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Estava dormindo tranquilamente quando sinto uma mão me balançar. Viro meu corpo para o lado e tento ignorar a criatura. Meu cabelo é empurrado e sinto dentes sendo cravados no meu pescoço, a mão de Riwty, só poderia ser ele, tapa minha boca abafando meu grito.

A mordida não dura muito e a dor logo passa, mas ele lambe a ferida com movimentos circulares. O grito se transforma em um gemido e eu arqueio meu pescoço em sua direção. Feliz ou infelizmente ele para.

-Vamos dorminhoca.

-O que você quer?

Meu cérebro parece ter virado geleia, não consigo brigar com ele por ter me mordido com tanta força. Meu corpo parece levemente amolecido, quanto sangue ele bebeu? Riwty me pega no colo e ajeita meus cabelos.

-Já disse que você fica linda quando acorda?

O que tinha dado nele hoje?

-O que você quer Riwty?

-Quero te levar para conhecer a cidade.

-Estamos no meio da madrugada.

-E em que outro horário poderíamos fazer isso?

Não tinha pensado por esse ângulo. Para falar a verdade não pensava em nada, ele era mais quente que uma pessoa normal, que um humano. As mãos dele penteavam meu cabelo e eu estava me sentindo aconchegada. Eu gostava de Riwty, não sei que jeito, mas gostava.

-Tudo bem.

Ele se levantou da cama ainda comigo no colo e começou a andar em direção à janela, que foi aberta por magia.

-O que você está fazendo? Não pode estar pensando em pular.

-Shiu, você está fazendo muito barulho.

Ele realmente subiu no parapeito da janela. Eu enfiei meu rosto em sua bata e ele pulou. Não consegui evitar um gritinho e o desgraçado riu de mim. A queda foi curta, mas quase caí. Dei um tapa em seu braço com toda a minha força, o que só fez minha mão arder e ele rir de mim mais uma vez.

-Vamos.

-Sei que é madrugada, mas não posso sair de camisola.

-Você não está de camisola.

Quando olhei para baixo vi que ele falava a verdade, eu usava um vestido escuro. Ele também trocara de roupa, usava um manto marrom com um capuz que cobria suas orelhas pontudas.

-Vamos.

Concordei com a cabeça e andamos até o portão que ele abriu para mim e veio logo atrás.

-Não tem árvores nessa cidade.

-É para afastar vocês.

-Vocês humanos não podem nos afastar de verdade, já deveriam ter aprendido isso. O melhor seria apenas ficar fora do nosso caminho.

-Eu estava fora do caminho de vocês e não adiantou de muita coisa._ Falei com raiva.

-Não estava, você vivia na floresta.

-Mas nunca sozinha e nem procurando por nenhum de vocês.

-Quem mandou ser interessante o suficiente para despertar a curiosidade de um fae?

-Por que me escolheu?

Ele simplesmente deu de ombros e continuou caminhando. Criatura petulante.

-Por que você nunca se transformou em humano?

-É um tabu fae. Nenhum de nós se transforma em humano. Temos certa aversão.

-Então por que nos escolhem?

-Somos obrigados, de uma certa maneira. Por isso muitos de nós preferem evitar o mundo humano.

-Vocês têm um mundo próprio? Achei que vivessem no meio da floresta.

-Vivemos em uma dimensão paralela. Chegamos aqui através de nossas árvores sagradas.

-Então se cortarmos todas elas vocês não poderão mais vir aqui?

-Nunca deixaríamos isso acontecer. Plantamos nossas árvores com frequência, e sabe que nos vingamos de quem as corta.

-E se eu cortasse uma?

-Não poderia fazer nada por você. O melhor que eu conseguiria seria não te denunciar e se descobrissem também seria punido.

Andávamos pelas ruas fracamente iluminadas pelos lampiões. Caminhamos em uma direção diferente da que havia ido com a senhora Lint.

-Não tem nada funcionando agora, toda a cidade está dormindo.

-Sim, isso facilita nossa entrada em alguns lugares. Hoje você vai andar a noite toda, não durma.

Balancei a cabeça e continuamos andando. Passamos por uma praça que parecia bonita. Havia uma fonte com estátuas de mulheres segurando vasos. Água caía de dentro deles, era uma bonita.

Mergulhei minha mão na água do fundo e vi que ele estava coberto de moedas.

-Por que tem moedas no fundo da fonte?

-É uma tradição, as pessoas fazem pedidos e jogam uma moeda como pagamento.

Balancei a cabeça para aquela bobagem.

-Vamos faça um pedido._ Disse Riwty me estendendo um tostão.

-Você já me deve um pedido e eu sei que vai funcionar.

-Deixe de ser estraga prazeres. Você é uma turista, precisa fazer coisas bobas.

Peguei a moeda de sua mão e tentei pensar no que pedir.

-Feche os olhos.

Eu não quero desperdiçar minha vida, desejei e joguei a moeda no meio da ponte.

-Então, como se sente?

-Idiota._ Menti.

Na verdade eu me sentia melancólica por me lembrar da minha vida.

-Pare de pensar em coisas tristes, estamos vivendo uma aventura essa noite.

Sorri e voltamos a andar. Eu realmente estava vivendo uma aventura, desde que Riwty entrou na minha vida eu vivenciei coisas que nunca tinha imaginado.

AceitoWhere stories live. Discover now