Amor e Magia - O Herdeiro do Fogo

Visão de Calor

Corredores vazios e extensos seguem até a cozinha, esta é grandiosa e cheia de feéricos realizando várias atividades. O cheiro aqui é incrível e talvez seja só fome mas tudo o que vejo sendo preparado parece incrivelmente bom. As mesmas garotas que me conduziram ao quarto de Araevin nos avistaram e com passos rápidos se aproximaram sorridentes.

— Nos sirva janta, temos que sair e não há tempo para nos reunir com os mestres no banquete. — Araevin diz rígido.

Temos que sair? Ele não comentou isso em momento algum e que banquete seria esse ?

As duas sorriram pra mim com um olhar meio estranho e foram atender a ordem de Araevin.

— Explique — Falo sentando em uma mesa.

— Todos os dias um banquete é servido no salão de refeições onde os mestres e seus subordinados se reúnem. Nós não vamos hoje por que eu nunca gostei desse tipo de coisa — Araevin me olha envergonhado — Se você quiser ir...

— Não, eu não quero ir. — Falo rápido exibindo um sorriso.

Ele pare ler minha mente pois eu não me sentiria nada bem jantando com aqueles mestres estranhos e pior ainda sendo observado e procurado por todos ali como um estranho tendo que dar satisfações pra todos, seria horrível de fato.

Não demorou e as garotas serviram a janta, como feito um louco mas nada comparado a Araevin que come duas vezes uma quantidade enorme. Logo estávamos de volta andando nos corredores do castelo.

De noite, tudo do lado de fora é incrível, não muito iluminado mas também não tão escuro. Saímos do grande terreno do castelo e andamos pelas ruas, estão bem movimentadas com carruagens e feéricos de todo tipo trafegando por toda parte.

— Você gosta daqui? — Araevin me olha de lado com uma sobrancelha arqueada.

— É de tirar o fôlego, tudo tão organizado e bonito. — Falo reparando em algo muito peculiar logo à frente.

Um sorriso surge quando vejo um casal de feéricos dançando em uma praça. Cada paço cuidadosamente ensaiado com magia sendo emitida conforme os movimentos dos dois. Sinto ondas de vento e vejo muita luz, talvez esses são os elementos dos dois. Passamos por eles sem nem diminuir os passos e eu queria mas Araevin parece nem estar olhando.

— Onde estamos indo ?

— Calma já estamos chegando.

E de fato estávamos, minutos depois paramos em frente a um gigantesco prédio, de base perfeitamente redonda e o seu "corpo" forma uma espiral até o topo. Esferas de luz rodeiam a sua volta como vagalumes deixando tudo bem iluminado e magnífico.

Ao entrar fico mais extasiado ainda, um balcão luxuoso com um feérico elegante vestindo em terno preto e azul, ele tem características imponentes e nos observa com um olhar atento.

Araevin entra e vai direto as escadas, o feérico do balcão não diz nada. Seguimos subindo diversos vãos de escadas até finalmente chegar ao topo do prédio.

Surreal, eu não tenho palavras para descrever o quão lindo é ver toda a capital por cima. O ar é fresco e limpo com um certo friozinho aconchegante. Araevin se senta na cadeira de uma mesinha de ferro que ali está em meio a um pequeno jardim. Eu fico na borda com as mãos sobre o murinho de segurança. Não consigo parar de olhar pra cidade, parece em certos pontos o meu mundo mas tudo o que eu vejo é notável alguma diferença com o que eu conheço.

— Por que você me trouxe aqui ? — pergunto admirando os pulsos de luz emitidos da base daquele escudo seguindo até o topo que agora é possível ver só que muito muito alto.

— Esta torre é como um prédio humano cheia de apartamentos. É minha. Te trouxe aqui pra te ensinar uma coisa.

Araevin se levanta e se aproxima de mim parando ao meu lado, eu continuo encarando o horizonte.

— Olhe para o castelo, e se concentre nele.

Direciono o olhar para a construção e ali fico por alguns segundos.

Não vejo nada diferente do normal e eu não entendo o que Araevin quis dizer com me concentrar. Então sinto sua mão tocando a minha. Fico tenso com o toque.

Longos segundos se passam e eu sinto a magia de Araevin se reunindo na palma de sua mão pedindo para entrar. Eu permito, quando a magia entra minha visão fica preta. Me concentro em ficar calmo por mais que um pequeno desespero me incomode por estar cego.

— Veja — Fala Araevin com calma apertando mais minha mão.

A magia dele me preenche e se mistura com a minha, é tão reconfortante sentir essa dança entre o frio e o calor no meu peito gerando calafrios por todo corpo.

Pisco e quando abro os olhos novamente me assusto. Por toda nossa volta há escuridão e apenas o castelo brilha em um vermelho escuro forte. É uma visão de calor, presumo.

— Nós não compartilhamos apenas magia, Matthew, compartilhamos algumas habilidades também. O que você vê é o coração desta cidade, uma fonte pura e limpa de magia.

Minha visão começa a se ajustar voltando ao normal com um leve incômodo.

— O que tem fora deste escudo que pode fazer mal a vocês ? — É o que me vem à mente por ver que aquele "domo" deve estar ali para proteger as pessoas e talvez essa tal fonte de magia.

Araevin suspira e eu percebo que sua magia já não corre em mim e mesmo assim ele continua segurando minha mão.

— Com tudo o que existe de bom em qualquer lugar precisa existir algo ruim para manter o equilíbrio das coisas. As nove capitais lutam para manter a ordem, estabilidade e proteção das principais fontes de magia deste mundo. Araevin não faz menção de continuar.

— Proteger do que ? De pessoas como seu irmão? — Neo percebi o quão forte foi o que eu falei até Araevin soltar minha mão colocando próximo ao seu corpo.

— Pessoas COMO MEU IRMÃO não são nem uma parte das ameaças que almejam dominar uma fonte de magia pura. — Araevin fala do seu irmão com um pouco de raiva. Me sinto mal.

— Desculpa eu... — tento dizer.

— Não precisa se desculpar. — Araevin fala triste. Ele se lembra do irmão.

Tomo coragem e coloco minha mão sobre a dele dando um suspiro de alívio por ele não se desvencilhar. Meu coração bate rápido e eu até gosto de sentir essa adrenalina no corpo.

— Obrigado por me trazer aqui Araevin — Falo sério sem coragem para olhar pra ele.

Ele não diz nada então eu não contenho meu nervosismo, o trago para um abraço firme e caloroso que dura longos segundos. Nos separamos devagar e antes de nossos olhares se cruzarem eu o beijo.

Um beijo molhado com puro sentimento e vontade segue por um bom tempo parando apenas com a falta de fôlego.

Araevin logo perdeu a paciência com minhas dezenas de perguntas sobre qualquer coisa mágica e diferente que eu reparava ali de cima. Descemos e voltamos para o castelo.

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~Me sinto feliz por estar aqui, com Araevin. Mas a dor de estar traindo e deixando me corrói pouco a pouco.~

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