Aceitação

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Cheguei na festa de aniversário do Tiago sem demonstrar muita animação, cumprimentei a todos e fui direto atrás de algo alcoólico para beber, naquele momento só o álcool iria aliviar tudo o que eu estava sentindo. Peguei um copo coloquei gelo e vodka para logo procurar o lugar mais afastado para sentar. Eu realmente estava vivendo em tempos complicados, minha vida estava uma bola de neve, parecia que eu não fazia nada direito.

Comecei a beber rapidamente, eu já não queria mais pensar em nada pois eu estava me magoando, me irritando com a confusão que estava em minha cabeça, eu só queria esquecer tudo.

A noite passava e tudo o que eu queria era mandar mensagem para Beatriz, eu não conseguia ficar um segundo sem falar com ela, porém não foi o que fiz. Levantei da cadeira para colocar mais vodka no copo e para minha surpresa encontrei Carla, Enzo e Bruno no caminho, olhei para eles desolada, era notável a minha tristeza.

: - Você está bem? Você ficou longe da gente o tempo inteiro, por que você está tão estranha? Olha a sua situação, essa não é você. - Carla falava preocupada. - Não fomos conversar com você porque estávamos respeitando o seu momento, mas porra, já está passando dos limites.

Eu não tinha escapatória a não ser chorar e sair correndo dali, pude perceber a confusão atrás de mim entre meus amigos, eu estava criando tudo aquilo, a minha bagunça já estava afetando outras pessoas, tudo isso porque eu era uma fraca para aceitar meus fatos, era como se tudo desabasse sobre mim.

Adentrei o carro apressadamente ligando o som em qualquer música, o silêncio estava angustiante, eu estava perdendo Beatriz, eu estava magoando meus amigos, eu estava mentindo para os meus pais, tudo escapava entre os meus dedos.

***

Estacionei o carro na praia, andei em direção as ondas e decidi entrar no mar. Eu boiava enquanto olhava o céu, agora só existia o barulho da água, a presença da lua e das estrelas, o céu estava lindo. Eu estava perdida em pensamentos, tudo girava por causa do efeito do álcool, por um momento eu sabia que para resolver tudo eu precisaria encarar a verdade, eu precisaria deixar de ser uma covarde, eu estava maltratando a todos inclusive a mim.

Comecei a sentir a madrugada fria, sai da água fazendo o meu corpo enrijecer com o vento que batia, mas eu não quis ir embora, eu queria continuar ali apreciando tudo o que a noite oferecia, sentei na areia e chorei novamente, eu queria gritar, por que a vida me escolheu para sofrer assim? Por que eu tinha que ser diferente? Por que logo eu? Eu não queria ser homossexual mas isso por acaso tem escolha? Seria mais fácil se eu gostasse de garotos pois eu viveria sem ter que enfrentar certos preconceitos, era difícil para mim encarar comentários ou atitudes maldosas, era difícil para mim tudo o que estava acontecendo, mas se eu não conseguia mudar o fato, o jeito seria encará-lo de frente, eu precisava ter amor próprio, eu precisava sentir orgulho de mim e do que eu era, eu precisava escolher viver honestamente comigo mesma.

Levantei e fui em direção ao carro, percebi que o som ainda estava ligado, pois eu tinha esquecido de o desligar, o celular mostrava várias mensagens e ligações, mas eu não estava nem aí, liguei o carro, eu já não sabia mais para onde ir então decidi ir para o meu apartamento.

***

Cheguei em casa entre lágrimas, o lugar estava pouco iluminado, não me preocupei em acender a luz, minha roupa estava molhada, mas eu não me importei, cai no sofá sentindo um alivio nas pernas. Eu só pensava em como eu era uma covarde, eu precisava ser feliz, eu precisava pelo menos tentar enfrentar os fatos sem medo.

Foi então que tudo a minha volta pareceu ficar em câmera lenta, do nada as coisas começaram a fazer sentindo, uma última lágrima escorreu sobre o meu rosto pois uma coragem absurda tomou conta de mim e com ela um sorriso, eu consegui encontrar forças para encarar tudo, não sei de onde ela surgiu, mas foi algo extremamente pessoal, talvez fosse o efeito do álcool ou talvez não, e enquanto eu fitava o teto, tive orgulho em pensar que sim eu iria ser feliz, sem medo.

: - Eu sou lésbica, eu me aceito, eu me amo. - Falei baixinho transparecendo um leve sorriso no meu rosto, falei sincera, eu precisava acreditar nisso.

***

Acordei com batidas frenéticas na porta, quem seria? Pisquei varias vezes até me situar onde eu estava, percebi minha roupa úmida o gosto de vodka na boca e principalmente uma forte dor na garganta. Levantei devagar e abri a porta.

: - Você está maluca? A gente procurou você por todo lugar, te ligamos e nada. - Fernanda falava preocupada, ao lado dela estava Bruno e Enzo.

: - Que horas são? - Perguntei roucamente, eu estava extremamente confusa.

: - 6 horas da manhã, por que você sumiu? Ficou maluca? Você vai para a faculdade hoje? - Fernanda falava sem parar de gesticular.

: - Me desculpem, aconteceram umas coisas, depois conversamos pode ser? Vou tomar um banho.

Fernanda não falou nada, apenas semicerrou os olhos para logo sair bufando do apartamento, logo atrás dela Bruno e Enzo. Depois eu iria conversar com eles, eles iriam entender.

Adentrei o banheiro e apesar das dores pelo corpo eu me sentia mais leve, era como se eu respirasse em alívio, eu estava disposta a falar para qualquer pessoa que eu era lésbica, eu estava bem comigo mesma, eu havia me aceitado e isso era o que importava.



*Notas Finais:

Perdoem os erros! Valeu!   :)

Segredos EstranhosWhere stories live. Discover now