo né Araevin ? — Respondo com uma pergunta que certamente afirmou a desconfiança dele.

— Ah só podia ser isso. Eu não vou voltar amor. Tinos só quis dizer que se eu não voltar em um determinado período eu perco meu cargo de elite. E eu não ligo pra nada que não seja você.

O abraço forte e encosto minha cabeça em suas largas costas. Ele solta uma risada baixa, provavelmente uma comemoração.

— Seremos imortais ainda não é? — Pergunto.

— Graças a você, seremos sim.

— Como assim?

— Você produz a própria magia, e pode me recarregar quando quiser. Então... nunca iremos morrer mesmo não havendo magia na terra.

— Uau. É verdade. — Digo contando minha ansiedade com dezenas de dúvidas sobre como esconder a vida eterna dos bilhões de humanos viventes naquele mundo.

~

A viagem foi muito mais rápida do que da última vez. Minha resistência em ficar montado em Darios ficou muito superior agora que eu uso a magia para reabastecer meu cansaço.

Araevin insistiu em passar as noites em terra firme, eu gosto de pensar que seja por Darios, mas eu sei que ele só quer ficar de rolo comigo ao ar livre, onde ninguém nos escutaria.

Passamos para deixar Darios na estação de pouso só que desta vez Araevin mandou que Estef o oferecesse abrigo por uma noite e depois devia liberar o grifo para que o mesmo fosse até a capital por conta própria. A única coisa que nos espantou ali foi minha despedida, acariciei Darios e com o meu toque próximo a sua testa vi a marca que fora desenhada por Daedon brilhar sinuosamente.

Seguimos a pé todo o percurso já conhecido e agora estamos diante da maldita fenda. Eu encaro ela pensando em quantos problemas essa coisa causou assim que pulei, mas diante de tudo isso o motivo disso estar aqui é solução para todo o mal contra o povo feérico, vindo dos humanos.

— Você tem certeza ? — Araevin.

— Daedon tem poder sobre o mundo dos humanos também ? — Talvez eu já saiba a resposta.

— É provável, quando ele descobrir sua quebra no acordo...

Quero tanto ficar com minha família. Nunca um dia se quer esqueci deles, me doí o coração pensar no que Isa está sentindo e pior ainda no que sentirá quando eu chegar... com Araevin.

— Ele que venha. Sou eu quem ele quer e se ele não se tocar que será nas minhas condições e no meu tempo, declaro a extinção da espécie que ele almeja tanto proteger.

~

É agonizante voltar ao corpo humano. Todos meus sentidos foram reduzidos e eu sinto uma falta absurda do meu corpo anterior. É difícil até respirar. Araevin não demora a aparecer ainda como um feérico.

— Achei que teria que fazer um feitiço em você.

— Gawin me marcou nas costas dizendo que a marca iria conter minha magia e me manter humano. Talvez seja por isso. — Ignoro o olhar de Araevin para observar os arredores.

Meu corpo treme de frio, muito frio. Penso mil vezes em voltar para a fenda só pra ter meu aquecimento interno de volta.

Concentro em gerar uma esfera de fogo nas mãos, ela surge firme e reluzente. Fico feliz por ver e sentir minha magia. Sinto ela limitada e isso deve ser coisa do selo. Bom pelo menos não estou sem nada.

— Vamos? — Acordo Araevin que parece ter se perdido em pensamentos encarando meu fogo.

— Sim, Vamos.

No caminho de volta e eu não consigo parar de pensar em como as coisas estão. Sinto medo de chegar e encontrar alguma tragédia ou algum ente querido doente. -Devem estar bem afinal não se passou tanto tempo- Alto consolação sempre funciona.

— "Este objeto acaba de perder a utilidade" — Tento imitar a voz de Araevin. Enquanto nos aproximávamos do seu carro. Está no mesmo lugar, meio empoeirado mas intacto.

Ele então me empurra sobre o carro e desfere um beijo forte. Me desmancho ali mesmo.

— Na minha mente eu sabia que só voltaria aqui com o amor da minha vida — Brinca.

Rimos e então entramos no carro. Procuro chaves mas Araevin de algum jeito faz o carro ligar assim que toca o volante. -Óbvio que o carro de um feérico não precisa de chaves-quem não sabe, estava lá escrito no manual "Como ser um feérico" que eu não li é claro.

Seguimos pelas estradas de chão e asfalto, era noite e uma chuva tinha começado a cair. Com o silêncio e o tédio não demorei encontrar o som do carro que por sorte tinha um pen drive cheio de músicas de todos os tipos. Vez ou outra encontrava uma que eu conhecia e curtia assim acabando por cantar super desafinado. Araevin ria com meus agudos horríveis e propositais proferidos pra chamar a atenção dele. Vê-lo sorrindo me deixava imensamente feliz e cada vez mais apaixonado.

~

— Amor! Amor! — Abro um olho apenas — Chegamos.

Ele exibe uma carinha tão linda de tristeza e medo. Fico encarando ele por um bom tempo até ele não aguentar e me beijar intensamente.

— Eu te amo.

— Eu também te amo — Respondo.

— Chegamos onde?

— Sua casa.

— Vem, preciso de você ao meu lado. Vai dormir aqui. — Um pequeno sorriso se abre — Comigo.

O sorriso fica grande e perfeito como nunca antes. Descemos do carro e só depois de um enorme suspiro resolvo seguir até a porta.

Por fora a casa está intacta. Não há sinal do carro de Rowan afinal devem ser altas horas da madrugada. Abro a porta com cautela e enfim entro.

O cheiro do ambiente é o mesmo, Tulipas. E este está como sempre, organizado e limpo. Dou passos apressados até a cozinha e constato não haver ninguém. Volto da cozinha pego a mão de Araevin e o guio até o segundo andar levando-o para o meu quarto. Faço um sinal de "fique" para ele e fecho a porta devagar. Ele não protestou e isso foi um alívio.

Sigo até o quarto de Laura que no corredor vem primeiro do que o dos meus pais. Me aproximo na ponta dos pés e abro só um pouquinho a porta. -Ufa- ela está ali e dormindo. Abro mais a porta e entro no quarto, me aproximo da cama onde minha pequena dorme com um semblante feliz. -Deve estar tendo um lindo sonho- Penso acariciando seus cabelos. Uma lágrima quis descer mas eu a contive junto com a vontade de abraçar ela com força. Levanto devagar, saio e fecho a porta sem emitir quase nenhum barulho. Sigo até o quarto dos meus pais e abro a porta apenas um pouco. Não costumo fazer isso pois não seria nada agradável abrir a porta e ver coisas que eu não quero nem imaginar. Eles estão dormindo tranquilos cada um de um lado da cama e meu pai como sempre todo esparramado. Mamãe reclamava sempre que ele nunca dormia como as pessoas normais. Sorrio feliz e fecho a porta. Falta apenas uma pessoa e esta não é menos importante por ter ficado por último, diga-se de passagem.

Desço as escadas escutando um respirar forte vindo do meu quarto. Araevin deve estar bravo. Chego ao quarto de Aurora e me decepciono pois a porta está trancada. Não quis pegar a chave reserva do armário, se está trancada significa que Aurora não  está ou ela mesmo trancou sabe-se lá por que.

Sigo até a cozinha, minutos depois chego ao quarto com um lanche noturno em mãos.

— Todos estão bem, só não sei de Aurora pois o quarto dela está trancado. — Araevin suspira aliviado.

— Passa logo isso pra cá — Araevin pega um dos pratos. Ignorando meu olhar de cachorro sem dono. Rimos.

Comemos e antes de dormir tranco meu quarto. Desejo me aninhar nos braços do meu namorado e não preciso de surpresas pela manhã. Só preciso de forças para encarar tudo e todos.

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Amor e Magia - O Herdeiro do FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora