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A coruja veio planando até parar em sua forma de homem no chão. Ele era branco como tinta e o cabelo trançado até a cintura da mesma cor. Seus olhos eram amarelos, as cores combinação com sua forma animal, assim como Riwty. Sua túnica branca aumentava a impressão fantasmagórica que ele gerava, mas era tão lindo quando os outros dois faes que eu já tinha visto.

-Olá.

-Boa noite. Em que posso te ajudar?

-Meu nome é Ellie, prazer em te conhecer.

O fae apenas balançou a cabeça. Tentei não ficar desapontada com sua expressão fria.

-Tinha falado com Riwty que iríamos fazer uma proteção em volta da taverna. Ele fez com que eu possa usar algum tipo de mágica, mas preciso de alguma ajuda.

Sua sobrancelha subiu um pouco ao ouvir o que falei, mas não sabia sobre o que era. Ele apenas assentiu mais uma vez, seu silêncio ligeiramente incômodo.

Ele encostou em meu braço, suponho que era para nos deixar invisíveis, e andou comigo até a taverna.

- faça um pequeno corte em seu dedo e desenhe um círculo na porta, dentro dele um triângulo seguido por um quadrado por fora de uma espiral. Depois te direi algumas palavras para repetir.

Tentei montar a imagem na cabeça, ele não parecia do tipo que se repetia e fiz o desenho, como não houve crítica, assumi que fiz certo. Então começamos uma ladainha que demorou mais de quinze minutos. Quando estava na última frase, o símbolo começou a brilhar em azul.

-Mais alguma coisa?

-Preciso repetir isso na escola da minha irmã e ainda não decorei o cântico.

Apesar de não haver mudança na sua expressão, podia sentir que ele já estava irritado comigo. Ainda assim, o fae apenas balançou a cabeça e me seguiu. Talvez devesse contar o números de acenos que ele faria até o fim da noite.

Repetimos o mesmo ritual na escola da minha irmã, com a diferença de que precisei fazer o símbolo duas vezes pelo tamanho do prédio. Quando ia agradecer ao fae pela ajuda ele simplesmente voltou a ser uma coruja e voou para um galho de árvore, então voltei para casa sem me preocupar mais com ele.

Acordei na manhã seguinte decidida a conversar com Pá sobre Richie. Por causa disse fiquei distraída durante o dia todo e inclusive queimei a mão enquanto tirava um bolo do forno.

-Você está bem, Ellie?

-Sim, só encostei um pouco a mão na forma, nada demais.

-A distância dele afeta tanto assim?

-Bastante, mas nem é esse o problema. Preciso ter uma conversa importante hoje e estou nervosa.

-Quer falar sobre isso?

-Não.

Percebi que fui muito incisiva e tentei dar um sorriso, Beto sempre foi gentil comigo.

Quando o sino tocou, informando a chegada de outro cliente, fui para o balcão esfregando o centro do meu peito, que incomodava mais que ontem. Talvez Riwty tivesse ficado ainda mais longe, seriam duas longas semanas.

Olhei para frente e vi Felipe, estava limpo e sóbrio. Tentou sorrir para mim, mas pareceu triste. Ele olhou para os lados e me entregou um pequeno embrulho.

-Não acho uma boa ideia, Felipe.

-Por favor, eu mesmo fiz.

-Obrigada.

Ele sorriu e se despediu de mim, nem mesmo comprou um pão. Senti meu coração bater mais rápido, agora eu até pensava como o fae.

Abri o saquinho de pano e encontrei um gato gordo esculpido em madeira, só que madeira prateada. Deixei o objeto cair como se queimasse. Ao ouvir o barulho Beto veio até mim.

-Aconteu alguma coisa? Pensei ter ouvido a voz do Felipe, ele fez alguma coisa?

Apontei para o chão, onde o enfeite prateado brilhava. O padeiro se abaixou e pegou o animal esculpido. Seus olhos se arregalaram e ele se virou para mim como se eu tivesse alguma resposta.

-Você não pode jogar isso fora agora, estão desconfiando da presença de um aqui.

-Isso deveria ser motivo suficiente para me livrar disso. Eu não sou daquela igreja, não sei me defender de seres incrivelmente poderosos. Não quero que fiquem contra mim.

Beto embrulhou o entalhe no pano em que veio e passou várias camadas de papel de pão por cima antes de colocar escondido em uma prateleira.

De onde veio aquela ideia ridícula? Felipe havia perdido o juízo.

O resto do dia foi extremamente desconfortável e estressante. Beto e eu estávamos no limite por ter aquela declaração de guerra ali. Não sabia se os fae podiam sentir aquela madeira ou só vê-la e o meu estava há dias de distância.

-Você vai encontrar o Felipe hoje?

-Depois do que aconteceu era melhor que ele nunca mais aparecesse na minha frente.

-Ele realmente traz muitos problemas.

Balancei a cabeça, problema era eufemismo.

-Ellie, o que vai fazer com o entalhe?

-Vou levar para casa.

-Tem certeza?

-É o melhor que posso fazer, o lugar mais seguro de outros faes também.

-Vou te acompanhar então.

Fechamos a padaria e Beto me levou para casa. Os olhares e cochichos se intensificaram quando chegamos perto da minha casa, já que todos sabiam que ninguém estava morando lá esses dias.

Pedi para que ele ficasse do lado de fora e coloquei o gato em um canto escondido no meu quarto. Se Felipe perguntasse o enfeite estaria guardado.

-Vou voltar para a taverna, Beto.

-Vai continuar morando lá?

-Sim e vou ver com minha irmã mais nova se ela aceita se mudar de vez para lá, ou pelo menos enquanto a casa do meu cunhado não é reconstruída.

Eu precisava fazer isso e tirar Mariane de perto de Jhon, o que ele faria se descobrisse que sua cunhada era uma transviada? Bem, ele já achava que a outra era uma puta. De todo jeito era melhor afastar os dois. Se ela não aceitasse tentaria voltar com ela para casa.

Meus pensamentos iam tão longe que não percebi ter chegado à taverna até Pablo me chamar.

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