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O dia amanheceu cinzento, nuvens carregadas cobriam o céu e um vento cortava as folhas das árvores. Um ótimo momento para viajar. Só esperava que não chovesse muito, a carroça bem podia virar com aquele tempo.

-Miau.
(O dia está lindo, não acha?)

Olhei para o gato e fiz uma cara de deboche, ele respondeu piscando um olho só.

-Como vamos viajar com esse clima? Será que o charreteiro vai adiar a viagem?_ Perguntou Ester andando de um lado para o outro.

-Espero que não, não quero ficar mais tempo nesse lugar.

-Mas vai ser muito perigoso.

-Vai ser o que a sorte quiser.

-Desde quando começou a acreditar em alguma coisa? Você sempre foi cética.

-Desde que tudo na minha vida deu tão errado que só podia ser obra de alguém, tantas desgraças com uma mesma pessoa só poderiam ser planejadas.

-O que deu de tão errado na sua vida?

-Você não faz nem ideia.

-Realmente, você não me conta.

-Você nunca me deu espaço para contar. Sempre me julgou como errada sem me escutar, então decidi não contar.

Ester arregalou os olhos e depois olhou para baixo. Seu rosto ficou um pouco vermelho, mas ela virou de costas para mim e foi até a porta.

-Vou ver o que foi resolvido sobre a viagem.

Não respondi. Sentei na cama e tapei os olhos com as mãos.

-Você está certa.

-Em quê?_ Perguntei para Riwty sem abrir os olhos. Não sabia porque ele havia se transformado, será que ele não gostava da forma de gato?

-Em acreditar na sorte e em ter dito aquilo para sua irmã, ela precisava ouvir algumas verdades. Além do mais, é sempre bom ver lavação de roupa suja.

-Tem algum momento em que você não se divirta às minhas custas?

-Já que estou preso a você posso pelo menos me divertir.

-Mas você disse que me escolheu.

-Escolhi.

-Então não é culpa minha você estar aqui.

Seu rosto ficou mais sério.

-Eu acredito que seja.

-Não faz o menor sentido.

-Não era um bom momento para isso ter acontecido, como deve ter percebido pelo que Syara falou.

-Então por que fez isso agora?

-É muito complicado, não é totalmente uma escolha, está mais para uma compulsão.

-Como assim?

Riwty pareceu não gostar de ter falado aquilo então simplesmente ignorou minha pergunta.

-Riwty, você me deve uma explicação?

Ele franziu o cenho e pareceu ligeiramente indignado.

-Por que eu deveria?

-Porque eu fui arrastada para uma escolha sua, sem ter pedido nada.

-Infelizmente as coisas funcionam assim. Eu não estou disposto a te explicar nada, então você aceita o que aconteceu sem questionar mais ou procura outro fae para responder suas perguntas. Quem sabe Syara te ajuda.

Bufei de raiva e joguei meu travesseiro em Riwty. Ele se transformou em Bolinho e o objeto acertou a parede.

-Miau
(Nem perca seu tempo tentando)

O gato começou a lamber a pata de uma maneira indiferente. Parecia que eu havia desaparecido.

Eu estava irada, como ele podia fazer isso? Por que eu era obrigada a conviver com uma escolha dele? Nem o lado positivo de ter um fae estava acontecendo com frequência, ele tinha me feito apenas um favor. Bem, um favor que contasse, porque ele me ajudou com os vestidos, a festa e me salvou de um estupro.

Porém, eu perdi minha privacidade, aparentemente uma fae me quer morta, o próprio Riwty não está feliz em estar preso a mim e eu corro o risco de ser descoberta e morta.

Enfiei a cara no colchão e foi assim que minha irmã me encontrou.

-Eu não faria isso se fosse você, não sabemos se eles trocam os lençóis.

Virei de barriga para cima e olhei para ela.

-Vamos sair em 10 minutos.

Coloquei Bolinho em cima do baú e saí. Descer as escadas foi uma tarefa quase impossível, mas de algum modo eu cheguei ao primeiro andar.

-Voce bem que poderia ter me deixado passar primeiro. Precisei ficar te esperando.

Revirei os olhos e torci para não esganar minha irmã. Bolinho pareceu bufar também. Só que em parte aquilo era culpa dele, se ele não fosse um gato tão pesado seria muito mais fácil carregar o baú. Por que ele era um gato tão gordo se como fae ele tinha um corpo musculoso? Como coelho ele também possuía um corpo normal de coelho.

Pá já nos esperava em frente à carroça. Os carteiros também estavam ali. A única faltando era a velha ranzinza.

-Onde está aquela senhora?

-Está muito doente, ocupou o banheiro a noite toda, para a raiva dos hóspedes. Não vai conseguir viajar.

Senti que Bolinho tinha algo com aquilo e quando eu olhei para ele o gato piscou e começou a ronronar. Não poderia dizer que sentiria falta dela.

AceitoWhere stories live. Discover now